Ela repetiu o que o “mito” queria fazer em sua live. Vazou dados pessoais dos médicos que detonaram obscurantismo antivacina do governo. Objetivo era atiçar suas milícias digitais fascistas
A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, seguindo os passos do “mito”, Bolsonaro, que ameaçou divulgar os nomes dos servidores da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que aprovaram a vacina para crianças, confessou ter compartilhado um documento que continha dados pessoais de médicos que participaram da audiência pública sobre vacinação infantil.
As ameaças de morte, que já vinham sendo feitas nas redes sociais, contra os servidores da Anvisa, se intensificaram depois que Bolsonaro usou sua live para atacar o técnicos do órgão. Agora, a deputada Bia Kicis divulgou em uma rede de WhatsApp os dados pessoais de três médicos que participaram da audiência pública realizada pelo governo para protelar o início da vacinação infantil. Os documentos continham dados como e-mail, celular e CPF dos médicos, e foram publicados nas redes sociais.
Os médicos que tiveram os dados pessoais vazados são: Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações; Marco Aurélio Sáfadi, da Sociedade Brasileira de Pediatria; e Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. Eles participaram de audiência pública na terça-feira (4). Os especialistas apresentaram argumentos contundentes em defesa da vacina contra a Covid em crianças de 5 a 11 anos, postura contrária a que Jair Bolsonaro vem defendendo publicamente.
A deputada confessou que, após os documentos serem publicados nas redes sociais, ela teria recebido uma ligação do Ministério da Saúde pedindo que o post fosse excluído. “Postaram nas redes e o pessoal do Ministério ligou dizendo que tinham dados sensíveis. Eu entrei para olhar e tinha nome, celular, e-mail e CPF, dados que de sensível não tem nada”, afirmou a deputada, tentando minimizar seu crime. O pedido do Ministério foi ocasionado pela pressão que os jornalistas fizeram sobre o ministro Marcelo Queiroga. Ele respondeu que não era “fiscal”, quando foi questionado sobre o vazamento.
O deputado Alexandre Padilha (PT-SP) pediu nesta sexta-feira (7) à Procuradoria Geral da República (PGR) que investigue a deputada Bia Kicis (PSL-DF) pelo vazamento de dados pessoais de três médicos que defenderam a vacinação de crianças contra a Covid-19. No pedido apresentado à PGR, Alexandre Padilha classifica como “inaceitável” a conduta da deputada, que, para o petista, “fere os princípios básicos da ética humana e da lei penal”. Padilha disse, ainda, que a atitude de Kicis “coloca em risco a vida” dos profissionais.
“Em um contexto de agravamento do desrespeito aos preceitos civilizatórios e democráticos, com ataques estimulados ideologicamente pelo ódio e desprezo pela vida, a ação da deputada coloca em risco a vida de profissionais sérios que voluntariamente aceitaram participar de debate público sobre tema da maior relevância e atualidade, qual seja, a vacinação de crianças contra a Covid-19”, afirma Padilha no documento apresentado à PGR.