Rendimento médio real de todas as fontes caiu 3,4%. Só não foi pior por conta do Auxílio Emergencial
Com a crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19, a queda no rendimento médio mensal dos brasileiros, considerando-se todas as fontes, caiu 3,4% em termos reais (descontada a inflação), passando de R$ 2.292 em 2019 para R$ 2.213 em 2020. É a mais intensa queda da série histórica da pesquisa iniciada em 2012, segundo a Pnad Contínua 2020: Rendimento de todas as fontes, divulgada pelo IBGE nesta sexta-feira (19).
A pesquisa apura os rendimentos provenientes de todos os trabalhos e os rendimentos de outras fontes. Em 2020, 61% da população do país recebia algum tipo de renda, oriunda do trabalho ou de outras fontes.
Com a pandemia houve uma redução do número de pessoas recebendo renda do trabalho e, por outro lado, aumentou o número de pessoas recebendo renda através de “outras fontes”, particularmente, do Auxílio Emergencial, que foi inserido na rubrica da pesquisa, que inclui os rendimentos provenientes de programas sociais, aplicações financeiras, seguro-desemprego, seguro-defeso, entre outros.
O auxílio foi criado graças ao clamor da sociedade, com apoio do Congresso Nacional, e sob protesto do ministro Paulo Guedes e Bolsonaro. Guedes dizia que a economia estava decolando e que o país crescia em “V”. Bastava destinar alguns trocados para fazer frente à pandemia e dar um “vale” de R$ 200 para os “invisíveis”. Diga-se, os trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados, que necessariamente tiveram que suspender suas atividades para conter o avanço da pandemia e salvar vidas. Já Bolsonaro, falava em “gripezinha”, a que ceifou a vida de mais de 600 mil brasileiros.
Em 2020, o rendimento habitualmente recebido de todos os trabalhos resultou em uma massa mensal de rendimento de aproximadamente R$ 207,4 bilhões, 5,6% menor que a estimada para 2019. Dentre os fatores que ajudam a explicar essa queda está a forte redução da população ocupada, menos 8,1 milhões de trabalhadores (queda de 8,7%). A percentagem de brasileiros com renda do trabalho caiu de 44,3% em 2019 para 40,1% em 2020, o menor nível da série histórica iniciada em 2012. Isso significa uma redução de 92,8 milhões para 84,7 milhões de pessoas.
Enquanto o peso do grupo de pessoas com rendimento de trabalho caiu de 74,4% para 72,8%, de 2019 para 2020, o grupo de “outros rendimentos”, com o Auxílio Emergencial, ganhou participação na composição do rendimento domiciliar per capita no Brasil, passando de 3,4% para 7,2%. No mesmo período, os rendimentos de aposentadoria ou pensão reduziram a participação (de 18,7% para 17,6%), aluguel e arrendamento (de 2,4% para 1,5%) e pensão alimentícia, doação ou mesada (de 1,2% para 0,8%).
“O mercado de trabalho teve problemas no ano passado. O colchão criado pelo auxílio emergencial segurou um pouco a renda. Aumentou o peso das outras fontes”, disse Alessandra Brito, analista do IBGE.
Com o maior número de brasileiros dependendo da ajuda emergencial para enfrentar a crise econômica e sanitária, o percentual de brasileiros com rendimento de outras fontes subiu para 28,3% (59,7 milhões). É a maior taxa da série histórica. Em 2019, o percentual era de 23,6% (49,5 milhões).
Mas, em 2020, o rendimento de outras fontes também caiu (-15,4%) para o menor valor (R$ 1.295) desde 2012. O movimento de queda ocorreu em todas as regiões, principalmente, no Sudeste, Sul e Centro-Oeste, onde as perdas foram de 19,6%, 13,2% e 21,0%, respectivamente.
O auxílio foi reduzido à metade nos últimos meses do ano de 2020, assim como foi reduzido o número de beneficiados. Se na primeira metade da distribuição do auxílio, quando o valor era de R$ 600, contribuiu para a redução da desigualdade, como registrou o IBGE, a redução pela metade interferiu no rendimento médio mensal real domiciliar per capita que caiu 4,3%, para R$ 1.349 em 2020 frente ao estimado no ano anterior, quando foi de R$ 1.410.
Por outro lado, o desemprego no ano passado atingia níveis recordes e a inflação vinha galopando, atingindo a renda das famílias mais pobres com o aumento dos preços dos alimentos.
Em 2020, as pessoas que faziam parte do 1% da população melhor remunerada tinham rendimento médio domiciliar per capita de R$ 15.816. Valor 34,9 vezes o rendimento da metade da população com os menores rendimentos (R$ 453). Em 2019, a diferença chegou a 40 vezes, maior valor da série histórica.