Senado convocou os dois para cobrar os motivos pelo atraso no início da vacinação infantil. O governo foi contra e Queiroga queria até exigir receita médica. Damares criou o “Disque 100” para incitar a resistência contra a imunização
A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado aprovou na segunda-feira (7) a convocação do ministro Marcelo Queiroga, da Saúde, para que ele explique a sabotagem do governo à vacinação das crianças. O governo fez um grande empenho contra a vacinação infantil. Bolsonaro chegou até a ameaçar servidores da Anvisa para que não aprovassem o imunizante para as crianças.
Um outro requerimento também foi aprovado na segunda, apresentado pelo presidente da CDH, Humberto Costa (PT/PE), convocou a ministra Damares Alves para que ela explique a nota técnica por meio da qual se posicionou contrariamente ao requerimento do passaporte vacinal. A nota diz que “o ministério entende que a exigência de apresentação de certificado de vacina pode acarretar em violação de direitos humanos e fundamentais”.
Também será pedido que o governo explique a abertura do Disque 100 — canal que serve para atender denúncias de violações de direitos humanos relacionadas a alguns temas — às pessoas que se sentirem “discriminadas” por discordarem da vacinação contra a COVID-19. A medida é vista como uma sabotagem aberta à vacinação e uma ameaça aos agentes de saúde responsáveis pela imunização.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP), autor do pedido da convocação do ministro, acusou Queiroga de ter atrasado o início do programa de imunização de crianças por meio de “ações claramente negacionistas”.“Queiroga vai ter que explicar o atraso de um mês na vacinação das crianças e as consequências trágicas que isso trouxe ao Brasil”, disse Randolfe.
Enquanto o governo Bolsonaro sabota a vacinação das crianças, os especialistas alertam que as crianças são mais vulneráveis ao novo coronavírus do que o público em geral. Isso ocorre porque as crianças estão desprotegidas. Oficialmente, o Brasil registrou 1.544 mortes de crianças de 0 a 11 anos por Covid-19 desde o início da pandemia, em 2020. Do total, 324 delas tinham de 5 a 11. Entre 0 e 4, o número de óbitos alcançou 1.220, o que representa quase quatro vezes mais ocorrências que na faixa acima de 5.
Além de protelar a decisão com uma inusitada consulta pública, Queiroga só incluiu as crianças na campanha de vacinação quase um mês após a Anvisa ter aprovado o uso da vacina infantil produzida pela Pfizer. Quando não podia mais segurar o início da vacinação, ele inventou a cobrança de prescrição médica como condição para a vacinação das crianças. Imediatamente os governadores rechaçaram a decisão e anunciaram que não iriam exigir a receita.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil ficou na terceira maior no número de mortes pela Covid-19, na semana que terminou neste último domingo (6). Os dados revelam que o Brasil uma vez mais superou todos os países europeus e está abaixo apenas de Estados Unidos e Índia, locais com uma população muito maior que a brasileira — o Brasil tem 212,6 milhões de habitantes; os EUA, 329,6 milhões; e a Índia, 1,38 bilhão. De acordo com os dados da OMS, em sete dias, foram: 5,2 mil mortes no Brasil, 7,8 mil na Índia e 16,4 mil nos EUA.