O mês de fevereiro trouxe números negativos para a produção e as vendas da indústria automotiva, segundo dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Foram produzidas 165,9 mil unidades, o que representam uma queda de 15,8% em relação a fevereiro de 2021. As vendas caíram 22,8%, na mesma base de comparação, foram 129,3 mil veículos licenciados no mês.
No acumulado de 2022 a produção contabilizou 311,4 mil unidades, o que representa uma redução de 21,7% sobre o acumulado de janeiro e fevereiro de 2021. As vendas somaram 255,8 mil unidades nos dois primeiros meses deste ano, uma queda de 24,4% na comparação com o mesmo período do ano passado.
As acentuadas quedas na produção e nas vendas do primeiro bimestre do ano em um cenário de novas dificuldades novas, como as repercussões do conflito Rússia e Ucrânia, trazem incertezas para o setor que veio patinando na pandemia pela falta de semicondutores e pelo agravamento da crise econômica, que levaram as montadoras no Brasil a parar a produção, fechar fábricas e demitir funcionários.
Em fevereiro, o número de trabalhadores ocupados pelo setor foi de 101.330. Uma redução de 3,2% em relação a fevereiro do ano passado.
A falta dos itens eletrônicos foi muito crítica em 2021 e o setor esperava uma melhora para este ano, mas as sanções impostas à Rússia podem agravar a crise de desabastecimento de semicondutores, que já tem sido um limitador para a produção do setor. “Determinadas matérias-primas para a produção de semicondutores são produzidos na Rússia e na Ucrânia [como paládio e gás neônio]”, disse o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.
Além disso, o empresário aponta o aumento da taxa de juros pelo Banco Central como mais um fator para prejudicar a economia. “Já temos economistas sinalizando que Selic pode ir para 13%, 14%. Esperamos que o Banco Central tenha atenção na calibragem da taxa de juros, porque não é inflação de demanda, é estrutural, trazida por elementos de fora. Estamos muito preocupados, porque isso pode impactar negativamente a atividade econômica, principalmente no segundo semestre”, chama a atenção o presidente da Anfavea.
Ainda que Moraes admita uma “calibragem” da taxa de juros, o BC já indicou que os juros vão continuar subindo. A expectativa dos economistas para este ano é de uma aceleração da inflação num cenário de economia estagnada e desemprego elevado. Para o consumidor que espera comprar ou trocar o carro fica cada vez mais difícil.
A redução nos preços dos veículos ao consumidor com a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), comemorada pelos empresários, pouco vai reduzir o preço ao consumidor.
De acordo com Antonio Filosa, presidente na América do Sul da Stellantis, que reúne Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e RAM, e detém 34% das vendas de veículos no país, a redução do IPI não deve resultar em queda nos preços dos automóveis. Em entrevista ao Estadão, declarou que a medida anunciada pelo governo federal pode contribuir para que os valores não subam muito.
Por outro lado, vão se confirmando as críticas feitas à redução do IPI em até 25% pelo governo. O benefício não chegará ao consumidor final ou apenas residualmente, faz um afago eleitoreiro para os industriais, e retira quase R$ 20 bilhões de recursos, entre União, Estados e munícipios, penalizando a população, já carente dos serviços de saúde, educação, entre outros.