Representantes das indústrias de óleos vegetais, de queijos, de eletro eletrônicos e produtores de etanol criticam a decisão do governo que beneficia produtores estrangeiros a pretexto de combater a inflação
Representantes da indústria brasileira avaliam como prejudicial para cadeia de produção nacional a decisão de Bolsonaro, anunciada na segunda-feira (21), de zerar as alíquotas de importações a pretexto de diminuir a inflação no Brasil. Segundo o governo ficam isentos da tarifa de importação o etanol e seis itens da cesta básica – café, queijo, margarina, macarrão, açúcar cristal e óleo de soja – até 31 de dezembro deste ano.
Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) afirmou que a medida do governo de zerar o imposto de importação do óleo de cozinha até o fim do ano “não deve resultar em queda de preços nas prateleiras, já que não há falta de óleo de soja no mercado interno e os preços estão alinhados com a paridade internacional. Segundo as últimas projeções da Abiove, “a produção de óleo de soja para a atual safra deve ficar na casa das 9,7 milhões de toneladas, volume superior ao registrado no ciclo anterior”.
PARA ABIQ, MEDIDA AFETARÁ AINDA MAIS O PAÍS
A Associação Brasileira das Indústrias do Queijo (Abiq) considerou que a ação do governo “certamente vai afetar toda a cadeia de produção no Brasil, desde os produtores de leite, distribuidores e indústrias que temos”. “No caso do queijo entrará mais a questão da mussarela, mas não vai chegar a curto prazo para o consumidor não. A crise já está afetando todos, mas essa medida afetará mais ainda o país”, declarou ao G1 o presidente da Abiq, Fábio Scarcelli.
Já Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) destacou que “para as indústrias de café, a medida do governo em zerar o pagamento de impostos para a entrada de café no Brasil é muito preocupante”. “A indústria nacional seguirá pagando seus impostos enquanto a sua comercialização e os insumos da cadeia cafeeira continuarão sendo cotadas internacionalmente pelas bolsas de Nova York e de Londres. Isso faz com que tenhamos todos os cuidados para que o princípio da isonomia comercial não seja desalinhado”, disse o diretor executivo da Abic, Celírio Inácio.
Hoje, as alíquotas de importação em vigor para esses produtos variam entre 9% (café e óleo de soja) e 28% (queijo).
FÓRUM NACIONAL SUCROENERGÉTICO: ISENÇÃO ZERO PARA ETANOL SÓ FAVORECE OS EUA
Além de zerar as alíquotas de importações de itens da cesta básica, o governo Bolsonaro zerou o imposto de importação do etanol até 31 de dezembro deste ano, favorecendo as importações do biocombustível norte-americano.
Em nota, o Fórum Nacional Sucroenergético, que representa a agroindústria produtora de etanol e açúcar em 15 Estados, manifestou-se “contrariamente à medida de isenção de tarifa de importação do etanol, oriundo do exterior e notadamente dos Estados Unidos, sem que haja a devida contrapartida para nossas exportações de açúcar, cuja importação é fortemente taxada pelos americanos”.
A entidade destacou que nos EUA é usado o milho na produção do etanol, ao contrário do Brasil. “Vale lembrar que nesse momento se inicia a safra de cana-de-açúcar na maior região produtora do Brasil, com decorrente aumento na oferta de etanol para o mercado interno. A entrada de produto estrangeiro pode afetar o planejamento das unidades de produção”, afirmou o Fórum Nacional Sucroenergético.
Para especialista do setor, a medida não trará nenhuma redução para os consumidores.
Segundo o doutor em economia agrícola e membro do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) Plínio Nastari, a arbitragem de importação do preço do etanol internacional contra o brasileiro, mesmo com o imposto zerado, segue entre 8% e 10% a favor do produto brasileiro. O que significa, que mesmo sem a incidência do Imposto de Importação, o etanol de fora é mais caro que o produzido no Brasil.
Nastari também lembra que o imposto de exportação sobre o etanol dos EUA se dava em contrapartida pela taxação do açúcar brasileiro no mercado estadunidense. Além disso, ele destaca que o preço do etanol brasileiro tende a cair naturalmente porque a safra de cana começa em 10 dias.
Por outro lado, Nastari destaca que “tem o início da demanda de verão nos Estados Unidos, aumenta o consumo de gasolina e os preços sobem, com o aumento da gasolina, o preço do etanol também sobe. Além do efeito da guerra da Ucrânia (nos preços de combustíveis), tem um fator sazonal que é o período de verão dos EUA”, acrescentou.
O governo federal também vai reduzir em 10% o imposto de importação sobre produtos como celulares, computadores e máquinas usadas em indústrias, conhecidas como bens de capital, o que novamente irritou a indústria local.
ABINEE: DECISÃO ESTÁ NA CONTRAMÃO DO MUNDO
A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) afirma que o setor eletroeletrônico foi “mais uma vez surpreendido com a redução em 10%”. Os dois segmentos foram os primeiros a serem atingidos pela medida em março de 2021.
“Essa decisão, anunciada outra vez de forma intempestiva, quebra a confiança no diálogo e aumenta a insegurança jurídica, o que afeta qualquer intenção de investimento e de reindustrialização no País”, declarou o presidente da Abinee, Humberto Barbato.
Para Barbato, a decisão também vai na contramão dos movimentos de países como os EUA e diversos da Europa, que estão promovendo medidas para a atração de investimentos produtivos, principalmente os voltados a alta tecnologia.
A produção da indústria elétrica e eletrônica, conforme dados do IBGE agregados pela Abinee, recuou 2,8% no mês de janeiro de 2022 ao comparar com o mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal.