
Após ter afirmado que o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) começou a “ter a cara” do seu governo, Bolsonaro declarou, nesta quarta-feira (17), que a prova nunca serviu para medir o conhecimento dos estudantes. Ele ainda negou que teve acesso às questões das provas, cujo início está marcado para o próximo domingo.
“Olha o padrão do Enem no Brasil. Pelo amor de Deus. Aquilo mede algum conhecimento? Ou é ativismo político e na questão comportamental?”, declarou Bolsonaro durante visita ao Qatar, parte de seu giro pelo Oriente Médio.
Com a interferência do governo, 24 questões foram retiradas da prova, segundo reportagem do jornal ‘Estado de S. Paulo’ na quarta-feira. Porém, como o Exame tem uma quantidade de questões consideradas fáceis, médias e difíceis, a retirada dessas perguntas desequilibraria o Enem, e por isso, 13 das questões suprimidas foram reinseridas.
Bolsonaro disse agora que não viu a prova deste ano com antecedência. “Não vi, não vejo, não tenho conhecimento”, declarou.
Tudo isso acontece em meio à crise provocada pelo pedido de demissão de 37 servidores de cargos de chefia do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), ao denunciarem a pressão do governo para a troca de perguntas durante a montagem da prova.
De acordo com os funcionários que se demitiram, Bolsonaro vem usando diversas estratégias, como a análise de pessoas externas ao Inep, a Polícia Federal, para tentar controlar o conteúdo do exame de acordo com os interesses ideológicos do governo.
Os servidores ainda citaram falta de capacidade gerencial da direção do órgão, e fragilidade técnica e administrativa.
Além de dizer que o exame está começando a ter a cara do governo, Bolsonaro ainda acrescentou que “ninguém precisa estar preocupado com aquelas questões absurdas do passado”.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, primeiramente, chegou a afirmar que teria acesso prévio às perguntas. Depois, recuou. Na terça-feira, disse que “não houve interferência”.
Com três anos de governo já passados, praticamente, Bolsonaro não emplacou nenhum projeto relevante na área da educação, mas afirmou que o Brasil vive uma situação de atraso educacional.
Segundo o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), líderes da oposição acionaram o Ministério Público Federal (MPF) “para que o ministro da Educação Milton Ribeiro responda por improbidade administrativa devido às interferências políticas no Enem”.
Em sua conta no Twitter, o deputado fluminense disse que Bolsonaro “transformou o principal exame educacional do país num campo de guerra ideológica”. “O caos no Enem é a cara do desgoverno Bolsonaro”, escreveu Freixo, acrescentando: “incompetência, irresponsabilidade e atraso”.