
A Justiça do Rio de Janeiro decidiu manter preso preventivamente o sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, que assassinou o próprio vizinho, Durval Teófilo Filho, com três tiros na porta do condomínio onde os dois moravam, em São Gonçalo, na Região Metropolitana.
Ainda, em audiência de custódia realizada nesta sexta-feira (4), a juíza Ariadne Villela Lopes, da 5ª Vara Criminal, acolheu um pedido do Ministério Público (MP) para trocar a tipificação do crime de culposo para doloso, quando há a intenção de matar.
O entendimento do MP é diferente do que foi apresentado pela Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), que até a ultima quinta-feira (4) resolveu indiciar o militar por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar.
Entretanto, durante a audiência o MP informou à Justiça entende que a tipificação correta é homicídio doloso, que houve intenção.
“Pelo Ministério Público foi dito que: requer a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva. Além disso, entende que a conduta imputada ao custodiado não se amolda a capitulação imputada pela autoridade policial, qual seja, artigo 121, §3º do CP, visto que não entende ser tal conduta culposa”, diz o despacho da juíza.
Em seu depoimento, o sargento afirmou que atirou ”para reprimir a injusta agressão iminente que acreditava que iria acontecer”. O corpo da vítima Durval foi sepultado na tarde desta sexta.
O crime, que ocorreu na noite da última quarta-feira (2), só demonstrou o despreparo e como o racismo é pertinente na sociedade. O homem que foi morto pelo próprio vizinho, na porta de casa, deixou a comunidade do Capote, em São Gonçalo, há 12 anos, e comprou um apartamento na cidade em busca de mais segurança.
Durval trabalhou como letrista em uma plataforma da Petrobras e atualmente estava empregado como repositor de um supermercado.
Muito abalada, a viúva de Durval fez um discurso no enterro do marido e disse que não vai perdoar o sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, autor dos disparos.
“Parabéns senhor Aurélio, muito obrigada por destruir a minha vida, da minha filha, da minha família (…) Estou aqui sangrando, ele não deu chance de o meu marido viver”, disse Luziane Teófilo.
A viúva questionou a tipificação do crime pela polícia, como homicídio culposo, quando não há a intenção de matar – nesta sexta, a pedido do Ministério Público, a Justiça concordou com a mudança da tipificação para homicídio doloso.
“Restou só o silêncio dentro de casa. Estou enterrando meu marido por causa da imprudência dele. Que a justiça seja feita. Falar que não foi intencional?”.
Antes, durante o velório, parentes e amigos fizeram um protesto com cartazes de “Vidas negras importam” e “Queremos Justiça por Durval”, eles pedem que o crime não fique impune.
Luziane afirmou ainda que o marido morreu porque era preto. “A minha filha, que tem 6 anos, estava esperando por ele. Imediatamente ela olhou pela janela e disse que era o pai dela”, narrou.
“A médica me falou que ele tinha sido alvejado por um vizinho que o confundiu com um bandido. Isso me deixou transtornada. Eu nunca pensei que isso fosse acontecer com um vizinho nosso”, contou.
“Vendo as câmeras, ouvindo a fala do delegado e pelo que os vizinhos estão falando, tenho certeza de que isso aconteceu porque ele é preto. Mesmo eles falando que ele era morador do condomínio, o vizinho não quis saber. Para mim, foi racismo sim”, afirmou a viúva.
Da mesma forma, a dor e a indignação são os sentimentos de Fabiana Teófilo, irmã de Durval Teófilo.
“O que aconteceu foi uma covardia, porque meu irmão era trabalhador. Meu irmão nunca encostou em nada de ninguém. Ele sempre saiu de casa cedo. Minha mãe criou três filhos sozinha e nenhum seguiu a vida errada. Ele era o único irmão que eu tinha e acontece um negócio desse? Ele tira a vida do meu irmão? Aí vai dizer que é legítima defesa? Não tem como. Meu irmão não tinha arma, meu irmão veio do serviço, ele veio do trabalho. Ele chegou em casa às onze horas da noite”, disse Fabiana.
“Será que fosse um branco andando e mexendo na mochila, tinham atirado no meu irmão três vezes? E ele falando que ele era morador do condomínio? Será? Eu duvido. Eu duvido muito”, questiona Fabiana.