Para o presidente da Rússia, Vladimir Putin, Washington vem usando a Ucrânia como uma ferramenta para conter a Rússia. “Seu principal objetivo é conter o desenvolvimento da Rússia. Nesse sentido, a própria Ucrânia é apenas uma ferramenta para atingir esse fim”, acrescentou.
Para Putin, o que tentam fazer de diferentes maneiras é “atrair a Rússia para um conflito armado e forçando aliados na Europa a impor duras sanções contra Moscou, ou atraindo a Ucrânia para a Otan e estabelecendo sistemas de ataque lá”, apontou em Moscou, o presidente russo, em seu primeiro comentário público sobre a resposta dos EUA e Otan às propostas russas.
Denuncia ainda que “não vimos nossas três demandas principais consideradas adequadamente: interromper a expansão da Otan, recusar o uso de sistemas de armas de ataque perto das fronteiras russas e devolver a infraestrutura militar do bloco na Europa ao que era em 1997”, afirmou, para restauração na Europa do princípio da segurança coletiva e indivisível, proclamado pela primeira vez no Ato de Helsinki de 1975 e depois reiterado na Declaração de Istambul de 1999 e na de Astana de 2010.
A declaração de Putin foi feita em coletiva em Moscou após reunião com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que durou quase cinco horas.
O chanceler Sergei Lavrov anunciou que o trabalho “interministerial” sobre as respostas dos EUA/Otan já está concluído e, de acordo com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a posição da Rússia será comunicada assim que Putin “julgar necessário”.
Na coletiva, Putin voltou a lembrar a promessa dos EUA e da Otan, na época da reunificação alemã, de que não avançariam a infraestrutura da Otan para o leste “uma polegada sequer”.
Hoje a infraestrutura da Otan está na Polônia, na Romênia e nos países bálticos, salientou. Ou seja, a Otan “falou uma coisa e fez outra”. “Como nosso povo diz, eles simplesmente “trapacearam”.
Putin enfatizou, ainda, que a alegada política de “portas abertas” da Otan não está explicitada em nenhum lugar. “Dizem: política de portas abertas. De onde ela veio? A Otan tem uma política de portas abertas. Onde ela está registrada? Em lugar nenhum”, disse o presidente russo.
Putin disse, que a violação dos direitos humanos na Ucrânia “tornou-se sistêmica”. “Naturalmente, a questão relacionada à solução do conflito ucraniano foi discutida [com a Hungria], a situação na Ucrânia como um todo, inclusive na esfera dos direitos humanos, cuja violação adquiriu um caráter sistêmico lá”, disse Putin.
Como observou, os eventos em Donbass são uma reminiscência de genocídio.
ORBAN REFUTA MAIS SANÇÕES
Por sua vez, o primeiro-ministro Orban considerou as sanções ocidentais contra a Rússia como “inaceitáveis” e disse estar empenhado em reduzir as tensões na região.
“Consegui dizer como interpretamos a história. Quando se criava um conflito entre o Ocidente e o Oriente, sempre perdíamos”, disse Orban. “Os húngaros e outros povos da Europa Central estão interessados em reduzir a tensão entre o Ocidente e o Oriente e fazer todo o possível para evitar uma guerra fria e reduzir a pressão e a tensão”, acrescentou.
O primeiro-ministro enfatizou que isso requer “diálogo e negociações” e afirmou que a Hungria se congratula com o diálogo entre a Rússia e os aliados ocidentais de Budapeste.
“A economia russa resistiu muito bem após as sanções… Ela é muito mais forte do que se pensa no Ocidente”, disse Orban. Ele observou que a política de sanções causou à Hungria muito mais danos do que à própria Rússia.
“A Rússia construiu a substituição de importações em áreas onde anteriormente fornecíamos nossos produtos. Ou seja, perdemos o mercado. A Rússia foi forçada a se desenvolver dessa maneira”, acrescentou, ressaltando que o efeito oposto ao planejado dessa política de sanções.
TELEFONEMA BLINKEN-LAVROV
Em busca de uma saída diplomática para a atual crise de segurança no leste da Europa, o chanceler russo Lavrov voltou a conversar nesta terça-feira pelo telefone com seu homólogo Anthony Blinken.
Lavrov afirmou que os países ocidentais estão simplesmente tentando não ignorar, mas consignar ao completo “esquecimento” o princípio fundamental da segurança indivisível e isso é algo que a Rússia mencionou em sua carta a Blinken.
“Informei Antony Blinken que não permitiremos que este tópico seja varrido para debaixo do tapete. Vamos insistir em conversas honestas e uma explicação genuína de por que o Ocidente parece não querer cumprir suas obrigações – ou apenas cumpri-las para sua própria vantagem”, disse Lavrov.
“Eles literalmente priorizam exclusivamente o princípio da liberdade de escolha de alianças, ignorando completamente a condição acordada no mais alto nível sobre a inadmissibilidade de infringir a segurança de outros estados”, argumentou o chanceler russo.
Anteriormente, Lavrov questionara a cínica percepção da segurança como “segurança seletiva”, que só funciona para os EUA e estados membros da Otan.
O princípio da segurança coletiva e indivisível significa que tem que haver segurança para todos, ou não haverá para ninguém.
Afinal, são os sistemas de armas de ataque norte-americanos, inclusive os nucleares, que chegaram até às “portas da Rússia” e não o contrário.
Se a segurança coletiva não for restabelecida na Europa, com os novos sistemas hipersônicos, Moscou estaria a quatro, cinco minutos de voo desde o território da Ucrânia, e a ameaça de hecatombe nuclear estaria automaticamente de volta ao dia a dia dos europeus, por consequência, também dos norte-americanos, como Moscou já explicou detalhadamente.
SEM AMEAÇA IMINENTE
Washington vem tentando abafar essa discussão, reduzindo-a a uma suposta “ameaça iminente” de invasão russa à Ucrânia, que já foi desmentida na semana passada até mesmo pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que mesmo pediu menos “pânico”, sob risco de a economia ucraniana quebrar sob o impacto do alarmismo.
Na ONU, o Representante Permanente da Rússia, Vasily Nebenzya, chamou a atenção sobre a situação da Ucrânia como uma tentativa do Ocidente de criar uma barreira nas relações russo-ucranianas e de impedir a coexistência fraternal natural da Rússia com a Ucrânia e seus povos. Ele também alertou contra a sabotagem dos acordos de Minsk de pacificação no Donbass.