“Dada a magnitude das perdas com a pandemia e sua sobreposição à grave crise de 2015-2016, esta evolução recente deve ser vista com grande preocupação. Isso especialmente porque a indústria global está passando por um processo profundo de transformação tecnológica e de busca por resiliência, apoiado por políticas industriais ambiciosas em todas as principais potências mundiais, a exemplo dos EUA, União Europeia e China”, argumenta o órgão
Ao analisar o resultado da produção industrial do mês de novembro do ano passado, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com um declínio de 0,2% em relação a outubro, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) destacou que apesar de pouco intenso “foi o sexto resultado negativo consecutivo e com uma amplitude setorial relevante”.
“O macrossetor de bens de capital, que até pouco tempo atrás era o único sem grandes dificuldades para crescer, foi quem levou a indústria geral ao vermelho no penúltimo mês de 2021. Registrou -3% frente a out/21 na série com ajuste sazonal e parece ter entrado em uma nova fase, em que o sinal negativo prepondera”, diz o texto “A queda continua”, publicado no site da entidade.
“Os demais macrossetores não saíram do lugar ou cresceram muito pouco”.
• Indústria geral: -0,6% set/21; -0,6% em out/21 e -0,2% em nov/21;
• Bens de capital: -1,3%; +1,8% e -3,0%, respectivamente;
• Bens intermediários: -0,2%; -0,9% e 0%;
• Bens de consumo duráveis: -0,6%; -1,8% e +0,5%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -0,2%; -1,3% e 0%, respectivamente.
O Iedi aponta que as perdas foram além de bens de capital e atingiram quase metade (46%) dos 26 ramos industriais pesquisados pelo IBGE. Variações negativas de destaque por sua intensidade vieram de borracha e plástico (-4,8% ante out/21), perfumaria e produtos de limpeza (-4,5%), móveis (-3,4%), metalurgia (-3,0%) e produtos de metal (-2,7%), entre outros.
QUEDA DE -4,4% EM RELAÇÃO A NOVEMBRO DE 2020
“No acumulado do ano até nov/21, o desempenho continuou positivo (4,7%), mas apenas em função das bases baixas de comparação da primeira metade de 2020. Com o fim deste efeito estatístico favorável, a indústria já acumula 4 meses de retração na comparação com o mesmo período do ano anterior. Ante nov/20, o recuo foi de -4,4%”, ressalta.
O instituto destaca a “demanda fragilizada, gargalos logísticos e nas cadeias de suprimento e pressões de custo são desdobramentos que ainda estão bastante presentes no setor”.
“Se compararmos com o mês imediatamente anterior ao choque da Covid-19 no Brasil, isto é, ante fev/20, o nível de produção da indústria em nov/21 era 4,3% inferior”, assinala. “Ou seja, regredimos nada menos do que 16 meses e voltamos para um ponto não muito distante daquele que estávamos em jul/20”.
Os representantes do setor alertam para a falta de políticas industriais a exemplo de outros paíse do mundo. “Dada a magnitude das perdas com a pandemia e sua sobreposição à grave crise de 2015-2016, esta evolução recente deve ser vista com grande preocupação. Isso especialmente porque a indústria global está passando por um processo profundo de transformação tecnológica e de busca por resiliência, apoiado por políticas industriais ambiciosas em todas as principais potências mundiais, a exemplo dos EUA, União Europeia e China”.
“ESCALADA DA INFLAÇÃO E O ALTO DESEMPREGO DETERIORAM O PODER DE COMPRA DA POPULAÇÃO”
A escalada da inflação e o desemprego elevado deteriorando o poder de compra da população também são destaques no texto do Iedi.
“Os revezes mais expressivos atingem os bens de consumo, refletindo a escalada da inflação e o alto desemprego, que deterioram o poder de compra da população, bem como as rupturas das cadeias produtivas, já que muitos de seus setores reúnem um grande número de partes e componentes em sua produção”.
“Bens de consumo duráveis, em nov/21, estavam 23,3% abaixo do pré-pandemia, enquanto em dez/20 superavam em 7,4% este patamar. Bens de consumo semi e não duráveis também regrediram: em dez/20, estavam 0,3% acima do pré-pandemia e, em nov/21, 8% abaixo”.
“No macrossetor de bens intermediários a involução ao longo de 2021 é sintoma da desorganização das cadeias. Sua produção em dez/20 era 4,7% superior à do pré-pandemia, isto é, de fev/20, mas agora em nov/21 encontra-se em patamar 1,0% inferior”, destaca o documento.