
Média diária de atendimentos de pessoas com sintomas gripais nas unidades de saúde da capital subiu 64% entre novembro e dezembro. Na rede particular, número de exames para detecção da gripe aumentou 265%
A cidade de São Paulo tem registrado um aumento no número de atendimentos no pronto-socorro e de hospitalizações devido ao aumento dos casos de síndrome gripal que provocam surto na capital paulista, segundo confirmou o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido.
Uma variante do vírus da gripe, chamada de H3N2, pode ser a responsável pela disparada de casos da doença na cidade de São Paulo. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, na última, semana houve um “aumento significativo” de pessoas com síndrome gripal nas unidades de saúde da capital.
O secretário Edson Aparecido, afirmou que as vacinas aplicadas em São Paulo foram para enfrentar o vírus H1N1 e que, para o H3N2, é necessário outro imunizante.
Nesta quarta-feira (15), o Instituto Butantan anunciou que vai começar a atualizar a vacina contra a gripe a partir de janeiro, respeitando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“O Butantan já está preparando os bancos virais para a atualização do imunizante e, em janeiro, inicia-se a produção dos Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) da vacina contra a Influenza”, informou o instituto por meio de um comunicado.
A prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), informou que a rede municipal de saúde inicia nesta semana em suas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs), Prontos Atendimentos (PAs) e prontos-socorros, no setor de triagem a testagem pelo método antígeno em pacientes com sintomas gripais.
A medida contribui para identificar os casos com maior rapidez e manter o monitoramento do paciente na cidade de São Paulo.
“O órgão esclarece que na última semana houve um aumento significativo de pessoas com síndrome gripal em suas unidades de saúde. Em novembro de 2021, a SMS registrou um total de 111.949 atendimentos de pessoas com sintomas gripais, sendo 56.220 suspeitos de Covid-19. Neste mês, na primeira quinzena, a SMS registra um total de 91.882 atendimentos com quadro respiratório, sendo 45.325 suspeitos de Covid-19”, disse.
A secretaria informou que segue monitorando o cenário epidemiológico das doenças virais no município, entre elas o vírus influenza. Essa vigilância é feita por amostras de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) e em casos de síndrome gripal de duas maneiras: unidades hospitalares coletam amostras de secreção nasal de casos de Srag de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs); Há também a coleta dessas amostras, de casos de Srag em unidades de saúde sentinelas, como AMAS, hospitais infantis e gerais, tanto público como privados.
PREOCUPAÇÃO
Pela cidade, a situação é de preocupação. Comerciantes do Brás, a maior região de varejo da cidade, relatam que muitos trabalhadores não aparecem há dias para trabalhar por conta da gripe.
“Pode dizer que tem uns quinze, vinte derrubados que eu conheço, com febre alta. Não são só eles, a família também está ruim. Os caras são fortes, ninguém pegou coronavírus, ninguém pegou nada durante o período, só que eles estão tratando bem como uma virose aqui no Brás, mas são muitos”, disse Carlos Lima, comerciante do Brás.
Postos de saúde de toda a cidade registram aumentos na busca por atendimento. Em Paraisópolis, na zona Sul, chegaram a fazer 600 atendimentos por dia, levando a uma espera de até duas horas, segundo relatos de moradores.
Segundo o virologista Celso Granato, as infecções pelo H3N2 são um “surto extemporâneo” ocasionado por vários fatores: a composição da vacina, tomada há mais de 6 meses, a falta do uso de máscaras e as pessoas que estão voltando a se aglomerar.
O coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o médico Marcelo Otsuka destaca também que “os principais transmissores dessas infecções virais são as crianças”, que acabam sendo mais comprometidas. “Temos visto muito mais crianças internadas por quadros virais”, relata o médico. “Os prontos-socorros de pediatria, por exemplo, têm estado lotados por conta disso.”
Enquanto hospitais infantis registram superlotação, as escolas de Educação Infantil estão esvaziadas. Na EMEI Ângelo Martino, na Bela Vista, as turmas estão com metade dos atendimentos por pedidos de afastamento de crianças doentes, por conta do aumento repentino de casos.
A recomendação dos especialistas é a retomada do uso de máscara, o distanciamento e a higienização das mãos. Além de São Paulo, a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro já confirmou que o Estado vive uma epidemia de gripe causada pelo vírus.
BAIXA COBERTURA VACINAL
Até o início de dezembro, apenas 55,5% do público alvo da campanha de vacinação contra a Influenza compareceu aos postos de vacinação neste ano no estado de São Paulo. A meta da campanha, estabelecida pelo Ministério da Saúde, era de 90%. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, cerca de 10,1 milhões de doses foram aplicadas.
O único grupo prioritário que atingiu a meta de cobertura foi o dos indígenas, que teve 100% da população vacinada. Outros grupos atingiram cobertura acima da média estadual, mas ainda abaixo da meta estabelecida. É o caso de puérperas (72,4%), crianças (68,1%), idosos (65,4%), trabalhadores da saúde (64,9%) e gestantes (62,6%).
Já as pessoas com comorbidades atingiram apenas 44% de cobertura vacinal contra a gripe.
A campanha de vacinação foi liberada para todos os públicos em 12 de julho, após o encerramento da campanha para grupos prioritários. A ampliação determina que toda a população poderá se vacinar enquanto houver doses disponíveis na rede. Entretanto, a vacina não é encontrada em todos os postos de saúde para aplicação.
AUMENTOS DE CASOS NO ESTADO
O comitê científico que aconselha o governador de São Paulo, João Doria, no combate à Covid-19 orientou seus radares também para os casos de gripe no estado.
Os integrantes do comitê, formado por médicos e cientistas, passaram a receber relatos preocupantes de colegas que estão na linha de frente dos hospitais, e que dizem que o número de pacientes com gripe se avolumou.
No Hospital Vila Nova Star, por exemplo, houve aumento de 50% na procura por pessoas com quadros de gripe nas últimas duas semanas, em relação à média dos meses anteriores. No Hospital São Luiz do Itaim, o crescimento foi de 30%.
Segundo José Jair de Arruda Pinto, diretor-executivo da Rede D’or São Luiz, foi necessário reforçar o número de médicos no pronto-socorro.
No Hospital Sírio-Libanês, o atendimento de pacientes com problemas respiratórios e sintomas gripais, não infectados com coronavírus, tem aumentado exponencialmente: em julho foram 58, em setembro, 153, e em novembro, 216.
O número de exames para detecção do vírus da gripe aumentou 265% e o de aplicação de vacinas para influenza 189% entre os dias 6 e 12 deste mês na rede de laboratórios Fleury, em comparação à semana anterior.
O secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, diz que surtos localizados não podem ser confundidos com incremento generalizado de casos no estado.
Os números da secretaria mostram que, em 2020, houve 688 casos, com 50 mortes relacionados exclusivamente com influenza no estado. Em 2021, foram até agora 652 casos e 49 mortes.