
A malha envolvendo agentes do serviço secreto e integrantes de governo no período de Macri, já denominada de “Gestapo macrista”, engendrada para intimidar e incriminar alguns dos mais destacados dirigentes sindicais tem investigação iniciada por determinação da Comissão Bicameral de Inteligência do Congresso da Argentina
A Comissão Bicameral de Fiscalização de Organismos e Atividades de Inteligência começará a investigar três ex-integrantes da Agência Federal de Inteligência (AFI) que convocaram a reunião com membros do governo da província de Buenos Aires (com a macrista Maria Eugenia Vidal como governadora). Na reunião, realizada em junho de 2017, se falou sobre a conformação de uma “Gestapo” para atuar contra os sindicatos.
Após a decisão, tomada no dia 28, o dirigente da Confederação Geral dos Trabalhadores, Pablo Moyano, denunciou as tentativas de incriminá-lo e até de prendê-lo e que só não foram adiante porque um juiz se negou a ceder a pressões neste sentido.
“Nossa organização sindical foi a mais prejudicada pelo macrismo, por rechaçarmos a reforma trabalhista [como o governo macrista denominava o arrocho sobre os trabalhadores]. Aí começou a perseguição. Era uma forma de calar a aqueles dirigentes que se opunham a esse modelo econômico que levou a esse endividamento desastroso”, declarou Pablo Moyano.
Também foi localizado um vídeo onde participaram de uma reunião funcionários de governo, empresários e espias para armar uma ação contra líder da UOCRA, entidade que reúne os trabalhadores da consetução, seção de La Plata, Juan Pablo “Pata” Medina.
Os integrantes da AFI que estarão sob investigação desde já são: o ex-diretor administrativo de Asuntos Jurídicos da AFI, Juan Sebastián de Stefano, o ex-chefe de Gabinete Darío Biorci e o ex-director operacional de Contra-inteligência Diego Dalmau Pereyra.
Na citada reunião, o secretário do Trabalho da província de Buenos Aires, Marcelo Villegas, declarou: “Acreditem em mim que se eu pudesse, e negarei em qualquer lugar, se eu pudesse ter uma Gestapo, uma força de ataque para acabar com todos os sindicatos, o faria”, declarações feitas e gravadas no dia 15 de junho de 2017, durante uma reunião com empresários da construção civil e outros funcionários no Banco Província de La Plata em que os macristas garantiam e asseguravam uma estratégia antissindical para a retirada de direitos, incluindo perseguição a sindicalistas a ser coordenada com o poder Judiciário.
De acordo com o combinado, as próprias empresas tinham que gerar tensão com os trabalhadores, retirando-lhes algum direito básico, como a alimentação, a fim de que a entidade sindical paralisasse as obras. Em seguida, os empresários dirigiam-se à Secretaria do Trabalho, encaminhando denúncias previamente combinadas sobre hipotéticas intimidações e chantagens. Feito isso, o processo caminhava para o Judiciário, que a julgaria como “extorsão” e “ameaça”, colocando os dirigentes no banco dos réus e inviabilizando a ação sindical.
Na oportunidade, o então secretário do Trabalho explicou também que o plano não era só agir contra os sindicatos, mas também contra os funcionários públicos: “as leis são as leis, tenho que modificar a lei 10.430, retirar a estabilidade dos funcionários públicos da província, algo que um neto meu verá daqui a 100 anos”.
Entre outros, encontravam-se presente ao encontro Roberto Gigante, ex-secretário de Infraestrutura da província; Adrián Grassi, ex-subsecretário de Justiça da província; Juan Pablo Allan, senador; Julio Garro, prefeito de La Plata e Fabián Cusini, empresário da construção e especulador imobiliário.
Três meses depois desta reunião, em 27 de setembro, o representante da União Operária da Construção da República Argentina (Uocra) em La Plata, Juan Pablo “Pata” Medina, foi preso, com as entidades empresariais festejando publicamente. Da mesma forma, a ex-governadora María Eugenia Vidal e o ex-presidente Mauricio Macri celebraram o feito com grande estardalhaço, usando a mesma terminologia utilizada no encontro.
“Temos que reconhecer o trabalho da Justiça neste caso. Não há mais lugar para as máfias, para a extorsão na Província”, sublinhou a governadora. “O que aconteceu em La Plata não é um acidente, é parte central daquilo porque lutamos, dos valores que precisamos instalar na Argentina”, comemorou Macri.
Depois de passar três anos e quatro meses na prisão, Medina aguarda o julgamento oral por extorsão, associação ilícita e lavagem de dinheiro. “Quero que eles mostrem que tenho carros de última geração, uma Ferrari, um helicóptero e tudo o que disseram”, declarou o sindicalista, frisando que “o processo judicial foi orquestrado pela administração de Mauricio Macri e pelos serviços de inteligência”.