Ex-presidente reafirmou a necessidade de construção de uma força política “capaz de dar sustentação nas mudanças que nós precisamos fazer”, acrescentando a necessidade de “fazer o sacrifício que for necessário para recuperarmos a democracia e colocarmos na ordem do dia a desigualdade como prioridade e não o teto de gastos”
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou a entrevista nesta quarta-feira (19) com parte da imprensa alternativa fazendo duras críticas ao governo Bolsonaro. “Nós, que participamos da luta pela redemocratização do Brasil, não esperávamos tantos retrocessos”, disse ele. Lula creditou a Bolsonaro pelo menos metade das mortes por Covid ocorridas no Brasil.
“Se ele tivesse ouvido a ciência, a medicina, os governadores, os secretários de Saúde e a Organização Mundial da Saúde, certamente nós não teríamos o desastre que nós tivemos com a pandemia no nosso país”, disse Lula. “Ele fez questão de destratar tudo aquilo que era necessário de ser feito, inclusive na escolha dos ministros da Saúde”, acrescentou. Lula criticou o fato do governo fazer uma audiência pública para decidir se deveria vacinar ou não as crianças.
NÃO DECIDI AINDA SE SEREI CANDIDATO
“Não decidi ainda se serei candidato mas o que eu garanto é que teremos que fazer o sacrifício que for necessário para recuperarmos a democracia e colocarmos na ordem do dia a desigualdade como prioridade e não o teto de gastos”, disse Lula ao criticar o compromisso fiscalista do governo “que tudo faz para garantir dinheiro para pagar o sistema financeiro e não faz nada para o pagamento da dívida social histórica do país”.
Lula afirmou que o sistema financeiro, quando for discutir com o presidente da República, não poderá discutir somente os seus interesses. “Terá que discutir os problemas dos milhões de brasileiros”. “Se eu for candidato é para tentar provar que esse povo pode ser feliz. “A solução para o país, alguns podem não gostar, é colocar o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda”, disse Lula.
“A gente não precisa ler o Manifesto Comunista nem o Livro Verde do Kadafi, a gente só tem que ler a Constituição Brasileira para saber que tudo o que a gente quer está estabelecido na nossa Constituição”, prosseguiu o ex-presidente. “Nós vamos fazer valer aquilo que nós já aprovamos”, disse Lula, referindo-se à Constituição.
“Se eu for candidato não será para ser protagonista. Será para ganhar a eleição, numa situação muito pior economicamente, socialmente do que nós pegamos o Brasil em 2003”, avaliou Lula. “O Congresso está muito pior do que estava em 2003. Ganhar uma eleição é mais fácil do que governar. E governar significa que você tem que adquirir possibilidade muito grande conversar com as pessoas. Por isso é que nós precisamos fazer alianças”, acrescentou.
EU NÃO TEREI NENHUM PROBLEMA EM FAZER UMA CHAPA COM ALCKMIN
“Eu não terei nenhum problema se tiver que fazer uma chapa com o Alckmin. Só não posso dizer que vou fazer porque o Alckmin tem que definir pra que partido ele vai. Vamos ter que saber se o partido para onde ele vai concorda em fazer aliança com o PT. Nem as nossas alianças mais certas estão fechadas. O tempo está chegando. Nós temos que definir a questão das federações, das alianças políticas”, prosseguiu Lula.
“Nós precisamos construir uma força política capaz de dar sustentação nas mudanças que nós precisamos fazer”, defendeu. “Com qual esquerda eu devo fazer acordo? Porque o PT é o maior partido de esquerda da América Latina. O PSB se diz de esquerda e nós estamos trabalhando juntos, o Psol, nós também estamos juntos. Qual a esquerda que você vislumbra que está fora disso para que nós tenhamos que conversar?”, indagou Lula a um dos repórteres que o questionou a respeito. “O que é importante é que vamos conversar com o centro e com a centro direita”, acrescentou.
Lula reafirmou a intenção construir a unidade com o PSB, mas reconheceu as dificuldades para acertar os acordos regionais. Ele afirmou que o PSB tem o direito de lançar o candidato ao governo de Pernambuco, mas que o PT nunca esteve tão perto de conquistar o governo de São Paulo. O partido pretende lançar a candidatura de Fernando Haddad ao governo e o PSB também almeja lançar Márcio França para o cargo. Confira a entrevista na íntegra: