O lobista de multinacionais do petróleo, indicado por Bolsonaro, será obrigado a divulgar a lista de clientes de sua “consultoria”. Ele já foi barrado para o cargo no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) pelo mesmo motivo
O Ministério Público (MP) no Tribunal de Contas da União (TCU) entrou na sexta-feira (1) com uma representação pela suspensão da nomeação de Adriano Pires para a presidência da Petrobrás até que se conclua investigação da CGU (Controladoria-Geral da União) e da Comissão de Ética sobre suspeita de conflito de interesse, devido à atuação dele como lobista de multinacionais.
A mudança no comando da Petrobrás ainda precisa ser confirmada pela assembleia-geral dos acionistas da estatal. A próxima reunião está marcada para 13 de abril. A estrutura de governança da Petrobras já prevê que todos os nomes indicados para a presidência e para compor o conselho da estatal passem por uma avaliação interna de integridade para verificar eventual conflito de interesses entre os indicados. Essa avaliação é feita antes da eleição na assembleia geral.
O TCU impediu recentemente que Adriano Pires assumisse um cargo no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), após sua nomeação pelo governo, exatamente pelo conflito de interesse entre sua atividade de lobista das multinacionais e o cargo. Ele se recusa a apresentar a lista de clientes de sua consultoria, o Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), mas expõe em seu portfólio os logotipos da Shell e da Chevron.
A divulgação da lista é necessária para a Petrobrás checar se há algum conflito de interesses entre a atuação do executivo até hoje e a posição de presidente da petroleira, segundo especialistas em governança corporativa e mercados de capitais. A peça, assinada pelo procurador Lucas Furtado, pede que Adriano Pires só seja nomeado após o fim da investigação.
O MP do TCU argumenta que a indicação de Pires foi “abrupta e sem prévia justificativa técnica”. Segundo o órgão, esse tipo de atitude “traz insegurança e fragilidade na governança da empresa estatal, acarretando consequências econômicas que podem ser nocivas à sua segurança financeira e operacional”.
O dirigente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Fernando Siqueira, afirmou em entrevista ao HP, que “Adriano Pires na Petrobrás é uma raposa peluda no galinheiro”. “O Adriano é um lobista do cartel do petróleo. Defende a privatização da Petrobrás, da Eletrobrás e a entrega de todo o patrimônio nacional”, destacou Siqueira. “Ele é professor do curso de mestrado e MBA da Coppe – UFRJ e batia de frente com seu diretor. Luiz Pinguelli Rosa, que era um nacionalista”, prossegue o ex-engenheiro da Petrobrás.
Também o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o indicado por Jair Bolsonaro (PL) para presidir a Petrobrás, faz parte de um pequeno grupo de personalidades brasileiras “que não aceitam que o petróleo é nosso”, além de ser ligado às empresas estrangeiras. “Em duas notícias que li hoje, vi que ele é lobista e que está muito mais ligado às empresas estrangeiras [de petróleo] do que às nossas. Ele faz parte de um seleto grupo de pessoas que não aceitam o discurso de que o petróleo é nosso”, afirmou o ex-presidente.
O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes também criticou a nomeação. “Mais uma vez o presidente da República, mentindo despudoradamente ao povo brasileiro, simula que está incomodado com a política que ele é o responsável, a política de preços da Petrobras”, disse Ciro.
Além de criticar a condução do presidente Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes questionou a capacidade do novo presidente da empresa, Adriano Pires. “E o desatino que está fazendo, nomeando um novo e desqualificado quadro, cuja única tarefa, lobista que é, é preparar a Petrobras para a morte final que é a privatização”, comentou.
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