O pesquisador norte-americano Noam Chomsky, em entrevista ao portal Truth Out, criticou a expansão da OTAN no Leste Europeu, que considera fundamental para entender o atual conflito entre Rússia e Ucrânia.
“A posição russa já é bastante clara há algum tempo. O ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, declarou na sua conferência de imprensa nas Nações Unidas: ‘A questão principal é a nossa posição clara sobre a inadmissibilidade da uma maior expansão da OTAN para o leste e a implantação de armas de ataque que possam ameaçar o território da Federação Russa’, destacou.
Em resposta à pergunta formulada pelo jornalista CJ Polychroniou sobre se seria correto dizer que a crise fronteiriça entre Rússia e Ucrânia deriva na realidade da posição intransigente dos EUA sobre integrar a Ucrânia na OTAN, Chomsky acrescenta que “o mesmo foi reiterado pouco depois por Putin, tal como ele já tinha feito muitas vezes antes. Há uma forma simples de lidar com a implantação destas armas: não as implantar. Não há justificação para o fazer. Os EUA podem alegar que são defensivas, mas a Rússia certamente não o vê da mesma forma e com razão”.
Chomsky destaca que foram os governos dos EUA, que incentivaram a admissão de países do Leste Europeu como novos membros da Otan, atingindo a segurança da Rússia.
Assim, a entrada dessas nações ocorreu rapidamente depois que a Alemanha Democrática se juntou à Alemanha Federal. Posteriormente, as nações que antes tinham composto o bloco socialista europeu ingressaram na OTAN: República Tcheca, Hungria e Polônia (1999), Romênia, Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Eslovênia e Eslováquia (2004), Albânia e Croácia (2009), Montenegro (2017) e Macedônia do Norte (2020).
Sobre a postura de Washington de insistir na integração da Ucrânia na OTAN, Chomsky ironiza: “Os EUA rejeitam veementemente que a Ucrânia fique fora, proclamando ativamente sua dedicação apaixonada à soberania das nações, que não pode ser infringida: o direito da Ucrânia de ingressar na OTAN deve ser honrado. Essa posição de princípios pode ser elogiada nos EUA, mas certamente está provocando gargalhadas em grande parte do mundo, incluindo o Kremlin. O mundo não desconhece a dedicação inspiradora dos EUA à soberania, principalmente nos três casos que enfureceram particularmente a Rússia: Iraque, Líbia e Kosovo-Sérvia”.
O intelectual norte-americano indica que, em sua retórica, os Estados Unidos insistiam em colocar lenha na fogueira ao não responder aos pedidos da Rússia por segurança e garantia de não entrada das tropas da Otan na vizinha Ucrânia.