A Prefeitura de São Paulo divulgou, na noite deste domingo (23), dados alarmantes sobre o crescimento da população em situação de rua na capital: em dois anos o aumento foi de 31%. Atualmente, há 31.884 pessoas vivendo nas ruas da cidade, em 2019 era 24.344 pessoas.
O aumento de 7.540 pessoas equivale a toda a população em situação de rua no Rio de Janeiro em 2020, segundo compara a prefeitura de São Paulo.
“Outra comparação que dá a dimensão da nova realidade paulistana indica que o contingente em situação de rua já é maior que o número de habitantes da maioria das cidades do Estado. Para se ter uma ideia, das 645 cidades paulistas, 449, ou 69,6% do total, têm quantidade de moradores menor do que a população em situação de rua aferida na cidade de São Paulo”, destacou a Prefeitura.
Os dados divulgados fazem parte do 1º censo da população de rua realizado na cidade desde o início da pandemia. O último foi feito em 2019 e o próximo estava agendado para 2023, mas foi antecipado para medir as consequências socioeconômicas da crise sanitária. De acordo com a prefeitura, a mudança na data do estudo possibilita a criação de políticas públicas que amenizem a situação.
“Enquanto em 2019 havia 24.344 pessoas em situação de rua na cidade, no final de 2021, havia 31.884 pessoas identificadas no Censo. Deste total, 19.209 foram recenseadas quando estavam em logradouros públicos e outras 12.675 enquanto estavam abrigadas nos Centros de Acolhida da rede socioasssistencial do município”, informou a prefeitura.
BAIRROS
Os distritos da subprefeitura da Mooca foram os que registraram o maior aumento de concentração de pessoas em situação de rua, com o aumento de 1.419 para 2.254 em dois anos. A região da subprefeitura da Sé também se destacou negativamente, ao registrar a chegada de mais 973 pessoas.
De acordo com as entrevistas, os motivos de a população de rua se concentrar em sua maioria nos bairros ao redor da área central continuam os mesmos: mobilidade, trabalho e facilidade de alimentação.
O relatório final indica crescimentos preocupantes, acima de 100%, em diversos distritos na zona norte (Perus, Vila Maria, Vila Guilherme, Santana, Tucuruvi), zona leste (Penha, Itaquera, Ermelino Matarazzo, São Miguel Paulista, Sapopemba, Guaianases e Itaim Paulista), e zonas sudeste e sul (Ipiranga, Vila Mariana, Jabaquara e M’Boi Mirim).
MORADIAS IMPROVISADAS
O número do que os recenseadores classificam como “moradias improvisadas” (barracas) nas ruas cresceu 330% em 2021, considerando-se os números de 2019. Enquanto no recenseamento anterior havia 2.051 pontos abordados com barracas improvisadas, em 2021 foram computados 6.778 pontos.
Na mesma esteira cresceu também o número de entrevistados informando ter, no local em que foram abordados nas ruas, a companhia de alguma pessoa que considera ser integrante de sua família. Enquanto em 2019, 20% da população em situação de rua deu esta declaração, em 2021 o percentual subiu para 28,6%. Esse é um dos indicadores que sinaliza para o crescimento do número de famílias vivendo nas ruas da cidade.
O Padre Júlio Lancellotti, que se dedica há décadas à população em situação de rua, não a vê plenamente contemplada nos censos municipais.
“Não é só aquele que está na rua ou está no abrigo. Às vezes ele está em buracos, em lugares inacessíveis. E se você não tem contato com essas pessoas, você não é capaz de saber que elas existem”, afirma Júlio Lancellotti.
PERFIL
O levantamento mostrou que 96,44% das pessoas em situação de rua na cidade são nascidas no Brasil e apenas 3,56% são estrangeiros. Do total, 39,2% das pessoas são naturais da cidade de São Paulo, 19,86% são de outras cidades do estado de São Paulo e 40,94% são naturais de outros Estados do Brasil. As pessoas de outros Estados são oriundas principalmente da Bahia, 8,47%, Minas Gerais, 5,44% e Pernambuco, 5,28%.
O principal motivo que trouxe 52% das pessoas não naturais de São Paulo para a cidade foi a busca por trabalho/emprego. Já os dados sobre educação mostram que 93,5% das pessoas em situação de rua na cidade frequentaram escola, 92,9% sabem ler e escrever, 4,2% concluíram o ensino superior, 21,4% têm ensino médio completo e 15,3% concluíram o ensino fundamental.
Os principais motivos apontados pelos entrevistados para estarem situação de rua foram os conflitos familiares (34,7%), a dependência de álcool e outras drogas (29,5%) e a perda de trabalho/renda (28,4%).
O levantamento também mostra que após a situação de rua 42,8% não trabalham, 33,9% estão vivendo de bicos, 16,7% trabalham por conta própria, 3,9% empregados sem registro em carteira e 2,2% empregados com registro em carteira
O perfil do morador de rua de São Paulo em 2021:
* 96,44% das pessoas em situação de rua na cidade são nascidas no Brasil;
* 39,2% das pessoas são naturais da cidade de São Paulo;
* 19,86% são de outras cidades do estado de SP;
* 40,94% são naturais de outros estados brasileiros;
* 3,56% são estrangeiros;
* Idade média: 41,7 anos;
* 70,8% deles são pretos ou pardos;
* 93,5% das pessoas frequentaram escola;
* 92,9% sabem ler e escrever;
* 21,4% têm ensino médio completo;
* 15,3% concluíram o ensino fundamental;
* 4,2% concluíram o ensino superior.