O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o indicado por Jair Bolsonaro (PL) para presidir a Petrobrás, o lobista Adriano Pires, faz parte de um pequeno grupo de personalidades brasileiras “que não aceitam que o petróleo é nosso”, além de ser ligado às empresas estrangeiras.
“Em duas notícias que li hoje, vi que ele é lobista e que está muito mais ligado às empresas estrangeiras [de petróleo] do que às nossas. Ele faz parte de um seleto grupo de pessoas que não aceitam o discurso de que o petróleo é nosso”, afirmou o ex-presidente.
Na segunda-feira (28), Bolsonaro decidiu retirar o general Joaquim Silva e Luna da presidência da estatal.
Pires, que deverá substituir o general no cargo, é fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), uma empresa de Consultoria e Informação especializada nos serviços de Inteligência Regulatória e Gestão de Negócios no setor de infraestrutura, conhecida por defender os interesses das múltis do petróleo.
“[Ele faz parte] dessa gente que não sabe governar. Ao invés de ter criatividade para fazer coisas que ainda não existem, querem vender tudo o que tem. Vão vendendo e depois que acabar vão ver o que fazer”, acrescentou Lula sobre a indicação.
Pré-candidato do PT à presidência da República, Lula participou nesta terça-feira (28) de um debate no Rio de Janeiro sobre preço dos combustíveis, que foi organizado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP).
Também participaram do evento a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, o ex-presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, O ex-diretor da Petrobrás, Guilherme Estrella, o pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro, deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), o ex-senador Lindbergh Farias (PT-RJ), integrantes da FUP e sindicalistas.
O petista afirmou que é preciso desmascarar os que defendem a privatização da empresa e ampliar o discurso para além do âmbito da estatal e explicar de forma didática à população brasileira “o significado do que está acontecendo com a destruição da Petrobrás”.
“Nós precisamos fazer um movimento efetivamente nacional. Se a gente pegar o discurso dos companheiros, tem conteúdo muito forte para criar uma indignação na sociedade brasileira”, disse.
“A Petrobrás tem que se transformar em uma briga nacional. É preciso construir o discurso para que a pessoa que está cozinhando com lenha perceba que a briga é dela, que o cara que tem carro e não tira da garagem perceba que a luta é dele e que o caminhoneiro que não consegue pagar diesel perceba que a briga é dele”, reforçou.
Lula defendeu ainda que haja mudanças na política de preços da Petrobrás e que o lucro seja repartido “com o povo brasileiro”. “Uma empresa do porte da Petrobrás precisa ter lucro. Eu nunca defendi que ela fosse deficitária. Mas é preciso repartir esse lucro com quem é responsável por ela que é o povo brasileiro”, disse.
“Durante todos estes anos, foi contada uma narrativa para o povo brasileiro contra a Petrobrás, com mentiras e distorções, que precisa ser desmistificada. É preciso que o povo saiba a importância da Petrobrás, que o petróleo é nosso de verdade e quando o petróleo é nosso o gás é mais barato, o diesel é mais barato, a gasolina é mais barata, a nafta é mais barata… a Petrobrás tem que gerar lucro, mas esse lucro não pode ficar só nas mãos dos acionistas, tem que ser repartido com o povo brasileiro… tudo o que foi dito aqui precisa ser contado à população para que se crie uma indignação nacional sobre toda essa destruição que fizeram com a Petrobrás”, acrescentou.
A política de preços da Petrobrás, que adota o chamado PPI (Preço de Paridade Internacional), consiste na equiparação dos preços dos derivados de petróleo no mercado interno à média praticada no exterior. Com isso, o preço dos combustíveis é influenciado, sobretudo, pela cotação do dólar e pelo valor do barril no mercado internacional.
O ex-presidente também destacou que ter o controle da Petrobrás e garantir que ela atuará para desenvolver o país e não apenas produzir lucros para acionistas será fundamental para evitar a submissão do Brasil.
Sobre a relação entre petróleo e guerra, Lula disse acreditar que “todas as guerras desde 1960 foram causadas pela disputa por petróleo”, o que justificaria ainda mais a necessidade do controle do Estado nesta área, evitando que os combustíveis fiquem subordinados a mudanças em outros países.