O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, condenou a “injustiça e imoralidade” com que a comunidade internacional vem tratando a África na pandemia, após se reunir com o presidente da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, em Nova Iorque, na quarta-feira (1º).
Guterres afirmou que, diante da pandemia de covid-19 e da crise climática, “este escândalo que condena a África a uma situação extremamente difícil deve acabar”.
Segundo os números da Organização Mundial da Saúde (OMS), menos de 10% da população do continente já foi vacinada.
O chefe da ONU endossou a denúncia de Mahamat sobre a injustiça e ineficácia das medidas impostas por vários países para não admitir viagens vindas da África do Sul e países vizinhos.
Guterres e o líder da UA consideraram que esse encerramento de fronteiras apenas para países africanos equivale a um regime de “apartheid de viagens”. Disseram, ainda, ser “inaceitável” que uma das partes mais vulneráveis do mundo esteja condenada ao confinamento, o que só agravará os pesados entraves à recuperação econômica pós pandemia.
Para os dois líderes, tais medidas “não têm fundamento científico”, além de serem um castigo à transparência dos países africanos que revelaram a descoberta da variante ômicron do vírus da covid-19, que já circulava noutras partes do mundo antes.
“Com um vírus que realmente não tem fronteiras, as restrições de viagem que isolam qualquer país ou região não são apenas profundamente injustas e punitivas – são ineficazes”, declarou Guterres, que já dirigiu o Alto-comissariado das Nações Unidas para Refugiados.
Neste sentido, as nações mais ricas terão de “reforçar significativamente” o apoio aos países em desenvolvimento, mostrando mais solidariedade, mas também manter um “compromisso maciço” para o congelamento de dívidas das nações africanas e atribuição de “Direitos Especiais de Saque”, sublinhou o secretário-geral da ONU.
Segundo Moussa Faki Mahamat, “é de lamentar” que a comunidade internacional não tenha oferecido “solidariedade ativa e dinâmica” para com a África.
As declarações foram feitas na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, após a quinta conferência anual ONU-UA, que discutiu também ameaças à paz, terrorismo e crise climática.