O presidente do Fórum Nacional das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, afirmou que, com a implosão das mesas de negociação e diálogo com os servidores no governo Bolsonaro, há ânimo e insatisfação suficiente para que a categoria mobilize uma greve geral nas próximas semanas, em defesa do reajuste salarial.
“Havia um histórico de negociação, uma mesa permanente de negociação, que vinham desde o primeiro governo Lula até o presidente Temer, mesas instaladas que recebiam, ouviam e acolhiam as demandas da categoria, dando respostas nem sempre satisfatórias, mas pelo menos uma resposta. Estas mesas de negociação foram implodidas no governo Bolsonaro, e não temos mais este canal de diálogo com o Ministério da Economia”, disse Rudinei em entrevista ao Congresso em Foco.
O reajuste da inflação para 2022 foi prometido apenas para as categorias da segurança pública como aceno de Bolsonaro em busca de fortalecer sua influência entre os policiais para as eleições deste ano. “As demais categorias estão à deriva no processo de construção dialógica”, denunciou Rudinei.
“A gente enxerga os policiais como trabalhadores, e disputam pela reposição de perdas como os demais servidores. É válido que eles tenham esse aceno do governo – o que não é admissível é que outros 1,060 milhão de servidores sejam esquecidos. Defendemos os reajustes dos policiais, mas para os demais servidores também”, afirmou o presidente do Fonacate.
“Estamos trabalhando com os demais servidores, baseado na última reposição que houve com a maior parte do funcionalismo, em janeiro de 2017. Até aqui a gente já tem um acumulado de 27,2%, e a única possibilidade que temos possível é esperando o governo dizer o que é possível. Apresentamos esse percentual e agora iremos esperar o governo”, explicou Rudinei.
A falta de compensação das perdas, que se arrastam desde 2017, é a principal pauta dos servidores. Rudinei lembra que o reajuste não é apenas um quesito salarial, mas representa o fortalecimento dos serviços públicos, que na pandemia se mostraram mais importantes que nunca.
“O combate direto à pandemia pelo SUS, se considerarmos a pesquisa, descobrimos que 95% da pesquisa no Brasil é feita por instituições públicas, e isso está mais que reconhecido. Há um esforço incrível nas universidades para se reinventar e continuar ministrando aulas à distância, recebendo novos alunos. Espero que todo esse trabalho seja reconhecido, porque o serviço público não parou, não pode parar durante a pandemia – pelo contrário, teve de se reinventar e dobrar esforços para não deixar o país afundar”, destacou Rudinei.
O presidente do Fórum lembra, porém, que não foi só na Saúde que os servidores se mostraram essenciais, ainda que estes tenham tido merecidamente mais destaque nesse período.
“Vimos por exemplo que o segmento de assistência social foi superimportante, e o auxílio emergencial só foi possível porque havia uma rede estruturada para levar o benefício àqueles que mais precisavam. Nas áreas fiscais, que eu conheço um pouco mais: a Receita continuou arrecadando e, recentemente, superando as metas de arrecadação. A área fiscal do governo viabilizou toda a transferência de recursos para estados e municípios poderem enfrentar a pandemia. O serviço público trabalhou como nunca nestes últimos dois anos”, afirmou.
Para Rudinei, o momento é de insatisfação e revolta com o governo Bolsonaro e que o clima é para a construção de uma greve geral do funcionalismo.
“Há clima para greve geral. Tem um sentimento que é mais do que de insatisfação, eu diria até de indignação que cresceu da segunda metade de dezembro para cá, visivelmente. Estamos vendo que as categorias estão se mobilizando, fazendo assembleias, deliberando pela adesão ao dia 18. E o governo federal fez alguns acenos em tratar alguns segmentos do funcionalismo público, acirrando cada vez mais ainda os ânimos”, disse.
O dirigente do Fórum disse, ainda, que o contexto de pandemia traz desafios que precisam ser pensados para a construção do movimento, em especial no que tange o atendimento na Saúde, setor fundamental nesse momento de recrudescimento da crise sanitária.
“Então eu vejo que, por um lado, temos clima para intensificação – mas, por outro, não podemos desconsiderar o contexto da pandemia, do teletrabalho, e dos meses de janeiro e fevereiro, que são de férias. Além disso: como pensar que os profissionais da área de saúde, que são um grande contingente do funcionalismo, vão parar neste momento? É impossível pensar em postos de saúde e UBS parados agora. É uma situação nova que teremos de lidar com ela de alguma maneira completamente nova. Se por um lado tem clima, por outro as circunstâncias dificultam muito uma greve geral como a que foi em 2012, a maior da história”, ponderou.