Número de famílias com contas em atraso é o maior em 12 anos.
O cenário de inflação, juros altos e renda em queda fez com que a inadimplência no Brasil atingisse, em fevereiro, o maior nível dos últimos 12 anos. O número de famílias com dívidas em atraso, o que caracteriza a inadimplência, atingiu 27% dos lares brasileiros no mês passado – percentual que cresceu em 0,6% ante janeiro e 2,5% em relação a fevereiro de 2021.
“A alta da inflação e dos juros têm deteriorado os orçamentos domésticos, culminando no acirramento dos indicadores de inadimplência, a qual vinha apontando tendência de alta desde o último trimestre do ano passado”, destacou a CNC na apresentação dos dados da pesquisa.
Os dados foram apurados pela Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e divulgadas nesta quinta-feira (3).
O presidente da entidade, José Roberto Tadros, voltou a citar a escalada dos juros – cuja taxa básica foi elevada para “conter” a inflação – como elemento que ajudou a elevar a inadimplência ao atual patamar. “Escalada dos juros encarece o crédito e dificulta a renegociação das dívidas”, ressaltou.
“O panorama mostra que, na margem, o custo do crédito mais elevado e o próprio endividamento alto entre as pessoas que vivem no mesmo domicílio dificultam a contratação de novas dívidas e o pagamento dos compromissos na data de seus vencimentos”, declarou Tadros.
A inflação oficial do país atingiu 10,38% em janeiro de 2022, encurtando cada vez mais a renda dos trabalhadores ao mesmo tempo que os salários estão em queda e o desemprego alto. Com menos para comprar alimentos e pagar as contas básicas, a realidade é que os brasileiros estão cada vez se endividando para fechar a conta no fim do mês. A resposta do governo para esta crise sem precedentes foi elevar os juros e encarecer o crédito.
A PEIC também informou que dentre as famílias inadimplentes, 10,5% declararam não ter condições de pagar ou renegociar suas dívidas.
76,6% DAS FAMÍLIAS ESTÃO ENDIVIDADAS
O estudo mostra que 76,6% das famílias estão endividadas, ou seja, tem dívidas a vencer nos próximos meses, número que representa, aproximadamente, 12,5 milhões de famílias. Há um ano, a proporção de endividados era de 66,7%. Entre as dívidas relatadas estão cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa.
Mais da metade (53,9%) dos quase 13 milhões de brasileiros endividados estão com a renda entre 11% e 50% comprometida por dívidas. Em situação ainda mais grave, 20,8% dos brasileiros, um contingente de mais de 2 milhões de pessoas, estão com mais da metade da renda comprometida com as dívidas.