Com sete candidatos opositores presos, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, se elegeu neste domingo (7) para o quarto mandato consecutivo, depois de 14 anos no poder. O ex-guerrilheiro, que também governou o país centro-americano em 1980, logo após a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) ter deposto em 1979 o ditador Anastasio Somoza, disputou com outros cinco candidatos completamente desconhecidos e considerados colaboradores do governo.
Com 49,25% dos votos apurados, Ortega vence até o momento com 74,99% dos eleitores. Em segundo lugar, com 14,4%, está Wálter Espinoza, do Partido Liberal Constitucionalista (PLC).
Conforme o Observatório Cidadão Urnas Abertas, o índice médio de abstenção foi de 81,5%, havendo cidades em que o percentual de eleitores que se somaram à conclamação da oposição pelo boicote alcançou aos 84%. A jornada vigiada por 30 mil militares e policiais, em que os funcionários públicos estavam obrigados, foi marcada pela “perseguição e o assédio”, noticiou o site Confidencial. Na manchete, as palavras da professora “Catalina”: “Não ia manchar minha consciência numa farsa”. Ela mostrou seu dedo polegar (sem a marca de tinta dos que foram às urnas) com orgulho, “apesar de que pode vir a ser despedida quando lhe exijam a prova de apoio a Ortega”. Para Catalina, a jornada de domingo somente é uma prova de “autoproclamação” do “comandante”, que há anos renegou os princípios.
Ortega cumpre 76 anos na próxima quinta-feira e assumirá o poder ao lado da esposa, Rosario Murillo, na vice-presidência, para um mandato de mais cinco anos.
As imagens divulgadas por inúmeros sites comprovam o vazio das ruas e das urnas, com a população sintonizada com a convocatória pelo boicote. Desta forma, ficou bastante comprometida a participação dos 4.4 milhões de eleitores – que também deveriam ter escolhido 92 deputados à Assembleia Nacional e 20 representantes para o Parlamento Centro-americano (Parlacen).
Considerado “completamente manipulado” e “não democrático” pela comunidade internacional, o processo eleitoral aconteceu três anos e meio depois dos protestos de 2018 para exigir a renúncia de Ortega, nos quais grupos de defensores de direitos humanos identificaram ao menos 328 mortos, o que aprofundou o país de 6,5 milhões de habitantes em uma profunda crise política.
Neste ano, a partir de junho, Ortega desatou um processo persecutório em que três partidos foram proscritos, sete aspirantes à presidência e outros 32 ativistas, políticos, empresários e jornalistas detidos, somando-se a outros 120 oposicionistas que estão presos desde 2018.
Na Costa Rica, onde se encontram exilados muitos nicaraguenses, houve uma grande marcha em São José com as palavras de ordem “Viva a Nicarágua livre” e “Ortega, escuta, estamos na luta”. Entre outras cidades, ocorreram mobilizações similares em Barcelona e Guatemala.