País ficou com 37% de excedente em óleo nos dois campos, quando o padrão mundial é de 60%, afirma especialista. TotalEnergies, Petronas, Shell e Qatar Petroleum adquiriram o óleo com a participação da Petrobrás
O Consultor Legislativo aposentado do Senado, Paulo César Ribeiro Lima, analisou o resultado do leilão dos campos de petróleo de Sépia e Atapu, no pré-sal, realizados na sexta-feira (17). Em seu artigo “O ‘mercado’ até que salvou um pouco o melancólico ‘leilão’ de Sépia e Atapu”, ele denuncia que o governo pretendia ficar com apenas 15% e 5,85% respectivamente nos dois campos. Segue o artigo na íntegra.
“O ‘mercado’ até que salvou um pouco o melancólico ‘leilão’ de Sépia e Atapu”
Foi realizado no dia 17 de dezembro de 2021 a 2ª Rodada de Licitações do Excedente da Cessão Onerosa de Sépia e Atapu. Nesses campos, estão localizados poços dentre os mais produtivos do mundo; só perdem para Búzios, também localizado no Pré-Sal brasileiro. São poços com produções diárias acima de 57 mil barris por dia de óleo equivalente. São produções extraordinárias. Poços com essa produção, geralmente, não são “leiloados”, pois o Estado assume o controle da produção e toda a renda petrolífera.
No entanto, o Brasil optou por “leiloar” esses campos sob o regime de partilha da produção. Para Sépia foram apresentadas apenas duas propostas. Para um excedente em óleo mínimo para a Uno de apenas 15,02%, a proposta vencedora, apresentada pelo consórcio composta por TotalEnergies, Petronas e Qatar Petroleum, ofertou um excedente em óleo para a União de 37,43%. Apesar do ágio de 149,20%, esse excedente é baixo para os padrões internacionais, normalmente superiores a 60% para reservatórios não tão bons. A proposta da Petrobrás foi derrotada, mas a estatal exerceu seu direito de preferência e passou a compor o consórcio vencedor com 30%. Os 70% restantes ficaram assim divididos: TotalEnergies com 28%, Petronas com 21% e Qatar Petroleum com 21%.
No caso de Atapu, houve apenas uma oferta de um consórcio formado por Petrobrás (52,5%), Shell (25%) e TotalEnergies (22,5%). Para um excedente em óleo mínimo para a União de apenas 5,89%, a proposta vencedora desse consórcio ofertou um excedente em óleo para a União de 31,68%. Apesar do ágio de 437,86%, esse excedente é ainda menor que o da oferta vencedora de Sépia. Ágios tão altos evidenciam quão baixos foram os excedentes em óleo mínimos para a União.
É importante ressaltar, contudo, que o resultado do “leilão” poderia ter sido muito pior, pois o governo brasileiro, no caso de Atapu, estava disposto a aceitar apenas 5,89% de excedente em óleo para a União.
Em suma, dois campos onde estão localizados poços dentre os mais produtivos do mundo foram leiloados com baixa disputa, já que foram apresentadas apenas três ofertas. Como o resultado poderia ter sido desastroso, o “mercado” até que salvou um pouco o melancólico “leilão”.
PAULO CÉSAR RIBEIRO LIMA