Vinte e quatro dias após o Instituto Butantan ofertar 30 milhões de doses da CoronaVac ao Ministério da Saúde para acelerar a vacinação das crianças contra a Covid-19, a pasta ainda não se manifestou e não fechou nenhum contrato, nem ao menos, um oficio de intenção de compra.
O instituto ofereceu no fim de janeiro 30 milhões de doses do imunizante, 10 milhões com entrega imediata e outros 20 milhões no período de até 25 dias. Segundo a assessoria de imprensa do Butantan, há tratativas, mas até agora nenhum contrato foi assinado.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no dia 20 de janeiro, por 5 votos a 0, a aplicação da CoronaVac em crianças e adolescentes dos 6 aos 17 anos. Desde então, o ministério distribuiu cerca de 9 milhões de doses do imunizante destinadas à crianças. Porém, todas essas doses são remanescentes dos contratos de 2021.
Segundo balanço da pasta divulgado na sexta-feira (11), mais de 17,2 milhões de doses foram distribuídas aos estados para a vacinação de crianças, sendo “quase 8 milhões” de doses pediátricas da Pfizer.
A sabotagem do governo federal é evidente pela insuficiência e morosidade. O Brasil tem mais de 20 milhões de crianças de 5 a 11 anos, e ambas as vacinas são aplicadas em duas doses. Portanto, será necessário distribuir mais de 40 milhões de doses para vacinar todo o público-alvo.
Em nota, o Ministério da Saúde voltou a dizer que “a vacinação das crianças não é obrigatória”. Porém, isso não é verdade. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente e, ainda, confirmado por unanimidade pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a vacinação das crianças é obrigatória assim como a dos adultos.
A dificuldade que o Ministério tem de comprar doses da CoronaVac é além de um boicote a vacinação das crianças, é um boicote ao Instituto Butantan. A pasta assinou na última quinta-feira a compra de mais 2 milhões de vacinas da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos. O montante, no entanto, deve chegar até o fim de fevereiro, mesmo com o órgão paulista tendo doses para pronta entrega.
Atualmente temos somente 15% das crianças vacinadas com a primeira dose contra a Covid, e o número pífio é valorizado pelo governo, como fez o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na terça-feira (8). Na verdade, 15% evidencia o ritmo lento de uma campanha muito aquém da capacidade do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
O Brasil demorou 23 dias para alcançar 15% de cobertura, no último fim de semana. Foi quase o triplo do tempo gasto por Canadá, Austrália, Argentina e Uruguai (8 a 9 dias), de acordo com os dados oficiais, segundo levantamento realizado pelo jornal Folha de São Paulo.
O estudo mostra que o Brasil é um dos últimos colocados no ranking proporcional dentre dez nações que disponibilizam o detalhamento por data e idade —Alemanha, EUA, França, Chile e Itália, além dos já citados. O país só aparece à frente da França, um dos principais palcos do ativismo antivacina na Europa (4,5% com a primeira dose).
Quando comparado com o Chile e Argentina, a disparidade é ainda maior. Os vizinhos sul-americanos autorizaram a vacinação infantil em setembro e outubro de 2021, respectivamente, e já imunizaram a maioria de suas crianças, inclusive com a segunda dose.
Em janeiro, o Brasil já atingia a soma de 1.449 mortes de meninos e meninas de até 11 anos em decorrência do coronavírus e mais de 2.400 casos da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) associada à Covid-19, conjunto de sintomas graves que podem levar à morte, desde o início da pandemia, segundo o Ministério da Saúde.