
Com muito estardalhaço na mídia governamental, a vice-presidente de Ortega, Rosario Murillo, anunciou que o governo libertou mais de mil presos comuns na terça-feira (21), de modo que, com a decisão, cerca de 4 mil condenados teriam sido libertados em 2021.
A medida que, segundo a esposa do presidente, implica “uma nova oportunidade para endireitar o caminho”, foi justificada com base nas datas do Natal, que representam “alegria e felicidade” para os cidadãos nicaraguenses.
No entanto, o governo Ortega não disse nenhuma palavra sobre os presos políticos que permanecem nas prisões do país, os mais de 160 que estão atrás das grades e denunciaram, por meio de suas famílias, maus-tratos e tortura, segundo o jornal ‘La Prensa’.
Começando pela filha da ex-presidente Violeta Chamorro, Cristiana Chamorro Barrios, considerada por pesquisas eleitorais com chances de vitória na eleição do mês passado, têm ainda vários pré-candidatos como o ex-embaixador Arturo Cruz, o acadêmico Félix Maradiaga e Juan Sebastián Chamorro.
E tem ainda o caso de Dora María Téllez e Hugo Torres, ambos comandantes guerrilheiros, com serviços de alto risco prestados à luta contra a ditadura somozista e ícones da Revolução Sandinista, assim como Víctor Hugo Tinoco, ex-vice-chanceler do governo sandinista dos anos 1980.
Em novembro, a Corte Interamericana de Direitos Humanos acusou o governo por não ter cumprido as medidas adotadas pela organização com relação à libertação de mais de 20 presos políticos.
73% CONDENAM AS DETENÇÕES POR MOTIVO POLÍTICO
Pesquisa realizada pela empresa CID Gallup constatou que 73% dos nicaraguenses consideram que as detenções de presos políticos no país são “injustas” e 67% acham que os julgamentos políticos dos 167 presos de consciência pelo governo de Daniel Ortega deveriam ser anulados e essas lideranças libertadas.
Das pessoas consideradas prisioneiras de consciência pelo governo dezenas foram detidas nos meses anteriores à eleição de 7 de novembro, 40 entre o final de maio e outubro e outras 27 no início de novembro. Entre elas há sete candidatos presidenciais, lideranças políticas, jornalistas, empresários, ativistas dos direitos humanos, estudantes e ex-diplomatas.
Na pesquisa, patrocinada pelo site Confidencial, a empresa consultou um total de 1000 nicaraguenses entre 5 e 13 de dezembro, em todo o país, e os resultados apresentam uma margem de erro de +/- 3,1 pontos e um nível de confiança de 95%.
Em 8 de novembro passado, durante um ato de comemoração por sua reeleição sem nenhuma concorrência, Ortega chamou os presos políticos de “filhos da puta” e defendeu que os Estados Unidos “deveriam levá-los embora”.
81% dos entrevistados disseram não concordar que Ortega os chamasse de “filhos da puta”, considerando essa uma avaliação sem sentido e não condizente com um presidente.
O CID Gallup perguntou aos nicaraguenses se os Estados Unidos deveriam levar os presos políticos “porque não são nicaraguenses como disse o presidente Ortega” e apenas 16% dos consultados disseram concordar, enquanto 70% consideram que devem ser libertados e desfrutar de seus direitos como nicaraguenses.
Da mesma forma, apenas 20% disseram concordar com que o discurso de Ortega visa à defesa da soberania do país, como ele afirmou recentemente para justificar suas ações repressivas contra personalidades que eram pré-candidatos e hoje estão sendo julgados por supostos crimes de traição à pátria, conspiração e lavagem de dinheiro, “criminosos que atentam contra o país”, na descrição de Ortega.
A entidade defendeu que as posições adotadas por Ortega e Murillo constituem um ato de desacato à obrigatoriedade das decisões ditadas pelo órgão, ao mesmo tempo em que atenta contra o princípio internacional de cumprir de boa fé suas obrigações convencionais, divulgou o jornal local La Prensa.