O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) registrou menor comparecimento na prova em 2021, do que em 2020, quando a prova foi realizada em janeiro de 2021, no auge da pandemia. A edição de 2021 teve o menor número de inscritos em 15 anos.
O governo Bolsonaro comemorou a taxa de abstenção de 26%, considerada baixa, porém, o número de estudantes que fizeram a prova no 1º dia foi mais baixo que na última edição, quando a abstenção ficou em cerca de 50%.
Até o momento, o MEC apresentou, através do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão responsável por elaborar e aplicar a prova, apenas os dados totais de inscritos e os percentuais de presentes e ausentes no Enem 2021. Foram apenas 3.109.800 inscritos, com comparecimento de 74%. Isso significa que cerca de 2,3 milhões estudantes fizeram a prova.
Porém, no Enem 2020, houve 5.523.029 inscritos, 2.680.697 estudantes compareceram e 2.842.332 faltaram ao 1º dia.
Ou seja, uma diferença de cerca de 300 mil alunos. Não é possível saber o número exato porque o Ministério não apresentou os valores absolutos.
Os dados contrariam a comemoração do governo pela taxa de abstenção de 26%.
“O mais importante não é o número de inscritos, mas o número de quem realmente veio fazer a prova”, disse o ministro da Educação, Milton Ribeiro. De forma indireta, ele se referiu ao fato de que a edição de 2021 ter tido o menor número de inscritos em 15 anos.
“É menos da metade daqueles que se inscreveram nas últimas edições”, criticou a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz sobre a baixa adesão a prova neste ano. “Isso é muito grave para todos aqueles que acreditam que o ensino superior é um caminho importante no país”. Ela resume: “Será o Enem mais branco e desigual da história”.
Rozana Barroso, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), realizou o exame neste domingo (21) em São Paulo, criticou a baixa participação de estudantes negros nesta edição do enem, como reflexo do esvaziamento da prova orquestrado pelo governo Bolsonaro, onde quem sai mais prejudicado são os mais pobres, e por isso, o povo negro.
“Esse número reflete a falta de projeto de educação do governo e do Ministério da Educação, que colocaram entraves para a participação dos estudantes mais pobres, nem possibilitaram condições para estudar na pandemia. Nós sabemos quem são os mais atingidos com essa falta de políticas”, avalia.
O Enem 2021 foi bombardeado de denúncias feitas por ex-servidores do Inep. De acordo com 37 funcionários que pediram demissão coletiva do Instituto, o governo Bolsonaro passou a interferir na elaboração da prova.
Segundo ex-servidores, Bolsonaro chegou a pedir ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, que o Golpe Militar de 1964 fosse citado como “revolução” em questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Ribeiro comentou o pedido com membros do MEC e também do Inep, órgão responsável pela elaboração do Enem, mas a ordem por não ter embasamento histórico, ou seja, não ser pautada em fatos, a solicitação não foi atendida – mas acabou sendo divulgado à Imprensa. A ordem também era de censurar questões sobre igualdade e identidade de gênero, orientação sexual e racismo.
Na semana passada, durante comitiva oficial no Oriente Médio, Bolsonaro declarou que finalmente as questões do Enem estão tendo a cara do governo, o que gerou muita desconfiança, já que a declaração foi dada após 37 servidores do Inep terem pedido demissão de seus respectivos cargos, alegando que o Governo estava interferindo nas provas e que colocaram até a presença de um policial federal no local onde o exame é elaborado, para pressionar e fiscalizar. Na sequência, Milton Ribeiro, ministro da Educação, tentou acalmar os ânimos, dizendo que as pessoas tinham incompreendido o presidente mais uma vez.
Na prática, a desorganização da prova, o desmonte e esvaziamento do Inep, fez desse Enem a cara do governo, realmente. Tantas polêmicas envolvendo a credibilidade e seriedade da prova, traz insegurança aos mais de três milhões de inscritos, num processo seletivo que desde que surgiu se tornou referência nacional.