Situação é agravada pelo desemprego elevado e renda em queda
Os prejuízos para economia em geral e para as famílias que querem comprar a casa própria já estão acontecendo depois da escalada dos juros implementada pelo Banco Central.
O aumento da taxa básica de juros (Selic) para 10,75% ao ano, no mês passado, acelerou a alta em todas as taxas aplicadas pelos bancos. Para a compra da casa própria, no início de 2021, os bancos faziam até propaganda pela TVs oferecendo taxas entre 6% e 7% ao ano no financiamento de imóveis. Hoje, o interessado conseguirá taxas em torno de 9% a 10% ao ano.
O aumento das taxas de juros de 6% para 9% nos financiamentos não é pouca coisa. Significa um aumento de 50% no percentual cobrado e vai repercutir em parcelas mais caras. A demanda pela casa própria é grande e a taxa de juros dos contratos é absurdamente alta para uma situação em que o desemprego é elevado, a renda está desabando e a carestia não dá trégua. Além disso, em uma situação de recessão econômica, os critérios de crédito serão mais restritivos, dificultando ainda mais o acesso
Com o aumento dos juros e diante da economia estagnada, o crescimento estimado dos empréstimos para financiamento é de apenas 2%, estima o presidente da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança), José Ramos Rocha Neto.
FAMÍLIAS ENDIVIDADAS
Com orçamentos pressionados pelas dívidas e inflação persistentemente alta, a proporção de famílias com dívidas e/ou contas atrasadas alcançou 27% do total de lares no país, em fevereiro. É o maior número de famílias com contas atrasadas em 12 anos, segundo divulgou nesta quinta-feira (3) a Confederação Nacional do Comércio, através da pesquisa endividamento e inadimplência das famílias. A entidade destaca que “a escalada dos juros encarece o crédito e dificulta a renegociação das dívidas”.
No governo Bolsonaro, assim como o desemprego e o subemprego bateram recordes, em 2021 o endividamento das famílias brasileiras também bateu recorde, com uma média de 70,9%, um crescimento de 4,4 pontos percentuais sobre 2020, o maior aumento registrado nos últimos 11 anos. Segundo a Serasa, três em cada dez brasileiros inadimplentes estão sem trabalho.
MORADIAS EM ÁREAS DE RISCO
Com os juros extorsivos e sem políticas públicas que garanta moradia digna para o trabalhador e a população em geral, cresce a especulação imobiliária afastando os moradores para moradias em áreas de risco, com tragédias como a que ocorreu recentemente em Petrópolis.
Segundo pesquisa realizada pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados atualizados em 2019, no Brasil, são mais de 8 milhões de pessoas vivendo em áreas de risco de deslizamentos e/ou enchentes, em 825 municípios com histórico de desastres. De cada 100 brasileiros, quatro vivem em áreas de risco.
Mas, no lugar de investimentos públicos e de políticas para construção de casas populares para os trabalhadores e para os mais necessitados, o ministro de Bolsonaro, Paulo Guedes, defende que o trabalhador entregue seu Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para pagar dívidas com os bancos, engordadas diariamente pelos juros altos.