“Com sua chegada, o PL não é mais de centro-direita, está perto de algo mais extremista”, destacou o vice-presidente da Câmara. Ao menos oito parlamentares também avaliam deixar o partido após a filiação do ‘capitão cloroquina’
O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), reconheceu, em liminar publicada nesta terça-feira (21), a desfiliação do deputado federal e vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos, do Partido Liberal (PL), sem a perda do mandato. “Acredito que isso abrirá portas para que outras cartas justificadas com um verdadeiro “porque” sejam reconhecidas pelo Supremo”, disse o parlamentar.
O deputado afirmou ainda que a chegada de Jair Bolsonaro (PL) ao Partido Liberal mudou a linha política. “Com sua chegada, o PL não é mais de centro-direita, está perto de algo mais extremista”, comentou Marcelo Ramos. Ele destacou que “não me cabe nessa nova linha programática com a entrada de Bolsonaro”. O deputado disse que tem um diálogo aberto com o partido. “Saí pela porta da frente”, salientou.
Barroso entendeu que a divergência política entre o deputado federal e o PL se instalou e se tornou aguda de forma rápida. “Transcorreram apenas sete dias entre a filiação de Jair Messias Bolsonaro e a comunicação ao parlamentar de que sua permanência na legenda causaria constrangimento insustentável”, disse. Ao menos oito deputados da sigla também avaliam a possibilidade de deixar o partido após a filiação do chefe do Executivo federal.
“Não é possível negar a magnitude dos impactos políticos que advêm do ingresso do presidente da República em uma legenda, especialmente para os filiados que assumam publicamente posição contrária àquele. Esta é a situação do requerente, que possui atuação notoriamente contrária ao governo federal e tem sido, por isso, alvo de ataques do grupo que passará a ter forte influência nos rumos da legenda”, prosseguiu.
Segundo a liminar, “o teor da carta é, ainda, coerente com a narrativa do autor, no sentido de que sua relação com o partido se desgastou após a filiação do presidente da República ao PL, tal como ilustrado pelas declarações públicas de dirigentes locais a respeito da inadequação do requerente à nova configuração política do partido”.
Sobre a futura filiação, o deputado destacou que tomará uma decisão somente no ano que vem. “Preciso esperar um quadro mais claro, não quero correr o risco de me filiar a um partido que resolva apoiar Bolsonaro”, diz.
Bolsonaro tem sido uma ameaça à democracia brasileira além de ter provocado uma grande tragédia humanitária ao sabotar as medidas de proteção da população contra o novo coronavírus. Desde o início da pandemia, Bolsonaro se colocou contra a vacinação, contra o uso de máscara, a favor da rápida disseminação do vírus e foi um incentivador das aglomerações que ajudaram o vírus a se estabelecer.
O resultado desse desatino foram mais de 616 mil mortes, a maioria delas evitáveis, que tornaram o Brasil o segundo país do mundo em número absoluto de mortes, perdendo apenas para os EUA. Tudo isso foi apontado pela CPI da Pandemia do Senado que investigou o comportamento irresponsável e criminoso do Planalto durante o período que que o vírus atacava o Brasil. Bolsonaro foi denunciado pelos senadores como responsável pela tragédia.