Após o vazamento de áudios que indicam a atuação de um gabinete paralelo formado por pastores dentro do Ministério da Educação (MEC) e que atuam diretamente com o ministro, as entidades estudantis UMES-SP, UNE, UBES e ANPG exigiram a imediata saída de Milton Ribeiro do cargo.
A União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES-SP), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) emitiram notas contra os desmandos do ministro da educação e do MEC, que admitiram beneficiar amigos de determinados pastores na liberação de verbas públicas do Ministério, atendendo ordem direta de Jair Bolsonaro.
Para a UMES-SP, “o esquema criminoso que foi organizado no MEC interfere diretamente na vida de milhões de estudantes. É urgente a saída do ministro bolsonarista que atua contra o desenvolvimento da Educação brasileira e em benefício das negociatas e da corrupção”.
O diretor da entidade, Lucca Gidra, relembra que o governo Bolsonaro tenta fazer do MEC um balcão de negócios. “Em um momento que precisamos recuperar o tempo perdido ele vem transformando a pasta da educação num balcão de negócios e conchavos políticos. A educação só interessa ao governo Bolsonaro se for para fazer negociata, se for pra fazer como ele mesmo diz: o ‘toma lá dá cá’”, disse.
“O que fez e faz Bolsonaro e Milton Ribeiro já seria horrível em qualquer época, mas é ainda mais grave no momento atual. Mostra mais uma vez qual é a real preocupação do governo num dos momentos mais críticos da educação, num momento onde os estudantes ficaram dois anos fora da sala de aula, em que a evasão escolar e o déficit educacional aumentaram tanto”, disse Lucca Gidra, diretor da UMES.
BALCÃO DE NEGÓCIOS DE BOLSONARO
Em nota conjunta, a UNE, UBES e a ANPG classificaram como estarrecedora’ a gravação em que o ministro Milton Ribeiro fez para favorecer os pastores a mando de Bolsonaro.
“A UNE, UBES e ANPG vêm a público manifestar indignação com as estarrecedoras gravações em que o ministro da Educação admite, de viva voz, beneficiar amigos de determinados pastores na liberação de verbas públicas do MEC, atendendo ordem direta do próprio presidente da República. Trata-se do funcionamento de um gabinete paralelo, funcionando às margens da legalidade e sob critérios políticos e ideológicos nada republicanos”, afirmam.
As entidades afirmam que o que se configurou no MEC como um ‘grande balcão de negócios’ a serviço de esquemas eleitorais do presidente.
“No momento em que vivemos a maior crise da educação brasileira, quando milhares de jovens evadem das escolas e universidades e pós-graduandos padecem com 9 anos de bolsas congeladas, realidade que exigiria do Ministro um grande esforço para reverter esse cenário, vimos o ministério ser transformado num grande balcão de negócios a céu aberto para alimentar esquemas eleitorais do presidente”, dizem as entidades.
As organizações dos estudantes repudiaram o que chamam de ‘negociata’, cobram transparência e pedem a saída de Milton Ribeiro do Ministério da Educação.
“Por isso, a UNE, UBES e ANPG repudiam a negociata em curso e exigem transparência, impessoalidade e projeto amplamente discutido com a sociedade para a utilização dos recursos do cidadão brasileiro. A Educação precisa ser pilar para a reconstrução nacional e de geração de oportunidades para nossa juventude”.
“Se antes, por não lutar por avanços na educação brasileira, já não reunia condições de seguir à frente do MEC, diante deste escândalo, o ministro perdeu todas as condições de permanecer no cargo. É imperioso que o Congresso Nacional, em sua atividade de fiscalização do Executivo, e o Ministério Público Federal e autoridades judiciárias tomem providências para cessar esse descalabro”, concluíram.
ACUSAÇÕES
As denúncias começaram a vir à tona na última sexta-feira (18) com uma reportagem publicada pelo Estadão. O texto aponta a existência de um “gabinete paralelo” no MEC formado por pastores, que controlaria a distribuição da verba e a agenda do ministério. Os pastores da Assembleia de Deus, Gilmar Santos e Arilton Moura, foram apontados como parte do esquema.
Na noite da última segunda-feira (21) a crise no MEC escalou com a publicação de uma nova reportagem, desta vez pela Folha. O jornal obteve um áudio em que Milton Ribeiro admite, em reunião, que favorece amigos de pastores por indicação de Jair Bolsonaro.
O nome de Gilmar Santos aparece novamente. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar. Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, afirma Ribeiro na gravação.