A truculência do governo central da Espanha contra a realização do referendo separatista da Catalunha fez o povo catalão entrar em greve geral na terça-feira (3).
A política de submissão ao arrocho da Troika aplicada por Rajoy e seu partido, por piorar as condições de vida dos trabalhadores em toda a Espanha, teve um efeito adicional na Catalunha que foi reforçar a corrente separatista na região.
“Não estou aqui para defender a independência da Catalunha, não estou de acordo com ela, mas estou aqui para defender nossa paz e nossa liberdade e quero manifestar abertamente meu repúdio aos abusos sofridos no domingo”, afirmou a professora Clara, que entrou em greve e participou da manifestação no centro de Barcelona.
A convocação da greve se deu sob o lema de luta contra a “reforma trabalhista, a militarização da cidade e a miséria dos trabalhadores”, e ocorreu dois dias após a forte repressão por parte da Polícia Nacional e da Guarda Civil, que a mando do premiê Rajoy deixou pelo menos 844 pessoas feridas durante o processo de votação. Apesar da repressão, 42% dos 5,3 milhões de eleitores conseguiram votar, dos quais 90% (2,02 milhões) foram favoráveis à separação. 176 mil votaram “não” e 700 mil votos e respectivas urnas foram sequestrados pela polícia.
A convocação da greve partiu do movimento sindical, envolvendo centrais sindicais como CCOO (Comissões Operárias) e UGT (União Geral de Trabalhadores), e também teve o apoio do setor patronal, com pequenas e médias empresas decidindo fechar voluntariamente durante a greve. Também participaram da convocação a Assembleia Nacional da Catalunha, a Òmnium Cultural, a Associação Catalã de Universidades Públicas, o Conselho Nacional da Juventude da Catalunha, a Federação de Assembleias de Pais e Mães da Catalunha, as Organizações pela Justiça Global, a União de Federações Desportivas da Catalunha. Até clubes de futebol, como o “Espanyol” e “FC Barcelona”, aderiram à greve.
Pela manhã, a imprensa espanhola noticiava 12 estradas catalãs paralisadas e ao menos 24 manifestações nas principais cidades da região. O protesto teve adesão dos funcionários públicos, em especial dos bombeiros, que foram homenageados pela multidão que cantava “os bombeiros são nossos”, enquanto passava a coluna de oficiais uniformizados durante a manifestação. A homenagem fazia referência a iniciativa dos bombeiros que se colocaram a frente das pessoas para protegê-las da opressão policial na votação de domingo.