
Diferente da maioria do país que trabalha a semana inteira, a expectativa é que o chefe do Executivo só retorne a Brasília na próxima sexta-feira (24). De lá, ele sabota a vacinação das crianças contra a Covid-19, enquanto se diverte
O Brasil inteiro está preocupado com os graves problemas que afligem a população. Um deles é a vacinação das crianças contra a Covid-19. Afinal, elas não estão ainda vacinadas e, portanto, estão vulneráveis ao vírus.
As crianças podem até não apresentar quadros graves, mas, segundo os especialistas, são transmissoras e têm uma alta taxa de mortalidade. Já morreram 1.148 crianças de 0 a 9 anos da doença desde o início da pandemia, segundo o SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade). São 1.600 menores de 18 anos que perderam a vida na pandemia. A Covid matou mais crianças no país que doenças com vacina em 15 anos, informa levantamento feito pela Fiocruz.
DANÇANDO E ZOMBANDO DO POVO TRABALHADOR
Mas, Bolsonaro não demonstra nenhuma preocupação com as crianças. Ao contrário, está dançando e zombando do povo na praia em plena segunda-feira de trabalho. Diferente da maioria do país que trabalha a semana inteira, a expectativa é que o chefe do Executivo só retorne a Brasília na próxima sexta-feira (23).
Aliás, com seu funk, ele não só revela seu desprezo para com a saúde das crianças, pois, mesmo na praia, ele continua defendendo intensamente que menores de 11 anos não sejam vacinados.
Além de ser contrário à imunização das crianças, Bolsonaro ainda ficou com revoltado porque a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o uso da vacina da Pfizer em menores e 11 anos. O ‘capitão cloroquina’ chegou ao cúmulo de ameaçar publicamente os servidores da Anvisa por terem autorizado a vacinação infantil.
Nesta segunda-feira (20), a agência informou ao governo, à PGR e ao Ministério da Justiça sobre o alto risco de violência. Os ataques se intensificaram nas últimas 24 horas, após Bolsonaro fazer ameaças em sua live de quinta-feira (16). A Anvisa informou no domingo (19) que, após a intensificação de ameaças de violência contra seus diretores e servidores, expediu ofícios reiterando pedidos de investigação e de proteção policial aos seus funcionários. O documento é assinado pelo diretor-presidente, Antônio Barra Torres, e outros quatro diretores.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que deveria zelar pela saúde dos brasileiros, resolveu, para agradar o “chefe”, retardar ao máximo a posição do órgão sobre o início da vacinação. Ele disse que “a pressa é inimiga”. Ele e Bolsonaro, realmente, não estão com a mínima pressa. Se depender deles, não haverá vacinação das crianças. Porém, o Supremo Tribunal Federal (STF), mais uma vez, foi acionado contra mais essa sabotagem de Bolsonaro e deu 48 horas de prazo para o governo apresentar um plano de vacinação das crianças.
“SE DEPENDER DE NÓS, NÃO HAVERÁ VACINAÇÃO DAS CRIANÇAS”
Em entrevista no fim de semana, também no Guarujá, Bolsonaro seguiu ameaçando quem autorizou a vacinação das crianças. Afirmou que se depender dele não haverá vacinação nenhuma. “Se depender de nós, nem a tua é obrigatória, é liberdade. Criança é coisa muito séria. Não se sabe os possíveis efeitos adversos futuros. É inacreditável, desculpa aqui, o que a Anvisa fez. Inacreditável”, disse Bolsonaro para um apoiador.
“Vem da Saúde isso aí. Vacina para criança: primeiro, só autorizado pelo pai”, disse ele, mostrando que, além de negacionista, não entende nada de vacina e sabe menos ainda sobre as famílias ou sobre as normas de saúde pública. Nenhuma criança vai sozinha aos postos de saúde. Elas sempre vão acompanhadas de pais ou responsáveis. Com essa manifestação, só demonstra sua abismal ignorância.
Mais uma vez, em tom de ameaça, atacou governadores e prefeitos. “Se algum prefeito, governador, ditador aí quiserem impor, é outra história. Mas por parte do governo federal tem que ter autorização dos país. Tem que ter receita médica”, acrescentou ele, da praia, em entrevista para a emissora VTV, afiliada do SBT. A entrevista foi um show de ignorância sobre saúde pública.
Em vários países do mundo as crianças já estão sendo vacinadas, incluindo EUA, China e países da União Europeia, com resultados satisfatórios, tanto em relação à eficácia das vacinas contra o vírus, quanto à sua segurança. No Brasil, para aprovar o uso da vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos, a agência ouviu diversas entidades médicas – incluindo a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Imunizações.
PAZUELLO DE JALECO
Rasgando seu diploma e visando uma candidatura qualquer em 2022, Queiroga resolveu se transformar num capacho total do Planalto. Um “Pazuello de jaleco”, como ele já está sendo chamado.
O ministro saiu defendendo a posição indefensável de Bolsonaro. Afirmou que a decisão do governo em vacinar crianças de 5 a 11 anos será tomada somente no dia 5 de janeiro, após audiência pública a ser realizada no dia anterior. Em conversa com jornalistas, Queiroga disse que a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não é decisão suficiente para viabilizar a vacinação para esse grupo.
“[Só a autorização da Anvisa] não é suficiente. Porque, se você olhar todas as políticas públicas do Ministério da Saúde e verificar todas as autorizações que a Anvisa deu em relação a medicamentos, a dispositivos médicos, basta ver o que tem autorizado pela Anvisa e o que está incorporado no SUS [Sistema Único de Saúde]. São avaliações distintas”, disse.
A própria Câmara Técnica de Assessoramento em Imunizações do Ministério da Saúde, acionada pelo governo para retardar o processo, desmentiu Queiroga, declarando-se favorável à vacinação das crianças. O órgão divulgou seu parecer sobre a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19. A câmara técnica aprovou com unanimidade a utilização da vacina da Pfizer no grupo. A reunião ocorreu na última sexta-feira (17), contrariando a informação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de que o encontro aconteceria apenas no dia 22.
Esse comportamento de Bolsonaro contra a vacinação das crianças não é novidade. Sua postura sempre foi contrária às imunizações e demais medidas sanitárias contra o vírus. Foi contra todas as vacinas. Retardou o quanto pode a sua compra. Só quando São Paulo anunciou que iniciaria a vacinação com a CoronaVac, saiu correndo atrás do prejuízo. Chegou a espalhar mentiras, entre as quais a de que as vacinas causariam doenças graves. Teve até seus perfis bloqueados nas redes sociais por espalhar falsas informações sobre a pandemia.
TESE GENOCIDA DA IMUNIDADE DE REBANHO
Bolsonaro é um defensor da tese genocida da imunidade de rebanho. Ou seja, ele defendeu o tempo todo que a população se infectasse amplamente para adquirir “imunidade natural”. O mundo inteiro condenou essa visão, pelo número de mortes que causaria, mas ele insistiu e defende até hoje as aglomerações, o não uso de máscara e a não vacinação da população. Tanto que até hoje ele não se vacinou. Tentou até impedir, sem sucesso, que sua mãe, uma senhoria de mais de 80 anos se vacinasse.
Sua sabotagem às vacinas, e o retardo no início da imunização dos brasileiros, levaram a que mais de 615 mil brasileiros morressem, tornando o Brasil o segundo país do mundo em número absoluto de mortes. Diversos especialistas afirmam que mais de dois terços dessas mortes poderiam ter sido evitadas, não fosse o comportamento irresponsável de Jair Messias Bolsonaro de sabotar as medidas sanitárias de proteção da população e de retardar a compra das vacinas.