Além do saldo negativo de US$ 53 bilhões, 72,4% das exportações da indústria de transformação são de bens de baixa e média-baixa intensidade tecnológica e menos de 30% são de alta e média-alta tecnologia; na importação acontece o inverso, segundo Iedi
Em 2021, o saldo da balança comercial da indústria ficou negativo em US$ 53,3 bilhões – o pior resultado desde 2015, ainda que no ano passado o superávit da balança comercial fechou em nível recorde, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Em 2019, antes da pandemia, o déficit foi de US$ 42 bilhões.
O economista do instituto, Rafael Cagnin, destaca em reportagem do Valor que, além do avanço do déficit, o que preocupa é a perda de espaço em setores com maior intensidade tecnológica. O pior déficit da indústria de transformação foi registrado em 2013 – saldo negativo de US$ 65,3 bilhões. Nesta época, os ramos de média-alta e alta tecnologia somavam 36,1% da exportação da indústria de transformação. Em 2021, a fatia foi de 27,6%. Nas duas faixas estão as indústrias de aeronaves, farmacêutica, automobilística e de máquinas e material elétrico.
O economista chama a atenção ainda para uma espécie de “espelhamento” nos dados relacionados à composição da pauta de importação e exportação segundo a intensidade tecnológica. Ao passo que 72,4% das exportações da indústria de transformação são de bens de baixa e média-baixa intensidade tecnológica e menos de 30% são de alta e média-alta tecnologia, na importação o caminho é o oposto: 71,6% são bens típicos da indústria de média-alta e alta tecnologia e o restante é de média-baixa e baixa tecnologia.
“Esse padrão reflete defasagens em tecnologia e inovação que se acentuaram nos últimos anos e que podem se acentuar ainda mais”, alertou Cagnin, ao lembrar que o mundo passa por um processo de transformação tecnológica.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que usa outro modelo de cálculo – por classe de produtos – mostra que o déficit em manufaturados chegou a US$ 111 bilhões em 2021 – pior desde 2000. A diferença é de quase US$ 40 bilhões em relação a 2019, quando o déficit nesse critério foi de US$ 82,7 bilhões.