
“Piloto” parece biruta de aeroporto. Alucinado disse que país “está decolando”, no mesmo dia em que entrou em recessão. Declarações do ministro sobre economia do país confirmam que ele não está bem da cabeça
As últimas declarações do ministro da Economia Paulo Guedes, sobre a situação da economia brasileira, confirmam a avaliação, feita por Mailson da Nóbrega e outros, de que ele não está batendo bem da cabeça. O sonegador de impostos e dono de uma offshore com R$ 50 milhões nas Ilhas Virgens Britânicas afirmou, em palestra a investidores estrangeiros, que “o Brasil está levantando voo”.
ESTAMOS FALANDO EM DECOLAGEM
“Nós temos – já que estamos falando em decolagem – no pipeline R$ 600 bilhões em investimentos para os próximos anos. O crescimento está contratado. Essa conversa de que o Brasil não vai crescer é coisa de maluco”, disse ele na quinta-feira (2). “Mês a mês, batemos a arrecadação histórica, em termos reais, tirando a inflação. A arrecadação está muito forte, o que mostra que o Brasil está decolando de novo, pelo nosso tempo. Preparar para decolagem”, prosseguiu o ministro.
Realmente o que parece coisa de maluco é a própria declaração de Guedes sobre o voo, porque no mesmo dia em que ele dizia essas besteiras de avião subindo, foram divulgados os números do IBGE mostrando uma retração de 0,1% do PIB no terceiro trimestre, depois de cair 0,4% no segundo trimestre, colocando o Brasil em recessão técnica. Ou seja, “o avião do Guedes”, que já estava em voo rasante, está embicando para baixo. Mais um pouco de Guedes à frente da economia e a “aeronave” encontrará o solo.
Praticamente no mesmo dia em que ele delirava saiu o resultado da produção industrial brasileira. Registrou queda de 0,6% em outubro na comparação com setembro, o quinto mês consecutivo de queda, acumulando, nesse período, perda de 3,7%, de acordo com a pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Frente ao mesmo mês do ano passado – quando a pandemia recrudescia e o governo Bolsonaro sabotava a vacinação, o tombo foi de 7,8%.
“Ao todo, oito dos dez meses já cobertos por estatísticas do IBGE ficaram no vermelho, levando a indústria a um patamar de produção 4,1% inferior ao pré-pandemia, isto é, em relação a fev/20. É um retrocesso persistente e também difundido entre os distintos ramos industriais, pois atingiu 19 dos 26 ramos acompanhados na passagem de set/21 para out/21, o equivalente 73% do total do setor”, revelou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
PARA IEDI, SITUAÇÃO DA INDÚSTRIA É AINDA MAIS GRAVE
Para o Iedi, com o PIB total em queda, na indústria o quadro é ainda mais grave. “Em 2021, o PIB da indústria de transformação não cresceu um trimestre sequer. Já são três recuos consecutivos: -0,4% no 1º trim/21, -2,5% no 2º trim/21 e -1,0% no 3º trim/21 na série com ajuste sazonal. Já a indústria geral ficou parada no 3º trim/21 (0%), depois da queda do 2º trim/21, e só não foi pior graças à construção”.
“Voltamos a lembrar um dado que muito se ignora no Brasil: R$ 1 produzido pela indústria de transformação induz um aumento de R$ 2,14 na produção total da economia. Em outras palavras, sem indústria dinâmica é pouco provável que tenhamos uma trajetória consistente de crescimento para o PIB geral do país”, ressaltou o Iedi.
Frente a uma situação dessas, dizer que o país está levantando voo e reclamar que ninguém está vendo isso, realmente é coisa de maluco. Mas a “loucura” não para por aí. Como uma biruta de aeroporto, ele voltou a falar em seguida sobre o assunto e disse o contrário do que tinha apontado aos empresários. Afirmou que haverá “desaceleração forte” da economia no próximo ano.
Mas, ao admitir que a coisa está feia, ele agiu cinicamente, como seu chefe [Bolsonaro] costuma fazer. Colocou a culpa pelo caos nos outros. “A Faria Lima, os banqueiros estão prevendo crescimento menor. É natural, é do ângulo de visão de financistas. É claro que vai haver desaceleração forte, porque os juros estão subindo. A inflação subiu”, disse, para logo em seguida jurar que está fazendo a coisa certa.
“De novo, estamos fazendo a coisa certa. O importante não é a previsão, é fazer a coisa certa”, declarou o ministro, durante participação no encontro Anual da Indústria Química.
A “COISA CERTA” É AFUNDAR O PAÍS
Para Guedes, “fazer a coisa certa” é tratar do descontrole inflacionário causado pela política de seu governo aumentando os juros – política absolutamente incompatível com crescimento à medida que arrocha o consumo e elimina a possibilidade de investimentos. A taxa básica (Selic) foi elevada recentemente a 7,75% ao ano, o quinto aumento consecutivo empurrado pelo Banco Central (BC) sob a orientação de Guedes.
O ministro já vinha mentindo desde o ano passado. Em janeiro, ele dizia que o Brasil crescia em “V” e que na pandemia, ao contrário de outros países, gerou empregos com saldo positivo de 142.690 vagas, a diferença de 15.166.221 admissões e de 15.023.531 desligamentos. “Em um ano terrível em que o PIB caiu 4,5%, criamos 142 mil novos empregos”, comemorou o ministro na época. A verdade saiu agora. Foram fechadas 191.502 vagas de empregos com carteira assinada em 2020, exatamente o contrário do que disse o ministro.
É de se esperar que na próxima declaração o ministro diga que o Brasil está crescendo mais que a China, ainda que a realidade mostre o contrário. Existem atualmente mais desempregados e subempregados do que gente trabalhando no país. Adicionando à equação a inflação dos alimentos e combustíveis, o resultado é o aumento sem precedentes da pobreza e miséria. Os dados oficiais mostram uma indústria abaixo do patamar pré-pandemia, além do comércio e serviços no limbo por conta da queda do poder de compra da população.
À luz do caos econômico criado por Guedes e Bolsonaro, as previsões de mercado não esperam nada além de um crescimento este ano que nem ao menos recuperará as perdas da pandemia. Para ano que vem, as expectativas já apontam para crescimento do zero para o negativo.