“Morte de crianças não demanda urgência”, afirma ministro de Bolsonaro

Jair Bolsonaro e Marcelo Queiroga (Foto: Isac Nóbrega / PR)

“Os óbitos em crianças (por covid-19) estão absolutamente dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais”, afirmou Marcelo Queiroga, nesta quinta-feira (23). A afirmação gerou revolta e, mais do que genocida, mostra caráter infanticida do governo

A CPI da Pandemia, instalada pelo Senado da República, já tinha apontado o caráter genocida da atuação do governo federal ao sabotar a compra de vacinas, ao defender a criminosa tese da imunidade de rebanho e insistir em obstruir as medidas sanitárias e preconizar medicamentos sem nenhuma eficácia para o tratamento da Covid-19.

Agora, a posição do governo em relação à vacinação das crianças mostra um outro caráter ainda mais grave, o infanticídio. Pressionado a iniciar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou nesta quinta-feira, 23, que as mortes pela doença nessa faixa etária estão em nível que não demanda “decisões emergenciais”.

IMUNIZAÇÃO AUTORIZADA PELA ANVISA

A imunização infantil com a vacina da Pfizer foi autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) há uma semana e tem respaldo de toda a comunidade científica. A gestão Jair Bolsonaro, porém, com o intuito de protelar a decisão, resolveu abrir uma inédita consulta pública sobre o assunto e diz que só vai decidir sobre a aplicação em janeiro.

Especialistas afirmam estranhar o procedimento, que não foi adotado quando a Anvisa autorizou a vacinação da população adulta, em janeiro deste ano, nem quando houve o aval para imunizar adolescentes, em junho.

Conforme o Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, ao menos 1.148 crianças de 0 a 9 anos já morreram de Covid no Brasil desde o início da pandemia. O número supera o total de mortes infantis por doenças com vacinas existentes, segundo levantamentos feitos pela Fiocruz.

Numa submissão total às pressões de Bolsonaro, que já declarou ser contra a vacinação das crianças, Queiroga confessou aos jornalistas: “os óbitos em crianças (por covid-19) estão absolutamente dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais. Ou seja, favorece o Ministério da Saúde, que tem que tomar suas decisões em evidências científicas de qualidade”.

Estudos já mostraram que o uso do imunizante nesta faixa etária é seguro e eficaz. A Fiocruz, inclusive, defende que a medida é fundamental para a imunidade coletiva contra a doença. Todas as entidades científicas do país apoiam imunização das crianças. Não só apoiam como alertam para os riscos da nova variante que está se espalhando rapidamente na Europa, Estados Unidos e África do Sul. As crianças não só estão vulneráveis como serão transmissoras da doença para seus familiares.

1.148 CRIANÇAS MORRERAM DE COVID-19 NO BRASIL DESDE O INÍCIO DA PANDEMIA

“Felizmente, o número de óbitos nessa faixa etária é baixa. Isso quer dizer que não devemos nos preocupar? Claro que não. Mas mesmo que as vacinas começassem a ser aplicadas amanhã, isso não teria o condão de resolver o problema de forma retrospectiva”, acrescentou Queiroga.

Ou seja, as 1.148 crianças mortas por Covid-19 não importam para o ministro e muito menos para Bolsonaro que, neste momento, está se divertindo na praias paulistas e se lixando para as crianças.

Acaba de ser divulgado o relatório semanal do NOS (Office for National Statistics – Coronavirus (COVID-19) Infection Survey), feito em parceria com a Universidade de Oxford. É o sistema de vigilância ativo do Reino Unido que faz aleatoriamente RT-PCR em pessoas sem sintomas de COVID. O relatório reflete a semana que encerrou em 16/12/2021. Principalmente por causa da Omicron, a taxa de positividade para RT-PCR para COVID aumentou muito nas últimas semanas em todo o Reino Unido.

É a taxa mais alta desde o início da pandemia. E a maior porcentagem de pessoas com teste positivo para COVID-19 foi entre aqueles com idade entre dois e 11 anos – 5,90% (intervalo de confiança de 95%: 5,21% a 6,65%). Países europeus começaram, na quinta-feira (15), a vacinar crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19. O público é o mais jovem, no continente, a ser incluído na campanha de imunização contra a doença. A vacina que está sendo aplicada é a da Pfizer, em uma dose menor que a dos públicos mais velhos.

O Instituto Butantan já solicitou por duas vezes à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a liberação da vacina CoronaVac para uso em crianças baseado em diversos estudos que confirmaram que a vacina é segura e eficaz nesta faixa etária. O Intituto já informou que dispõe de 15 milhões de doses para serem liberadas imediatamente, assim que for aprovado o seu uso em crianças.

PAÍSES QUE JÁ COMEÇARAM A VACINAR SUAS CRIANÇAS

Argentina: crianças de 3 a 11 anos já podem se vacinar, mas apenas com o imunizante da Sinopharm, que não está disponível no Brasil. Aplicado em duas doses, ele é feito de vírus inativado – assim como a CoronaVac, que é aplicada no Brasil.

Canadá: aprovou a imunização de crianças de 5 a 11 anos – com a vacina da Pfizer – em meados de novembro e começou a aplicar a vacina no final do mesmo mês.

Chile: começou a vacinar crianças de 6 a 11 anos em 27 de setembro.

China: governos locais de ao menos 5 províncias emitiram avisos nesta semana anunciando que crianças de 3 a 11 anos serão obrigadas a receber a vacina, segundo a agência de notícias americana Associated Press (AP). Em ao menos uma delas – a província de Hebi, no norte do país – , a imunização já começou.

Cuba: já começou a vacinar crianças a partir dos 2 anos – menor faixa etária do mundo – com uma vacina produzida localmente, a Soberana 02.

Estados Unidos: começou a vacinar crianças de 5 a 11 anos no início

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