O candidato a presidente da República do PDT, Ciro Gomes, afirmou que “qualquer pesquisa que comece colocando o ex-presidente Lula no universo pesquisado vai deformar tudo o mais. Enquanto não houver a possibilidade de se comparar aqueles que vão se apresentar na disputa eleitoral, as pesquisas vão continuar sendo apenas um retrato do momento”.
“Porque é pacífico, entre todos que estudamos Direito, que a Lei da Ficha Limpa o impedirá de ser candidato. E enquanto isso não for resolvido, uma das principais, senão a principal força do campo progressista, fica paralisada. E isso deforma tudo o mais”, afirmou Ciro à BBC Brasil, durante evento realizado na Câmara de Comércio Brasileira em Estocolmo, na Suécia (BrazilCham).
O candidato pedetista disse que a insistência do PT com a candidatura de Lula segue uma “lógica perigosa”. “Estão repetindo a ideia de que vão manter a candidatura de Lula, não sei até que limite. Essa lógica que eles adotaram é perigosa. E evidentemente, conhecendo a vida como eu conheço, tenho sentido a minha responsabilidade crescendo muito. E tenho conversado com todo mundo. Com o PSB, com o PCdoB e com frações ou corpos inteiros de outros movimentos ao centro e à direita”, disse o pedetista.
Ciro também considerou “um equívoco grosseiro” a palavra de ordem “Eleição sem Lula é fraude”, adotada pelos petistas. “Porque as eleições são a única saída através da qual o Brasil pode se livrar de uma agenda que nos foi imposta pelo golpe, que é uma agenda extraordinariamente amarga – anti-pobre, anti-povo e anti-interesse nacional. E a única forma que nós temos de não permitir que essa agenda seja legitimada pelo voto popular é apostar todas as fichas na eleição. De maneira que me parece um equívoco bastante perigoso insistir numa tese que não se sustenta à luz da realidade do país”.
Para Ciro Gomes, o PT admite que Lula é culpado ao propor que os candidatos se comprometam a conceder um indulto a ele. Para Ciro, prometer um indulto seria “uma loucura”. “Se eu prometesse indulto a Lula, eu estaria agindo contra ele, que é meu amigo há mais de 30 anos”, disse o pedetista em resposta à pergunta de um brasileiro que assistia sua palestra. “Indulto é apenas para aqueles que já foram condenados em todas as instâncias. E Lula ainda está recorrendo da decisão que o condenou. Portanto, se eu disser que daria indulto a Lula caso for eleito, Lula poderia me mandar para a puta que pariu”.
O candidato reagiu às críticas às alianças costuradas por ele. “Ninguém vai me patrulhar. Eu sou o que sou. E não será ninguém que já praticou coisas muito opostas aos meus valores que vai me impedir de fazer a unidade do país, tanto quanto eu a consiga”, ressaltou. “Minha viabilidade é tanta porque eu sou percebido também como uma pessoa que sai do gueto da esquerda e que frequenta o ambiente da produção, do empresariado nacional brasileiro, que sofre também muito gravemente as consequências do descalabro tanto cambial como de juros e fiscal do país. E o que proponho são alternativas viáveis e concretas para um país de dificuldades políticas tão extraordinárias como o nosso”, respondeu o pedetista. As críticas, principalmente do PT, surgiram após a possibilidade dele ter um vice do PP, com a filiação ao partido pepista do empresário Benjamin Steinbruch, vice-presidente da Fiesp, presidente do Grupo Vicunha Têxtil e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
Segundo Ciro, um acordo do petismo em torno da sua candidatura no primeiro turno é improvável. “Não é provável que isso aconteça ao redor do meu nome, e nem ao redor de ninguém já no primeiro turno. O PT precisa de tempo para amadurecer esse trauma extraordinário que é ter seu principal líder preso e inelegível por uma lei que eles próprios puseram em vigor”, disse Ciro, em uma referência à Lei da Ficha Limpa.