Em setembro, venda do comércio varejista recuou 1,3%. Nos supermercados caiu 1,5%
Sob a pressão da inflação de dois dígitos que corrói a renda das famílias e a queda na renda, as vendas do comércio varejista brasileiro caíram -1,3% em setembro e fecharam o 3º trimestre do ano no vermelho (-0,4%), informou na manhã desta quinta-feira (11) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na comparação com setembro do ano passado, quando ainda não existia vacina contra a Covid-19 e a economia do país ainda sofria as consequências das medidas de restrição, as vendas varejo cederam -5,5%. Em 2020, a queda no poder de compra da população devido ao desemprego em massa foi amortecida pelo pagamento das parcelas do Auxílio Emergencial, que seguraram as vendas de alguns setores do comércio, como supermercados. Com o resultado de setembro, o varejo retrocedeu e se apresenta hoje -0,4% mais baixo que nos níveis pré-pandemia.
“O componente que joga o volume para baixo é a inflação. As mercadorias subiram de preço”, resume o gerente da pesquisa pelo IBGE, Cristiano Santos. O pesquisador adiciona que, no caso das vendas de hiper e supermercados, a variação da receita do mês 0,1%, enquanto o volume de vendas teve queda bem mais expressiva, de -1,5%. A inflação dos alimentos penaliza os brasileiros há meses ininterruptos. Acumulando alta de mais de 20% em 12 meses, é uma das causas para a população ter cortado ou deixado de consumir alguns produtos.
O setor que apresentou a queda mais expressiva no volume de vendas foi o de combustíveis e lubrificantes, -2,6% em outubro sobre setembro. A gasolina, por exemplo, já acumula alta de preços da ordem de 42,72% em 12 meses.
A pesquisa mensal do varejo também identificou queda de -1,1% nas vendas de tecidos, vestuários e calçados; de -3,5% de móveis e eletrodomésticos; e variação nula de 0,1% em artigos farmacêuticos e perfumaria. Todos são termômetros do consumo das famílias e refletem, além da carestia, o desemprego e o alto nível de informalidade.
Considerando o varejo ampliado, que inclui no rol de atividades as vendas de veículos e materiais de construção, apresentou queda de -1,1% em setembro ante agosto e de -4,2% na comparação com o mesmo mês de 2020.
As vendas de veículos, motos, partes de peças caiu -1,7% na comparação mensal. No caso de materiais de construção, a queda foi de -1,1%.
Números recentes mostram a tragédia do desemprego e queda na renda. Com cerca de 14 milhões de desempregados, aumenta o número dos trabalhadores que buscam trabalho por conta própria, precário, sem carteira assinada, sem qualquer direito. Segundo pesquisa do iDados, cerca de 50% da população ocupada estão na informalidade. O maior percentual da década. De 2019 para os dias atuais, mais da metade dos trabalhadores por conta própria, que vivem de “bico”, tem remuneração menor do que o salário mínimo.
Com a inflação disparando com aval do governo Bolsonaro, puxada pela alta nos preços dos combustíveis atrelados ao dólar, elevando o preço do gás de cozinha, do aluguel, dos alimentos, dos transportes, não há renda que segure. Sem emprego e sem salário, não há produção e comércio que resistam. Os dados do IBGE estão aí para comprovar. Além do comércio varejista, a produção industrial caiu em setembro, o sétimo de nove meses em queda este ano, e encerrou o terceiro trimestre no vermelho.