
O cantor e compositor Chico César foi alvo de ofensas racistas durante a apresentação de um programa de rádio na cidade de Conde, na Paraíba. O fato ocorreu no último domingo (14), durante o “Fala Conde”, nome da atração, que tratava do Carnaval na cidade paraibana.
“Acabaram com nosso Carnaval, que era nosso cartão postal. Fizeram um Carnaval para eles. Era aquele ‘negrinho’ tocando violão nu, como era o nome dele, de Catolé do Rocha? Esqueci o nome daquela ‘praga’, ninguém se lembra mais dele”, proferiu Byra de Jacomã, um dos apresentadores do programa. Renato Vieira, outro apresentador da atração, lembrou que o cantor mencionado se tratava de Chico César, ao que Byra concordou: “Era esse mesmo”, respondeu.
A postura discriminatória do apresentador foi criticada pelo público por meios das redes sociais. “Criminoso! Deveria ser preso. Chico César é patrimônio cultural deste país. Sorte da música brasileira tê-lo”, disse um internauta.
“Chico César sofreu racismo um preconceito criminoso e cruel”, criticou outro fã. “Quem é Chico, simplesmente dos melhores cantor e compositor do Brasil, prossegue”. Infelizmente vivemos num país racista e preconceituoso q me dá vergonha de ter nascido no Brasil”, lamenta.
Além de ser conhecido pelas suas músicas, o artista também se destaca pelo seu posicionamento político. No ano passado, ao responder a um pedido de um fã, que sugeriu que ele não fizesse músicas de teor político, Chico rebateu: “Por favor, todas as minhas canções são de cunho político-ideológico! Não me peça um absurdo desses, não me peça para silenciar, não me peça para morrer calado”.
“Não é por ‘eles’. É por mim, meu espírito pede isso”, disse, ao rebater a justificativa do suposto fã, que afirmou que ele era superior a “eles” (os políticos). […] Não pense que a fúria da luta contra as opressões possa ser controlada. Eu sou parte dessa fúria”, ressaltou Chico. Não sou seu entretenimento, sou o fio da espada da história feita da música no pescoço dos fascistas. E dos neutros. Não conte comigo para niná-lo”, advertiu.
Após a repercussão da fala racista, o radialista se desculpou. “Gostaria de expressar a minha vergonha ao ver um negro cometendo uma espécie de racismo. Às vezes a gente fala coisas e não tem a dimensão do que isso pode causar a outra pessoa. Logo eu, que por várias vezes sofro com isso, ora comigo, ora com outras pessoas”.
A prefeitura de Conde publicou um nota para desvincular o nome da gestão municipal à atração radiofônica. “A Prefeitura Municipal de Conde vem, através desta, esclarecer que o programa ‘Fala, Conde’ é uma produção independente, sem vinculação institucional com a gestão municipal. Desta feita, não pode ser responsabilizada ou ter atrelada a sua imagem a qualquer comentário, ou opinião que por ventura seja feito no referido meio de comunicação”. Isto posto, é importante deixar claro que a gestão municipal repudia e não compactua com quaisquer atos discriminatórios, nem muito menos de racismo”, acrescenta o texto.
Paraíbano de Catolé do Rocha, além de cantor e compositor, Chico César também é jornalista e escritor. Autor de sucessos consagrados pelo público, como Mama África e À Primeira Vista, o paraibano tem nove álbuns lançados. Com uma carreira repleta de canções e referências a poesia. Já recebeu diversos prêmios como Revelação do Prêmio Sharp (1995) e Melhor Compositor pela APCA (1996), Grammy de Melhor Performance Vocal Pop Masculina (2001) e Prêmio da Música Brasileira – categoria Melhor Álbum POP/ Rock/ Reggae/ Hip Hop/ Funk (2018).