O ex-ministro Antonio Palocci, conhecido pelo codinome de “Italiano” nas planilhas de propina da Odebrecht, fechou acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal (PF).
Operador de Lula e seu ministro da Fazenda – depois ministro da Casa Civil de Dilma – Palocci já foi condenado a 12 anos e dois meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ex-ministro está detido na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Palocci já fez, no âmbito da colaboração, depoimentos à PF e apresentou provas de suas declarações. Ele é acusado, também, de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo que apura a compra de um apartamento em São Bernardo do Campo (SP) e de um terreno onde seria construída uma nova sede para o Instituto Lula em São Paulo, com o uso de dinheiro de propinas, passadas pela Odebrecht.
No ano passado, Palocci revelou que Lula fez o que chamou de “pacto de sangue” para o recebimento de propinas, com Emílio Odebrecht.
A relação dos governos petistas com a Odebrecht, disse Palocci, era “bastante intensa, movida a vantagens dirigidas à empresa e propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos em forma de doação de campanha, em forma de benefícios pessoais, em forma de caixa um e caixa dois”.
O depoimento, ao juiz Sérgio Moro, provocou o início de seu processo de expulsão do PT. Dias depois, Palocci se desligou do partido.
A “colaboração premiada” ainda precisa ser homologada pela Justiça para que passe a valer. Como Palocci não mencionou pessoas com foro privilegiado em seus depoimentos, o acordo pode ser homologado pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância.
No depoimento a Moro, há um ano, Palocci informou que ouviu de Lula que Emílio Odebrecht prometera deixar à sua disposição 300 milhões de reais para “atividades políticas”, nos anos seguintes ao fim do mandato presidencial. O ex-ministro declarou ter sido encarregado pelo petista de tratar sobre os recursos com Marcelo Odebrecht, que propôs a criação de uma planilha para manejo do dinheiro.
Em uma das primeiras conversas com o empreiteiro, no entanto, Marcelo alegou engano de seu pai e reduziu o valor a 150 milhões de reais. O compromisso voltou a ser de 300 milhões de reais depois de reunião entre Emílio Odebrecht, Lula e Dilma. “O presidente Lula me chama de novo e fala: ‘olha, o Emílio veio, tivemos uma ótima reunião, ele confirmou os 300 milhões e falou que pode ser mais se necessário”, disse Palocci a Moro.
Palocci referiu como o empresário Emílio Odebrecht se comprometeu a participar das obras do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP): “O seu Emílio apresentou ao presidente o sítio para uso da família, que já estava fazendo a reforma, fase final. Ele disse que o sítio já estava pronto”, relatou o ex-ministro.
A informação coincide com as prestadas por Emílio Odebrecht (“No final do ano, penúltimo dia de mandato do Lula, do último mandato, eu estive com ele lá no Palácio do Planalto. E aí eu disse: ‘Olhe, chefe, você vai ter uma surpresa. Nós vamos garantir o prazo que nós tínhamos dado naquele programa lá do sítio’. Ele não fez nenhum comentário, mas também não botou nenhuma surpresa, coisa que eu entendi não ser mais surpresa“, disse Odebrecht).
Palocci falou sobre o esquema de palestras como forma de transferência de propinas. “Eram várias palestras do ex-presidente, pagas a 200.000 reais, fora impostos, combinadas com a Odebrecht para o próximo ano”, revelou Palocci.
[Na verdade, neste quesito Palocci foi modesto. Segundo o próprio Lula, o preço de cada palestra era 200 mil dólares. Segundo informação do Instituto Lula, foram 72 palestras.
Ou seja, Lula recebeu, a esse preço, US$ 14 milhões e 400 mil, ao todo, inclusive US$ 1 milhão e 600 mil da Odebrecht, US$ 1 milhão da Andrade Gutierrez, US$ 1 milhão da Camargo Correa, US$ 1 milhão da OAS, US$ 600 mil da Queiroz Galvão, US$ 200 mil da UTC Engenharia e mais US$ 600 mil da Odebrecht passados através da Cervejaria Petrópolis – ou seja, somente das empresas diretamente flagradas na passagem de propina pela Operação Lava Jato, Lula recebeu US$ 6 milhões, sob forma de pagamento de “palestras.]
Palocci, operador de Lula, detalhou a compra, pela Odebrecht, de um prédio que serviria como sede do Instituto Lula. A aquisição foi encaminhada por José Carlos Bumlai e o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula. A DAG Construtora, empresa de Demerval Gusmão, amigo de Marcelo Odebrecht, pagou os 12,4 milhões de reais pelo imóvel, que, por fim, acabou sendo descartado. “Desculpa, doutor, eu não estava de santo na história não. O nosso ilícito com a Odebrecht já estava muito grande naquele momento, eu achei que essa compra não precisava ser um ilícito, não precisava ser um ilícito travestido de lícito”, disse o ex-ministro a Moro.
Antonio Palocci relatou também a Moro que, em 2007, antes da descoberta das reservas de petróleo e após a reeleição de Lula, este se referira à corrupção na Petrobrás, especialmente nas diretorias de Serviços e de Abastecimento, feudos do PT e do PP na estatal.
“Mas logo após veio o pré-sal e pôs o governo em uma atitude muito frenética em relação à Petrobras. Esses assuntos de ilícitos e de diretores ficaram em terceiro plano, as coisas continuaram correndo do jeito que era”, contou o ex-ministro.
De acordo com Palocci, os investimentos atraídos pela descoberta de petróleo não só frearam a intenção do ex-presidente em agir contra os problemas, como levaram o petista a incentivar o esquema: “ele até chegou a encomendar que os diretores a partir daí fizessem mais reservas partidárias”.
SÉRGIO CRUZ
Assista a íntegra do depoimento de Palocci a Moro
Este cartel das grandes construtoras do Brasil, metem a mão no dinheiro público desde a década de 1940, no entanto, as autoridades brasileiras somente vinheram a ter conhecimento nos últimos 14 anos e vocês sabem o porque, simplemente porque um partido de esquerda chegou ao poder, então os canalhas virão que era hora de investigar, antes podia tudo, portanto todos os presidentes das empresas envolvidas em ilícitos e outros funcionários graudos, deveriam estarem todos detidos e não mentido e fazendo delações apenas para se livrarem da lei. Isto é vergonhoso.
Leitor, na década de 40 essas empresas nem ao menos existiam. Que escândalo de corrupção – verdadeiro, não os inventados pela UDN – houve entre 1930 e 1964? Nenhum. Que tenha existido algum ladrão, é coisa inteiramente diferente do esquema de assalto à Petrobrás e aos fundos de pensão, que não foi instalado por um partido de esquerda, mas por um partido de direita, o PT. Não existe corrupção “de esquerda”. Assim como nomear Meirelles para o Banco Central, ou Levy para o Ministério da Fazenda, também nada tem a ver com “esquerda”.