O número de mortos em Petrópolis após a tempestade de terça-feira (15) chegou a 104 até as 6h51 desta quinta-feira (17). Até o momento, 134 registros de desaparecimento foram feitos, segundo a Secretaria Estadual de Defesa Civil, 24 pessoas foram resgatadas com vida.
Dos 101 corpos que estão no Instituto Médico Legal (IML), 65 são de mulheres e 36 de homens. Desses, 13 são crianças. Ao todo, 33 corpos foram identificados.
Cerca de 500 bombeiros trabalham nas buscas aos desaparecidos.
A forte chuva que caiu na cidade causou 66 desabamentos e cerca de 300 pontos de deslizamento pela cidade, sendo o mais crítico o Morro da Oficina, no bairro Alto da Serra – parte da encosta foi abaixo durante a tarde e pelo menos 80 casas foram atingidas.
A Prefeitura decretou estado de calamidade pública e informou que as equipes dos hospitais foram reforçadas para o atendimento às vítimas. Quem tiver parentes desaparecidos deve procurar a delegacia.
A Defesa Civil alertou que ainda há previsão de chuva moderada a qualquer momento no município nesta quarta-feira (16).
Polícia Civil e o Ministério Público do Rio montaram forças-tarefas para ajudar na identificação de corpos e busca por desaparecidos. Uma estrutura foi erguida ao lado do Posto Regional de Polícia Técnica Científica (PRPTC) de Petrópolis para preservar os corpos.
Já o Ministério Público enviou grupos de promotores para ajudar na tarefa de identificação de corpos e auxiliar pessoas que tenham perdido seus documentos. O núcleo de busca de desaparecidos também atuará no município.
CAOS
Com o dia claro, foi possível ver o tamanho da devastação na cidade histórica embora, em muitos locais, fosse difícil distinguir o que era casa, o que era terra ou o que era rua. Morros vieram abaixo, carregando pedras do tamanho de carros; veículos ficaram empilhados com a força da correnteza; vias importantes foram bloqueadas, dificultando o acesso aos desabrigados.
A região central ficou completamente destruída. Ao menos 12 corpos foram encontrados na Rua do Imperador, uma das mais famosas e turísticas da cidade, próximo ao Museu Imperial ao Palácio de Cristal. Na Rua Teresa, conhecida pelo seu comércio têxtil, uma encosta deslizou e dezenas de veículos ficaram pelo caminho.
No início da manhã, no Morro da Oficina, uma mulher clamava pelo nome da filha e tentava ajudar os bombeiros nas buscas por ela e outros parentes, que estão desaparecidos. Ela chegou a cavar os escombros com uma enxada para encontrá-las.
“Na casa estava minha filha, a tia dela, e uma nenenzinha, filha da minha afilha, que morava embaixo”, disse a mulher à TV Globo. “Tem que mexer, mas ninguém tá mexendo. É uma bebê de um ano sem respirar debaixo dessa lama. Você consegue?”, desabafou.
Ainda não há notícias se os corpos da família foram encontrados, mas ao longo da madrugada, seis pessoas foram retiradas sem vida do Morro da Oficina. Na região central de Petrópolis, a parte mais turística, foram outras 12. No Alto da Serra, irmãos buscavam nos escombros os corpos dos pais, que viviam há mais de 40 anos na mesma casa. “Na minha casa, consegui salvar meus filhos. Mas não salvei meus pais, infelizmente”, disse o homem, que assobiava para tentar ouvir a resposta da mãe, mas não conseguiu.
O Alto da Serra foi uma das localidades mais devastadas. Ao menos 80 casas foram atingidas pela barreira que caiu no Morro da Oficina.
Outras regiões também foram atingidas, como 24 de Maio, Caxambu, Sargento Boening, Moinho Preto, Vila Felipe, Vila Militar e as ruas Uruguai, Whashington Luiz e Coronel Veiga.
A maior incidência de deslizamento ocorreu nos bairros do Centro, Quitandinha, Caxambu, Alto da Serra e Castelânea. Em poucas horas de terça-feira, choveu o previsto para o mês inteiro: o maior registro é de 125.8 mm/h, às 17h15 no Alto da Serra (INEA). No São Sebastião, o acumulado pluviométrico em 6 horas chegou a 259.8 mm, às 21h10.
SITUAÇÃO EXTREMA
“Estamos passando por uma situação de extrema gravidade, e direcionamos todos os esforços para garantir o socorro da população”, destacou o prefeito Rubens Bomtempo.
A busca por sobreviventes em meio ao soterramento no Morro da Oficina seguiu intensa ao longo da madrugada e contou com a ajuda de moradores e equipes dos Bombeiros, Exército e Defesa Civil.
Agentes das secretarias de Obras, de Serviço, Segurança e Ordem Pública, Saúde, Educação, além da Comdep e CPTrans também atuavam no atendimento da população e recuperação da cidade.
“Orientamos a população que ao sinal de qualquer instabilidade nas áreas em que residem, que procure o ponto de apoio e nos acionem”, destacou o secretário de Defesa Civil, o Tenente Coronel Gil Kempers.
A Prefeitura abriu todos os pontos de apoio para o acolhimento da população de área de risco. “Em geral, essas estruturas funcionam em escolas e neste momento, há atendimentos nas localidades do Centro, São Sebastião, Vila Felipe, Alto Independência, Bingen, Dr. Thouzete e Chácara Flora. Ao todo, 184 pessoas estão recebendo suporte da prefeitura, que direcionou para as unidades profissionais da Saúde, Educação, Agentes Comunitários, além da Defesa Civil”, disse o município.
PRIORIDADE É O RESGATE DAS VÍTIMAS
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirmou que Petrópolis vive “cenas de guerra” após um forte temporal, que provocou alagamentos, inundações e deslizamentos. “As imagens são muito fortes e, provavelmente, vamos amanhecer com imagens tão ou mais fortes. É realmente uma tragédia grande. Cenas de guerra! Carros pendurados em postes! O que nós vimos é uma cena muito triste, cena praticamente de guerra”, disse.
Mais tarde, em entrevista ao Bom dia Rio, da Rede Globo, Castro disse que a prioridade é resgatar pessoas com vida. “Nesse momento, nossa preocupação não é valores, é resgatar pessoas com vida e pensar na limpeza e normalização [da cidade].”
Segundo ele, as sirenes de alerta funcionaram. “A tragédia não foi maior porque as sirenes funcionaram, mas foi uma tragédia de uma hora para outra, uma quantidade de chuva absurda e infelizmente não teve como salvar todas as pessoas.”
As pessoas desabrigadas serão levadas para escolas municipais e estaduais, além de cadastradas em programa para receber aluguel social. As aulas foram suspensas, informou em entrevista.
Castro disse que pediu ajuda federal para apoiar a cidade serrana. “Ontem mesmo falei com o ministro Rogério Marinho e com o presidente Bolsonaro da necessidade de apoio e ajuda. Há uma boa possibilidade deles virem na sexta-feira (18) aqui, e na semana que vem já com o número de projetos [que serão realizados] e a real situação na parte da reconstrução. Essa parte do primeiro auxílio o governo do estado vai fazer, não vou esperar o governo federal, mas na parte da reconstrução é muito importante o apoio e o aporte deles”, disse em coletiva no 15º Grupamento de Bombeiros Militar (GBM) Petrópolis.
SOLIDARIEDADE
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou na manhã desta quarta-feira (16), que colocou à disposição a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros do estado paulista para ajudar nas buscas por vítimas após o temporal que atingiu Petrópolis, na Região Serrana do Rio.
Em uma publicação no Twitter, Doria prestou solidariedade aos cidadãos da cidade serrana e lamentou a tragédia. “Minha solidariedade a todas as famílias atingidas pelas fortes chuvas em Petrópolis. Uma tragédia”, disse ele.
O governador de SP disse que entrou em contato com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), para oferecer ajuda da Defesa Civil paulista. “Telefonei ao governador do RJ, Cláudio Castro, e coloquei a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros de SP à disposição dos fluminenses caso haja necessidade”, afirmou.
Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo também disponibilizou apoio ao Estado vizinho. “As cenas terríveis que assistimos esta noite, em Petrópolis, nos deixam um propósito de oração e solidariedade às famílias atingidas pela violência das chuvas. A corporação Bombeiro Militar está à disposição do governador e do Prefeito para auxiliar nas buscas e salvamento”, anunciou.
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