
O Ministério da Saúde anunciou, na terça-feira (16), a redução do intervalo da dose de reforço da vacina contra Covid-19, de seis para cinco meses após o esquema vacinal completo. Além disso, a partir de agora, a dose adicional está liberada para qualquer pessoa com mais de 18 anos. Até então, a dose de reforço estava aprovada para os maiores de 60 anos, pessoas imunossuprimidas e profissionais de saúde.
Para a dose de reforço, a orientação é que a pessoa tome um imunizante diferente do usado na primeira e segunda dose. Marcelo Queiroga deixou explicita a preferência do governo Bolsonaro à vacina do laboratório Pfizer para a dose de reforço e para o Plano de Imunização contra a Covid-19 de 2022, dificultando assim os esforços nacionais para a produção das vacinas AstraZeneca, pela Fiocruz, além da CoronaVac e a ButanVac, que está em fase de estudos clínicos avançados, pelo Instituto Butantan.
“É preferencial que a dose adicional seja com uma vacina diferente. No Brasil usamos a Pfizer, mas em um eventual desabastecimento pode ser usada outra plataforma”, disse o ministro.
O governo também resolveu aderir à segunda dose e dose de reforço para quem tomou a vacina da Janssen, até então de dose única.
O tempo de intervalo entre a primeira e segunda dose será de dois meses. “Quem tomou a Janssen (…) tomará duas doses, em um intervalo de dois meses. A Janssen chegou em junho/julho, então estamos no tempo esperado”, explicou Rosana Leite de Melo, secretária extraordinária do ministério.
O ministério vai começar a distribuir as doses da Janssen aos estados e municípios a partir da próxima sexta-feira (19).
ANVISA NÃO FOI CONSULTADA
A decisão do Ministério da Saúde de ampliar as doses de reforço da vacina contra a Covid-19 para toda população maior de 18 anos no país não passou pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em nota, a agência reguladora informa que, até o momento, apenas a Pfizer solicitou alteração do esquema vacinal previsto em bula.
“O atual esquema aprovado em bula prevê duas doses da vacina. O pedido apresentado à Agência prevê a aplicação de uma terceira dose. Esse pedido está em análise na Anvisa e pendente de complementação de dados pelo laboratório para que a análise tenha prosseguimento”, diz a agência reguladora brasileira. Segundo a Janssen, a previsão é de que até a próxima semana a empresa também entregue os estudos sobre eficácia e segurança da dose de reforço da sua vacina à Anvisa.
Outros países que incorporaram a dose de reforço na população local submeteram a estratégia à avaliação prévia. “Antes de incorporar a dose de reforço das vacinas, países como Estados Unidos, Canadá, Indonésia, Grã-Bretanha, Israel, membros da Comunidade Europeia e outros submeteram a estratégia à avaliação prévia das suas autoridades reguladoras. Primariamente, a terceira dose ou dose de reforço foi indicada para pessoas com sistema imunológico enfraquecido, idosos e profissionais de saúde”, afirmou a Anvisa.
Nem a Anvisa, nem o Ministério da Saúde falaram sobre a incorporação da CoronaVac para a dose de reforço. Na prática, o governo federal opta em sabotar a utilização de uma das vacinas mais utilizadas no mundo contra o coronavírus. Além disso, agência também não autorizou o uso do imunizante produzido pelo Instituto Butantan em pessoas de 3 a 17 anos.
O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, criticou Jair Bolsonaro e o Ministério da Saúde por não contratar mais doses da CoronaVac para o programa nacional de imunização contra a covid-19. Segundo Dimas, o governo “erra ao descartar a CoronaVac, a vacina mais segura entre todas que estão sendo utilizadas para todas as populações”.
Em entrevista ao jornal ‘O Globo’, Dimas destacou que “o Ministério da Saúde erra ao descartar uma vacina. A CoronaVac é a vacina mais segura entre todas que estão sendo utilizadas para todas as populações, mas especialmente para a população de 3 a 17 anos. Então estamos também aguardando o pronunciamento da Anvisa no sentido de que autorize o uso dessa vacina nessa população”.
Para o presidente do Instituto Butantan, o fato do Ministério da Saúde ter investido em outras vacinas, principalmente para dose de reforço, e ter deixado de lado novas aquisições da CoronaVac mostra a falta de credibilidade da pasta.
“O ministério demonstra mais uma vez que não está preparado adequadamente para o enfrentamento da pandemia. Houve erro do ministério, poderíamos ter adiantado muito a vacinação. Felizmente, estamos tendo um controle da pandemia e essa variante Delta não trouxe grandes estragos aqui para o Brasil, mas quanto mais disponibilidade de vacinas para vacinar mais rapidamente a população, melhor. Nós temos que sempre ser proativos e nunca podemos ser reativos. Eu acho que é mais um erro do ministério entre tantos que foram cometidos durante esse combate à pandemia”.