A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Globo e lideranças políticas, como o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), condenaram as agressões a jornalistas brasileiros em Roma, quando cobriam a agenda de Bolsonaro, e pedem punições.
A ABI, em carta divulgada pela internet, responsabilizou Jair Bolsonaro pelas agressões dos seguranças italianos contra os jornalistas brasileiros.
“Com o seu comportamento avesso à democracia e com ataques constantes à imprensa e ao trabalho dos jornalistas, o senhor estimula essas agressões. Assim, torna-se também responsável por elas”, apontou a entidade.
O grupo de jornalistas começou a ser agredido depois que Leonardo Monteiro, correspondente da Globo, perguntou a Jair Bolsonaro por que ele não tinha participado de alguns eventos com os líderes mundiais que estão na reunião do G20.
“É a Globo? Vocês não têm vergonha na cara, rapaz”, respondeu Bolsonaro. Logo em seguida, um segurança empurrou Leonardo Monteiro e deu um soco em sua barriga.
Jamil Chade, do UOL, começou a filmar a violência contra os repórteres para tentar identificar os seguranças, mas um deles torceu seu braço e tomou seu celular. Depois da confusão, o celular foi encontrado em um canto da rua.
Antes da saída de Jair Bolsonaro da embaixada brasileira em Roma, a jornalista Ana Estela de Sousa Pinto, da Folha de S.Paulo, foi empurrada por um outro segurança de Bolsonaro.
A Associação Brasileira de Imprensa também ressaltou que nenhum membro da comitiva de Bolsonaro tentou impedir as agressões. “Ao contrário, continuaram hostilizando os jornalistas brasileiros”.
A carta também diz que as agressões à imprensa “só aumentam seu isolamento [de Bolsonaro] e o repúdio que o senhor recebe da comunidade internacional. Pior, o isolamento não é só seu. Atinge e envergonha o país que o senhor representa. O senhor está tornando o Brasil um pária na comunidade internacional, presidente”.
A Globo também responsabilizou Jair Bolsonaro. “É a retórica beligerante do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas que está na raiz desse tipo de ataque. Essa retórica pode ter consequências ainda mais graves. E o responsável será o presidente”, afirmou a empresa.
A nota divulgada “condena de forma veemente” as agressões e presta “irrestrita solidariedade” aos jornalistas que foram violentados. Um dos jornalistas da equipe da Globo levou um soco no estômago.
“Quem contratou os seguranças? Quem deu a eles a orientação para afastar jornalistas com o uso da força? Os responsáveis serão punidos?”, questionou.
BBC BRASIL
A BBC Brasil também relatou que seu repórter Matheus Magenta “foi alvo de tratamento violento por parte da segurança de presidente brasileiro enquanto cobria o G20 em Roma”.
“Matheus Magenta foi empurrado, segurado e recebeu golpes nas costas enquanto tentava fazer perguntas a Jair Bolsonaro durante uma caminhada improvisada do presidente com apoiadores pelas ruas de Roma no domingo à noite” (Veja nota na íntegra no final da matéria).
RANDOLFE ACIONA MINISTÉRIO PÚBLICO
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) informou que vai acionar o Ministério Público Federal (MPF) para que Jair Bolsonaro seja processado “por danos moral e coletivo por ameaça à liberdade de imprensa”, em função das agressões sofridas pelos jornalistas brasileiros em Roma.
Randolfe também pedirá que Bolsonaro seja multado e que seja obrigado “a adotar todos os meios para assegurar a integridade dos jornalistas durante a cobertura de todos os atos”.
O senador, que foi vice-presidente da CPI da Pandemia, disse que as agressões são “inaceitáveis” e “passaram de todos os limites”.
“Não é aceitável aos democratas ficar somente em notas de repúdio ou de solidariedade”, continuou.
RENAN CALHEIROS: BOLSONARO FOI CONTAR MENTIRAS
O relator da CPI, Renan Calheiros, publicou em suas redes sociais que “Bolsonaro foi passear, posar para fotos e contar mentiras em Roma. Pensava que o G20 seria palco para suas molecagens. Ignorado pelos líderes, virou piada na mídia mundial e partiu para a ignorância”.
“Solidariedade ao jornalista agredido e repúdio a mais esse vexame internacional”, acrescentou.
FLÁVIO DINO SE SOLIDARIZA COM JORNALISTAS
O governador do Maranhão, do PSB, prestou “solidariedade aos jornalistas agredidos por uma comitiva de arruaceiros que está, mais uma vez, envergonhando o Brasil perante o mundo”.
“Nosso país está cheio de problemas, enquanto tal comitiva se dedica a passeios e arruaças de rua na capital de outro país. Absurdo”.
DEPUTADOS REPUDIAM AGRESSÕES
O deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) caracterizou as agressões como “graves e inaceitáveis”.
“As agressões são resultado dos discursos de ódio de Bolsonaro, que estimula a violência contra jornalistas para tentar intimidar os profissionais e fragilizar a liberdade de imprensa. Esses ataques têm que ser veementemente repudiados por todos nós que defendemos a democracia”, afirmou.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) acredita que é Bolsonaro, “na prática”, quem “autoriza e induz agressões à imprensa”.
“É um escândalo, um crime contra a Constituição”, pontuou.
A deputada Tábata Amaral (PSB-SP) falou que as agressões são “abomináveis”. “Jair Bolsonaro leva ao exterior todas as suas práticas agressivas e antidemocráticas, que envergonham os brasileiros e ferem a imagem do nosso país. Minha solidariedade aos profissionais da imprensa”, publicou.
Carta aberta da ABI a Jair Bolsonaro
01/11/2021
Mais uma vez o senhor envergonha o Brasil, presidente.
Repudiado por governantes do mundo inteiro, em cada evento de chefes de Estado o senhor mostra que o País foi relegado a uma situação de um pária na comunidade internacional.
Na reunião do G-20 neste fim de semana, mais uma vez, o senhor foi obrigado a ficar pelos cantos, como aqueles convidados indesejados a quem ninguém dá atenção.
Como reação, age como um troglodita, hostilizando e estimulando agressões a jornalistas que lhe fazem perguntas corriqueiras.
É de dar vergonha.
Na cerimônia de abertura do evento do G-20, no sábado, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, cumprimentou os chefes de Estado e de governo com um aperto de mão, mas o evitou claramente, fato devidamente registrado pela imprensa italiana. Não quis ser fotografado ao seu lado.
Mas as coisas não ficaram por aí.
Percebendo que era quase um penetra na festa, o senhor preferiu não aparecer para a foto oficial com os estadistas do mundo inteiro. Sentiu a rejeição generalizada.
Tampouco sentiu-se à vontade para participar do passeio organizado pelo governo italiano para os líderes do G20, que tiraram fotos jogando moedas na Fontana di Trevi, tradicional ponto turístico de Roma.
Mas o vexame e a vergonha foram maiores. Não pararam por aí.
Seus seguranças agrediram jornalistas brasileiros e roubaram seus equipamentos em represália a perguntas simples sobre as razões pelas quais o senhor não cumpriria a agenda comum aos demais chefes de Estado.
Repórteres da TV Globo e do jornal “Folha de S. Paulo” e um colunista do Uol foram à delegacia de polícia formalizar queixa das agressões praticadas por seus seguranças. Foi, talvez, um acontecimento inédito.
Mesmo assim, o senhor e os demais membros de sua comitiva, aí incluídos representantes do Itamaraty, foram incapazes de uma palavra de desculpa aos profissionais que estavam apenas trabalhando. Ao contrário, continuaram hostilizando os jornalistas brasileiros.
A ABI mais uma vez faz o registro: com o seu comportamento avesso à democracia e com ataques constantes à imprensa e ao trabalho dos jornalistas, o senhor estimula essas agressões. Assim, torna-se também responsável por elas.
E, como numa bola de neve, elas só aumentam seu isolamento e o repúdio que o senhor recebe da comunidade internacional.
Pior, o isolamento não é só seu. Atinge e envergonha o país que o senhor representa.
O senhor está tornando o Brasil um pária na comunidade internacional, presidente.
Tenha compostura.
Paulo Jeronimo
Presidente da Associação Brasileira de Imprensa
Nota da Globo
A Globo condena de forma veemente a agressão ao seu correspondente Leonardo Monteiro e a outros colegas em Roma e exige uma apuração completa de responsabilidades.
Quem contratou os seguranças? Quem deu a eles a orientação para afastar jornalistas com o uso da força? Os responsáveis serão punidos? A Globo está buscando informações sobre os procedimentos necessários para solicitar uma investigação às autoridades italianas.
No momento, ficam o repúdio enfático, a irrestrita solidariedade a Leonardo Monteiro e demais colegas jornalistas de outros veículos e uma constatação: é a retórica beligerante do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas que está na raiz desse tipo de ataque.
Essa retórica não impedirá o trabalho legítimo da imprensa. Perguntas continuarão a ser feitas, os atos do presidente continuarão a ser acompanhados e registrados. É o dever do jornalismo profissional. Mas essa retórica pode ter consequências ainda mais graves. E o responsável será o presidente.
Nota da BBC
O jornalista da BBC News Brasil, Matheus Magenta, foi alvo de tratamento violento por parte da segurança de presidente brasileiro enquanto cobria o G20 em Roma.
Matheus Magenta foi empurrado, segurado e recebeu golpes nas costas enquanto tentava fazer perguntas a Jair Bolsonaro durante uma caminhada improvisada do presidente com apoiadores pelas ruas de Roma no domingo à noite.
A BBC condena fortemente qualquer tipo de violência contra a imprensa e insiste que o governo brasileiro assegure a segurança de jornalistas no desempenho de sua função no espaço público.