Alguns setores, de resto rotineiramente reacionários – ainda que com um enjoativo glacê “esquerdista”, característico do PT e assemelhados -, têm feito algum barulho em torno da condecoração, concedida pelo governador Márcio França, de São Paulo, à cabo Kátia da Silva Sastre, da PM paulista.
Vamos aos fatos – que o leitor poderá conferir no vídeo abaixo.
Kátia levava sua filha de sete anos, na manhã do sábado, dia 12, para uma festa de Dia das Mães em sua escola, localizada no Jardim dos Ipês, bairro de Suzano, cidade da região metropolitana de São Paulo.
A cabo da PM, que tem 42 anos, não estava de serviço. Mantinha uma arma em sua bolsa por motivos que são óbvios – pelo menos 500 policiais foram assassinados, no ano passado, em todo o país, a maioria quando estava fora de serviço (para uma estatística até 2016, v. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2017, pp. 22, 23 e 24).
O elemento que apareceu, brandindo uma arma para mulheres e crianças, à luz do dia, não aparentando respeitar qualquer limite, chamava-se Elivelton Neves Moreira, e, soube-se depois, tinha antecedentes como chefe de uma quadrilha e como covarde: no ano passado, matou e incendiou um aposentado, Renato Brígido, na cidade de Poá, para roubar o seu carro.
Porém, é claro, quando ele apareceu diante das mães e crianças, na véspera do Dia das Mães, na escola de sua filha, Kátia não sabia de quem se tratava, exceto que era um assaltante que agitava uma arma, colocando em risco a vida, a integridade física, de gente completamente indefesa.
A reação de Kátia, de atirar três vezes em cima do bandido, como se pode ver no vídeo, não é reflexa, sem pensamento. Pelo contrário, tem os sinais de um ato consciente, calculado para proteger as vítimas, inclusive a si mesma e à sua filha.
Aqui, não é possível subestimar qual teria sido a reação do bandido se Kátia permitisse ser assaltada – portanto, ser descoberta como policial militar, ainda por cima com uma arma na bolsa.
Não houve excesso na reação de Kátia. Depois que o assaltante caiu no chão, ela não continuou a atirar. Ao contrário, ele foi desarmado e encaminhado à Santa Casa da cidade, onde faleceu.
Segundo a Polícia Militar, a cabo Kátia seguiu rigorosamente o procedimento operacional padrão (POP). Na avaliação da corporação, ela agiu corretamente para evitar o crime, sem colocar em risco quem estava perto.
A PM, que tem mais de 20 anos de profissão, disse que agiu com base nos treinamentos: “Minha preocupação foi que minha intervenção fosse mais próxima a ele. Cessar a agressão dele de forma que não machucasse ninguém”.
Na manhã do domingo, Dia das Mães, o governador Márcio França (PSB) condecorou a cabo Kátia e entregou flores a ela, em cerimônia no Comando de Policiamento da Área Metropolitana-4, na Vila Esperança, zona leste da capital.
Segundo o governador, o evento era para “cumprimentar a destreza, a técnica e a coragem” da cabo. “A gente não pode deixar de enaltecer toda a técnica que você usou nesse episódio, da maneira rápida que você agiu e, ao mesmo tempo, a coragem que você teve, porque poderia simplesmente se omitir naquela situação, pois estava de folga, à paisana”, disse França.
Agradecendo à homenagem, a cabo Kátia disse que “a gente é preparada para isso. Temos treinamento, temos que pensar muito rápido. É para isto que estamos nessa profissão: para defender vidas. Foi isso que fiz”.
Estes são os fatos. Ela foi condecorada, como disse o governador, por sua “coragem. A cabo Kátia agiu por dois importantes motivos: em defesa da sociedade e de sua filha, de sua família”.
Portanto, ela agiu de forma adequada e mereceu a condecoração.
Alguns levantaram que o governador não deveria ter condecorado a cabo, porque ela somente cumpriu com seu dever.
Mas é exatamente por cumprir com o seu dever que as pessoas fazem jus à condecorações. Um soldado que foi condecorado por se destacar em uma batalha contra os nazistas, também nada mais fez que cumprir com o seu dever. Pretender que o cumprimento do dever seja um motivo para impedir que o cidadão, ou cidadã, receba homenagens por seus atos, quando essas homenagens são merecidas, é, no mínimo, uma posição que, por esdrúxula, revela intimidação diante da histeria dos que confundem marginais com trabalhadores.
Entretanto, o lumpesinato – essa “banda podre” – é constituído pelos que se esmagaram a ponto de desistir de ser trabalhadores, degenerando na marginalidade. O fato de serem pobres – quando o são – apenas enfatiza mais a sua degeneração. A maioria esmagadora dos pobres, evidentemente, não assalta, não rouba, não vive transgredindo a lei.
Por isso, não é possível usar as deploráveis condições sociais do país, ou os preconceitos raciais que existem, para transformar o assaltante em vítima da policial.
O que queriam que ela fizesse? Que deixasse um assaltante, claramente descontrolado, fazer vítimas entre mulheres e crianças? Ou que ela esperasse a melhora das condições sociais, assistindo a um assalto, e, possivelmente, a assassinatos, inclusive ao seu?
É sintomático que tal barulho apareça quando uma policial agiu corretamente – e com resultado evidentemente positivo.
Embora, é compreensível que ladrões do dinheiro público, ou defensores de ladrões do dinheiro público, se sintam mais identificados com o assaltante do que com a polícia.
Temos, então, duas espécies de reacionário:
1) aquele que, no mínimo, compactua com a devastação do país – e depois berra para que a polícia mande bala nos pobres;
2) aquele que, no mínimo, mas sob uma capa “de esquerda”, compactua com a devastação do país – e depois berra para que a polícia nada faça, até morra, diante dos marginais produzidos por aquela devastação.
Nesse sentido, também parece adequada a reação do governador de São Paulo: “o rapaz morreu, não é o ideal. A gente gostaria que as pessoas não morressem”.
C.L.
Qual a posição do HP em relação ao porte e posse de armas? E quanto à política de drogas? Também gostaria de me informar mais sobre o lumpesinato. Sugestões de leituras?
Valeu.