Falando na London School of Economics, um dos dois templos mundiais do neoliberalismo (o outro fica em Chicago), a senhora Dilma Rousseff disse que o problema da política econômica de seu segundo mandato é que o ministro que nomeou para a Fazenda, Joaquim Levy, “não estava à altura”.
A conferência de Dilma, provavelmente, deixaria o psiquiatra francês Philippe Pinel muito infeliz. Pinel, como se sabe, queria que todos levassem os doidos a sério. Com Dilma, isso é impossível. Vejamos esse trecho do que falou em Londres:
“Eu acho que o Joaquim Levy não estava a altura do momento. Uma parte, porque ele não estava. Mas outra parte, não é porque ele não estava não.”
Entendeu, leitor?
Mas, depois das gargalhadas da plateia, ela explicou o que queria dizer:
“É porque durante todo 2015, vocês esquecem, houve um golpe. O golpe não começa no dia quando eu levo um golpe. O golpe começa porque quando eu sou eleita.”
Pare de rir, leitor. Vamos a algo mais… quer dizer, sério… sério?
Parou de rir, leitor?
Então, vamos continuar.
O que o golpe que não começou quando teve um golpe, mas quando não teve um golpe, tem a ver com Levy, ninguém sabe.
Mas que é mentira, é.
Disse ela: “nós não controlávamos a Câmara. O que entra, no Brasil, numa lei, não é o que sai. É o que o pessoal chama de jabuti, dado aquele ditado: se o jabuti está numa árvore, é porque ou é enchente ou é mão de gente”.
Quando Dilma tomou posse, tinha o apoio de 340 deputados e 62 senadores, que fizeram campanha para ela.
Ou seja, sua base parlamentar tinha 2/3 (ou 66,28%) da Câmara e quase 4/5 (ou 76,54%) do Senado.
O único golpe que havia foi aquele que ela deu no povo, ao fazer exatamente o contrário de tudo que havia jurado, na campanha eleitoral, que não faria (“nem que a vaca tussa”).
Ela aprovou absolutamente tudo o que quis, inclusive a lei de entrega dos portos, a retirada da Petrobrás como operadora única do pré-sal, o corte nas pensões das viúvas e as desonerações mais escabrosas.
Se o leitor quiser comprovar, por favor, não faça cerimônia – o Palácio do Planalto tem uma excelente coleção do que Dilma (ou qualquer outro presidente) aprovou no Congresso: cf. Portal da Legislação.
Em campanha, no mês de setembro de 2014, Dilma disse o seguinte:
“Nós não acreditamos em choque fiscal, isso é uma forma incorreta de tratar a questão fiscal no Brasil. Choque fiscal é um baita ajuste no qual se corta tudo para pagar juros para bancos. Vai cortar o quê?”
No dia 28 de janeiro de 2016, Dilma, em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, disse o seguinte:
“Fizemos, em 2015, um ajuste fiscal de dimensão inédita em toda nossa história. Cortamos despesas discricionárias, cortamos despesas obrigatórias, revimos desonerações e tarifas. Sabemos que há, ainda, muito o que fazer”.
Em seguida, defendeu a continuação do “ajuste” (“mais dois ou três anos”), com a limitação dos gastos públicos, “reforma” da Previdência, desvinculação das receitas da União, etc. (cf. Discurso da Presidenta Dilma Rousseff, durante encerramento da 44ª reunião do CDES).
Quando ela fez esse discurso, Joaquim Levy já saíra do governo.
O desastre neoliberal do seu governo foi, portanto, obra sua. Levy foi nomeado para fazer a única coisa que sabia fazer: devastar a economia com sua estupidez e servilismo ao cartel do dinheiro.
Quem não sabia o que Levy ia fazer?
Mas, se há algo em que a senhora Rousseff é especialista – aliás, a única coisa – é em não assumir a responsabilidade por seus atos.
Sempre os culpados são os outros.
Em Londres, disse Dilma sobre o seu governo: “mandamos desonerações para a folha. Nós queríamos diminuir a baixa competitividade que nós tínhamos porque estavam ‘esfolando’ trabalhadores fora do Brasil. Então o custo do trabalho de outros países era menor do que o nosso. Quando fomos desonerar a folha para reduzir o custo do trabalho, o que os empresários fizeram com a desoneração? Eles embolsaram. Aumentaram a margem de lucro”.
A idiotice de que o problema da nossa economia é que o trabalhador brasileiro não é “competitivo”, foi inventada pelo falecido Eugenio Gudin, que está, há décadas, dando coices no Inferno.
Portanto, não é uma idiotice original – nem na imbecilidade, Dilma consegue ser mais que um papagaio da reação.
Mas há outra coisa: Dilma fala de suas “desonerações” passando por cima do que elas significaram.
Acontece que ela concedeu R$ 458 bilhões de privilégios fiscais – ou seja, isenções de impostos, inclusive do pagamento à Previdência – à Ford, Volkswagen, em suma, aos monopólios multinacionais, que foram os maiores beneficiados com esses privilégios.
É claro que o objetivo disso era aumentar a margem de lucro desses monopólios. O que mais poderia ser?
Dilma realmente achava que essas filiais de multinacionais iam investir no Brasil porque passaram a pagar menos impostos – aliás, quase nenhum – ao invés de embolsar a margem de lucro?
Às vezes, em Dilma, é difícil perceber a fronteira entre o cinismo e a imbecilidade – ou se os dois estão presentes, em depravado conúbio.
Talvez, se ela esperasse que as multinacionais gastassem esse dinheiro com esmolas para os mendigos, fosse mais bem sucedida…
C.L.