Já estão reunidos na Casa da Paz em Panmunjon, na cúpula da reconciliação intercoreana, o líder da Coreia Popular, Kim Jong Un, e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, nesta sexta-feira (27). Kim cruzou a pé a fronteira que ainda divide a milenar nação coreana e foi recebido com um efusivo cumprimento por Moon, que lhe disse estar “feliz por conhecê-lo”. “Uma nova história começa agora – a era da paz, o ponto de partida da história”, escreveu Kim no livro de visitas da sede da histórica reunião.
A convite de Kim, os dois cruzaram brevemente a fronteira para que Moon pisasse em solo do norte, e em seguida voltaram sorridentes para o sul. Uma guarnição de honra os escoltou até o local da cúpula – o prédio em que o cessar-fogo de 1953 foi assinado. Dos dois lados da fronteira, o encontro é acompanhado com enorme expectativa. Em Paju, perto da zona desmilitarizada, manifestantes comemoraram, segurando bandeiras da reunificação coreana já vistas nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang. Moon afirmou que a presença de Kim fazia de Panmunjon um símbolo de paz, e não mais da divisão.
Kim é o primeiro líder do norte a visitar o sul, com as duas cúpulas anteriores (em 2000 e 2007) tendo ocorrido em Pyongyang. Segundo a agência de notícias norte-coreana KCNA, Kim pretende “discutir de coração aberto” todas as questões com o objetivo de “melhorar relações intercoreanas e alcançar paz, prosperidade e reunificação da península coreana”. Ao final, deverá ser emitida uma “Declaração de Panmunjon”. De acordo com o jornal sul-coreano Hankyoreh, os dois lados “já superaram substancialmente as diferenças em termos de um roteiro para declarar fim do armistício pós-guerra e adoção de um regime de paz.
As duas delegações terão uma pausa para almoço e depois os dois líderes coreanos irão plantar juntos um pinheiro, que simboliza a reconciliação e reunificação, repetindo o gesto já feito na cúpula de 2007 em Pyongyang pelo então presidente do sul, Roh Moo-hyun, e pelo líder do norte, Kim Jong Il, pai de Un.
A árvore escolhida, um pinheiro, brotou em 1953, ano de assinatura do acordo de cessar-fogo ainda não substituído por um tratado de paz. Será regada com água trazida dos rios Daedong (norte) e Han (sul). A terra veio das duas partes da Coreia: do Monte Baekdu (norte) e do Monte Halla (sul). O local é perto de onde o falecido fundador do grupo Hyundai, Chung Ju-yung, que nasceu no norte, costumava carregar seus caminhões com vacas – doou 1000 – que levava para a Coreia Popular no final da década de 1990, em um ato pela reconciliação intercoreana. Uma pedra na base da árvore tem a frase “plante paz e prosperidade” e o nome dos dois líderes, Kim e Moon.
NAÇÃO MILENAR
Nação com cinco mil anos de história, a Coreia foi dividida ao final da II Guerra Mundial, com as tropas dos EUA que ingressaram no sul a título de realizar a rendição das tropas japonesas jamais deixando o país, intervenção que acabou desembocando na Guerra da Coreia e no cessar-fogo de 1953. Até hoje, a Coreia aguarda a proclamação da paz oficial, a reconciliação e reunificação.
Como um gesto de boa vontade, a Coreia Popular na semana que antecedeu a cúpula anunciou a suspensão dos testes de mísseis e nucleares e o fechamento da principal instalação de provas atômicas. A Coreia Popular sempre foi a favor da desnuclearização da península coreana, até mesmo porque quem introduziu armas nucleares na região foi exatamente os EUA por volta de 1958. Mas, sob a ameaça do governo de W. Bush de “ataque nuclear preventivo”, a Coreia Popular foi forçada a, sob um esforço titânico e apesar das ameaças e sanções, construir uma força de dissuasão nuclear.
Contra a Coreia socialista também foram impostas sanções duríssimas, com o governo Trump ameaçando o norte de destruição. Rússia e China propunham que, no lugar de sanções cada vez piores, se enveredasse pela diplomacia, com a suspensão de testes nucleares e de mísseis pelo norte, e das manobras militares no sul, que propiciasse negociações sem pré-condições.
Foi o discurso de Ano Novo de Kim Jong Un, conclamando ao entendimento “entre nós coreanos” pela reconciliação, paz e reunificação pacífica, que abriu caminho para uma delegação conjunta nos Jogos Olímpicos de Inverno no sul, a visita de comitiva norte-coreana de alto nível e outros desdobramentos que seguem florescendo.
Também a vitória de uma força progressista no sul, em substituição à presidente impichada por corrupção, liberou as energias para a retomada das negociações intercoreanas deixadas de lado pelos governos pós-Roh. O avanço nas relações Seul-Pyongyang ajudaram a tornar possível uma reunião entre a Coreia Popular e os EUA para afastar os riscos de guerra na península coreana, posição expressa à delegação do sul pelo próprio Kim. Agora, tornou-se pública a visita do então diretor-geral da CIA, agora já oficialmente secretário de Es tado, Mike Pompeo, a Pyongyang para as tratativas desse encontro Kim-Trump.
ANTONIO PIMENTA
Abaixo, vídeo da RT com início da Cúpula em Panmunjom