“Hoje, a gente vende o gás parcelado, em seis vezes, ou em até dez vezes no cartão. É absurdo, uma coisa que você tem que usar de 30 em 30 dias”, afirma Robson Carneiro dos Santos, presidente do Sergás
O reajuste “bomba” de 16,1% no preço do gás liquefeito de petróleo (GLP), popularmente comercializado no botijão de gás de 13 kg, já foi repassado aos consumidores: o seu preço médio, que de acordo com a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro não passaria de R$ 35, já alcança R$ 150 em boa parte do país.
Anunciado pela Petrobrás com o aval do governo na quinta-feira (10), o reajuste pegou distribuidores e consumidores de surpresa. Além do gás de cozinha, também foram anunciados mega-aumentos de 18,8% no preço da gasolina e de 24,9% no óleo diesel.
De acordo com o Sindicato das Empresas Revendedoras de Gás (Sergás), com o novo preço, distribuidores passaram a parcelar o valor do botijão em até 10 vezes no cartão de crédito para continuar vendendo.
“Estamos nos reinventando. Hoje, a gente vende o gás parcelado, em seis vezes, ou em até dez vezes no cartão. É absurdo, uma coisa que você tem que usar de 30 em 30 dias”, afirma Robson Carneiro dos Santos, presidente da entidade.
Levantamento de preços feito pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostra que o valor médio do botijão de gás no país era de 102,42 na semana de 6 a 12 de março, chegando a R$ 140 em algumas regiões. Após o reajuste, o valor médio encontrado é de R$ 150, sendo de até R$ 180 a depender do local.
A entidade de distribuidores diz que, além do aumento do GLP, o reajuste de outros combustíveis também encarece o botijão, a medida que os custos para distribuição e entrega do produto também aumentam.
O mesmo governo que prometeu gás a R$ 35, promoveu sucessivos aumentos no preço do botijão de gás ao longo de 2020 e 2021. Segunda a Petrobrás, o reajuste “acompanha as cotações do mercado internacional de petróleo”. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o gás acumula alta de 27,63% em 12 meses até fevereiro.
Para a Folha de São Paulo, a Sergás informou que, com base em 9.800 revendas de gás que representa do Estado de São Paulo, concluiu que com os sucessivos aumentos de preços houve queda de 25% no consumo de gás de cozinha no último ano.
Nas residências, em especial das famílias de baixa renda, a consequência são os brasileiros voltando a cozinhar a lenha porque precisam escolher se compram gás ou comida. Na outra ponta, bares e restaurantes ainda se recuperando da pandemia também foram pegos de surpresa e devem repassar o aumento dos custos para os consumidores em breve, afirma a Abrasel-SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).