O presidente Alberto Fernández afirmou nesta quarta-feira (27) que a Argentina “não vai se ajoelhar” diante do Fundo Monetário Internacional (FMI) e condicionou qualquer acordo com o organismo da banca internacional para renegociar uma dívida de US$ 44 bilhões a que “não se coloque em risco o futuro dos argentinos”.
Rodeado por mais de 30 mil manifestantes, na cidade de Morón, próxima a Buenos Aires, Fernández destacou a relevância de reafirmar a soberania nacional em um ato de homenagem ao ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), no 11º aniversário da sua morte.
Único palestrante em um estádio lotado, Fernández evocou Kirchner, que após assumir uma Argentina inadimplente, renegociou uma dívida de quase US$ 100 bilhões com credores privados e liquidou em 2006 com um pagamento uma dívida de US$ 9,8 bilhões com o FMI, para o qual a Argentina voltou novamente em 2018.
O presidente, que deve se reunir com a chefe do FMI, Kristalina Georgieva, durante o fim de semana em Roma por ocasião da Cúpula do G20, insistiu que não se fará um acordo que condicione a política econômica do país ou o interesse dos argentinos.
No ato, o presidente exigiu que o FMI “se responsabilizasse pelos danos que causou” ao conceder ao governo do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) um empréstimo de US$ 57 bilhões em 2018, número recorde para a agência, dos quais a Argentina recebeu US$ 44 bilhões. Ao assumir o cargo em dezembro de 2019, Fernández renunciou aos desembolsos pendentes.
“Gostaria que os jornais (críticos) da Argentina, em vez de me pedirem que apressasse um acordo com o FMI, em todo caso, dissessem ao Fundo que se responsabilizasse pelo dano que causou ao dar à Argentina uma dívida que mão se poderia pagar”, destacou.
“Foi preciso que Alberto, em seu papel de presidente, acabasse de mostrar claramente para onde vamos. Seu discurso acaba com todas as especulações. Nesse belo evento de massa, o presidente concentrou todas as suas forças em um único discurso e segue adiante sua viagem à Europa”, garantiram fontes do oficialismo ao jornal Página12.
Ao lado do chefe de Estado na homenagem a Néstor Kirchner estiveram o governador da Província de Buenos Aires, Axel Kicillof; o presidente da Câmara dos Deputados, Sergio Massa; o chefe da coalizão governista Frente de Todos (FDT) de Deputados, Máximo Kirchner; governadores, ministros, prefeitos – incluindo o anfitrião Lucas Ghi-, sindicalistas, as Avós da Praça de Maio – representadas por Estela de Carlotto – e o ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel.
A economia argentina começa a dar sinais de recuperação após mais de três anos de recessão agravada pela pandemia e para ampliar o investimento no mercado interno, busca sanar a sangria do acordo de 2018 por outro que preserve o interesse nacional.
Conforme estimativas do Ministério da Economia, submetido à cartilha atual, o país deveria pagar ao FMI, entre juros e capital, cerca de US$ 18,34 bilhões em 2022, US$ 19,58 em 2023 e US$ 4,93 em 2024.