O líder universitário Lesther Alemán, que confrontou o presidente Daniel Ortega e o exortou a “se render” durante a revolta social de 2018 na Nicarágua, foi condenado quinta-feira (10) a 13 anos de prisão por um juiz local, informou a mãe do jovem, Lesbia Alfaro.
Em um julgamento a provas fechadas, no qual apenas foi permitida a entrada de seu advogado de defesa, Alemán foi acusado do crime de “conspiração para minar a integridade nacional” e desqualificado para exercer funções públicas. O mesmo crime foi imputado a dezenas de opositores processados nos últimos dias.
“Meu filho nunca desestabilizou o país”, reagiu Lesbia Alfaro, frisando que o condenaram “só por levantar a voz, porque estava vendo a injustiça que estava acontecendo no país com tantos camaradas mortos”.
A Nicarágua está mergulhada numa crise iniciada com os protestos sociais de 2018, quando a violenta ação de policiais e paramilitares deixou 328 mortos, mais de mil feridos, 1.600 detidos e fez com que mais de 100 mil pessoas migrassem ou se exilassem, conforme a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
A mãe do líder estudantil de 24 anos – que se formou jornalista no ano passado – descreveu o julgamento como “uma mentira e um circo” e o juiz como “um palhaço”. “Ele é inocente, não é um terrorista”, reiterou.
A Aliança Universitária da Nicarágua (AUN), fundada por Alemán após os protestos de 2018, garantiu que seu líder “foi perseguido e processado injustamente”. De acordo com a AUN, durante o julgamento a Promotoria apresentou “falsas testemunhas” e usou como principal prova o vídeo da intervenção de Lesther Alemán em 16 de maio de 2018, durante a primeira sessão do diálogo nacional, na qual fez um discurso em que exortou Ortega a retirar-se do poder.
“Esta não é uma mesa de diálogo, é uma mesa para negociar sua saída e ele sabe muito bem disso, porque as pessoas pediram isso”, exclamou Alemán diante do olhar atônito de Ortega e sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo. Em seguida, o dirigente acrescentou: “Não podemos dialogar com um assassino, porque o que foi cometido neste país é genocídio e é assim que será descrito”. Na opinião da AUN, o julgamento e a condenação de Lesther Alemán foram “um ato de vingança” por ter repreendido Ortega “e pela ameaça que representa à ditadura”.
Alemán é um dos 46 opositores presos por Ortega entre maio e novembro passados e que começaram a ser julgados em 1º de fevereiro passado. Entre eles estão sete candidatos à Presidência que tentaram participar das eleições de novembro passado, nas quais o presidente foi reeleito para um quarto mandato presidencial consecutivo em eleições ilegais pela prisão de candidatos opositores..