O que a China significa para o pós-pandemia é o tema desta semana do Meia Noite em Pequim, na TV Grabois, apresentado pelo pesquisador e economista Elias Jabbour, inspirado em um diálogo entre a ex-deputada Manuela d’Ávila e o ex-presidente uruguaio, José Mujica, sobre se o mundo poderia sair melhor do que entrou.
E, apesar de tantas expectativas quanto questões como a volta das políticas industriais e da atuação do Estado na economia e até a eleição de Joe Biden, Jabbour tende a concordar com Manuela de que, usando como métrica as questões trabalhistas, a resposta não é favorável – pelo menos no Ocidente.
Enquanto até à década de 1990 o trabalho dava acesso à dignidade, hoje se limita em muitos casos a permitir a miserabilidade. Sob a pandemia, se agravou a difusão do processo de uberização, os entregadores de fast-food.
Já na China um dos aspectos marcantes das mudanças em curso é a recente regulação pelo governo chinês desse trabalho que é o símbolo da precarização total aqui no Ocidente. Regulação que equiparou seus direitos aos dos trabalhadores industriais.
Uma empresa que lidera esse setor foi multada em 300 milhões de dólares por não atender às exigências da legislação trabalhista chinesa.
No mesmo sentido, Jabbour assinala que o aumento dos salários nos últimos dez anos foi superior ao aumento de produtividade.
Destaca o livro “Maonomics”, de Loretta Napoleoni, que faz uma comparação interessantíssima: enquanto no Ocidente os direitos sociais estão ladeira abaixo, na China, pelo contrário, eles estão em ascensão.
Nos últimos 10 anos, a China urbanizou 130 milhões de pessoas. Aquele camponês taoísta, rebelde, sizudo, que por milênios se levantou contra dinastias ineptas, corruptas, hoje é um trabalhador industrial, e toda essa combatividade agora está a serviço de fazer a China ir à frente.
São 150 milhões de trabalhadores fabris, que são o motor desse processo, existe um aperfeiçoamento do bloco de poder liderado pelo Partido Comunista da China. E são um veio determinante para as mudanças que o PCCh está encaminhando.
Em contraposição ao fim de época no Ocidente, marcado pelo ceticismo, misticismo e negacionismo, pela direita e pela esquerda.
Apesar de todas as contradições que envolvem a sociedade chinesa, é de lá que vem a esperança, ele conclui.