“Há alguns anos, as obras pararam quando subiu demais o preço do asfalto. Tinha gente com 50% de custo no asfalto. E levou dois anos para convencer TCU e DNIT que precisava reajustar essas obras. Muita gente quebrou”, declarou José Carlos Martins, presidente da CBIC
Com mais um aumento abusivo nos preços dos combustíveis, a Construção Civil já avalia a possibilidade de paralisar obras de terraplenagem em todo o país.
“Ninguém vai aguentar o aumento do preço”, criticou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, ao afirmar à Folha de S. Paulo o agendamento de uma reunião para a próxima segunda-feira (14) com líderes do setor, para discutir as dificuldades que o setor está enfrentando com a disparada nos preços dos combustíveis.
Nesta sexta-feira (11) entrou em vigor os aumentos, liberados pelo governo Bolsonaro, nos preços médios do óleo diesel (alta de 24,9%) e da gasolina ( alta de 18,8%) que é vendido pela Petrobrás para as distribuidoras.
“Há alguns anos, as obras pararam quando subiu demais o preço do asfalto. Tinha gente com 50% de custo no asfalto. E levou dois anos para convencer TCU e DNIT que precisava reajustar essas obras. Muita gente quebrou”, disse Carlos Martins.
Ocorre que obras de terraplenagem são dependentes do óleo diesel e do asfalto, outro insumo que é fornecido pela Petrobrás, cujo custo disparou no ano passado, fazendo com que os empreiteiros paralisassem as obras de infraestrutura e abrissem pedidos de renegociação de contratos com o poder público. Em maio de 2021, o aumento no preço do asfalto foi de 25%. Em agosto, foram mais 6%.
“Há alguns anos, as obras pararam quando subiu demais o preço do asfalto. Tinha gente com 50% de custo no asfalto. E levou dois anos para convencer TCU e DNIT que precisava reajustar essas obras. Muita gente quebrou”, disse Carlos Martins.
JUROS ALTOS INIBEM INVESTIMENTOS
A Câmara Brasileira da Indústria e Construção (CBIC) transmitiu nesta sexta-feira (11), em seu canal do Instagram, a live com a economista da entidade, Ieda Vasconcelos.
A economista destacou que já se observa aumento nos preços de importantes commodities (como petróleo e trigo, por exemplo). Além disso, aumentou-se a pressão sobre a inflação, que já estava em patamar elevado antes do início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, e a preocupação com mais aumento de juros.
“O aumento das expectativas para a inflação geram preocupação com o avanço dos juros: a taxa de juros (Selic), que no início de 2021 estava em 2% e agora está em 10,75% vai provocar um menor dinamismo da atividade econômica nacional. Quanto maior a taxa, menor o ritmo dos investimentos produtivos. E são os segmentos produtivos, como a Construção Civil, que geram renda e emprego na economia”, disse Ieda Vasconcelos.
Além dos juros altos, a economista destacou a preocupação do setor com o avanço dos preços de importantes commodities como minério de ferro, alumínio e cobre. “Há quase dois anos o setor vem sofrendo com a forte elevação nos preços dos seus insumos. Esperávamos que em 2022 esse problema seria amenizado. Mas o cenário atual poderá provocar a continuidade de altas, o que certamente prejudicará o avanço das atividades do setor”.
Sobre os aumentos nos preços dos derivados do petróleo anunciados na quinta-feira (10), Ieda reforçou a expectativa do presidente da CBIC ao mencionar o impacto que o aumento do preço dos combustíveis gera nas obras de infraestrutura, como terraplenagem, que têm maior utilização de máquinas e equipamentos como tratores e caminhões. “O setor não conseguirá absorver aumentos tão elevados e, por isso, a preocupação aumenta, pois poderá acontecer até mesmo a paralisação de algumas obras”, afirmou.