Quatro meses após denunciar esquema de corrupção no Ministério da Saúde em compra de vacina Covaxin, Luis Ricardo Miranda deixa o país sob proteção da Polícia Federal
Testemunha da CPI da Covid-19 no Senado, o servidor público, concursado do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda deixou o Brasil na noite desta quinta-feira (28). Ele ingressou no programa de proteção a testemunhas da Polícia Federal porque, segundo o deputado Luis Miranda (DEM-DF), seu irmão, vinha recebendo ameaças de morte.
O deputado disse, ainda, que Luis Ricardo foi exonerado do cargo de chefe da Divisão de Importação do Ministério da Saúde após prestar depoimento à CPI da Covid-19, em junho.
“Por medo de represálias meu irmão não me falou nada e já está na custódia do programa de proteção a testemunhas”, afirmou o deputado ao Estadão. No Twitter, Luis Miranda adotou estilo mais contundente. “O Brasil não é como nos quadrinhos, onde o bem sempre vence! Meu irmão continuou sendo atacado pelo governo, foi exonerado, por conta das ameaças teve que entrar para o programa de proteção à testemunha e sair do país!”, escreveu ele na rede social.
E concluiu: “@jairbolsonaro cria vergonha na cara, você sabe a verdade!”
ENTENDA O FATO
Os irmãos Miranda – Luis Ricardo Miranda, servidor público, e o deputado Luis Miranda – protagonizaram um dos momentos mais tensos da CPI da Covid-19 no Senado há quatro meses, quando acusaram Jair Bolsonaro de ignorar denúncia feita por eles de que havia esquema de corrupção no Ministério da Saúde para compra da vacina indiana Covaxin.
Em duas ocasiões, eles afirmaram à CPI que contaram tudo a Bolsonaro em reunião no Palácio da Alvorada, em 20 de março. Na conversa, o presidente teria dito que isso seria “rolo” do deputado Ricardo Barros (PP-PR), ex-ministro da Saúde e líder do governo na Câmara.
Um dos expoentes do Centrão, Barros negou participação no negócio.
Os depoimentos prestados pela dupla à CPI e à PF serviram para revelar informações importantes sobre a empresa Precisa Medicamentos, que intermediava a compra da vacina Covaxin.
Uma nota fiscal (invoice) exigia US$ 45 milhões de pagamento antecipado em uma offshore, a Madison Biotech, e depois se descobriu que a quantidade de doses do imunizante era menor do que vinha sendo cobrado. Nada disso constava do contrato.
Após as revelações de Luis Ricardo e do irmão deputado, o contrato foi cancelado pelo Ministério da Saúde.
INQUÉRITO NA PF
A Polícia Federal abriu inquérito para apurar se houve prevaricação de Bolsonaro, ou seja, se ele deixou de tomar as providências para esclarecer as suspeitas após ser informado sobre o esquema.
O caso Covaxin também é alvo de investigações do TCU (Tribunal de Contas da União) e da CGU (Controladoria-Geral da União).
Responsável pelo programa de proteção a testemunhas, a PF não comentou o caso, sob o argumento de que as informações sobre segurança dada aos colaboradores são sigilosas.
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