O premiê húngaro afirmou que “substituir gás russo barato por gás americano caro é proposta absurda”
Apesar da gritaria em Bruxelas contra o pagamento do gás russo em rublos, a voz da razão começa a falar mais alto e Eslováquia, Hungria e Moldávia já confirmaram sua adesão ao novo procedimento instituído por decreto do presidente Vladimir Putin.
“As entregas de gás não podem ser paradas. Por isso eu digo que, embora para alguns isso possa ser uma posição pragmática demais, se existe a condição de pagar em rublos, então pagaremos em rublos”, afirmou o ministro da economia da Eslováquia, Richard Sulik.
O ministro relembrou que a Eslováquia compra na Rússia aproximadamente 85% do gás que necessita. Apesar de apoiar a ideia da diversificação dos fornecimentos de gás em voga na União Europeia, Sulik advertiu que o processo levará “vários anos” para ser completado. Já para resolver a situação atual do gás, ele considerou que só restam “seis semanas”.
Por sua vez, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, afirmou que “substituir o gás russo barato pelo gás americano caro é uma proposta absurda”.
“Não é que vamos vestir um suéter extra à noite e diminuir um pouco o aquecimento ou pagar alguns florins a mais pelo gás. O fato é que se o fornecimento de energia não vier da Rússia, não haverá energia na Hungria”, enfatizou Orban.
Ele observou que 85% do suprimento de gás da Hungria e 64% do petróleo do país vêm da Rússia, e que a geografia limita a capacidade de Budapeste de diversificar suas fontes de energia.
A Moldávia revelou que seu contrato com a Gazprom já prevê o pagamento em rublos.
SEM MISTÉRIO
Na verdade, não há nada de difícil ou complicado com o novo mecanismo de pagamento e para ter o gás russo, a Europa só precisa enviar seus euros para uma conta em um banco russo [que não esteja desligado do sistema ocidental SWIFT] dentro da Rússia.
Não se trata que Moscou tenha passado a exigir exatamente o pagamento direto do gás russo em rublos, mas sim que esse pagamento seja feito ao Gazprombank na Rússia, em euros (ou dólares, se for o caso), e não em uma conta Gazprom em qualquer instituição bancária nos países que estão sancionando a Rússia.
É disso que trata a exigência de que o cliente abra duas contas, uma em rublos, outra em euros (ou dólares) no Gazprombank em jurisdição russa.
O Gazprombank se encarregará de vender na Bolsa de Valores de Moscou a moeda estrangeira depositada pelo cliente do ‘país hostil’ e creditará os rublos apurados na conta em rublos do comprador de gás.
Note-se que o novo procedimento não viola de forma alguma os contratos existentes.
PULO DO GATO
É o pulo do gato: dessa forma, não há como os súditos de Washington sequestrarem os pagamentos do gás russo, como iria ocorrer caso fossem realizados nas contas da Gazprom na Europa e, assim, instantaneamente congelados, sob as “sanções do inferno” impostas por Washington e acatadas pelo bloco europeu e outros vassalos.
Ou, como observou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, “sem rublos, sem gás”: a Rússia “não fará caridade”.
Sob as sanções, na prática, como denunciou Putin, os países sancionadores estavam recebendo gás russo de graça. Ele declarou que a Rússia considerará a rejeição de pagar em rublos pelos contratos de gás a partir de agora um incumprimento dos compromissos pelos “países hostis”.
Peskov esclareceu que a Rússia não está sendo intransigente, nem mesmo com os países sancionadores, já que o fluxo de gás não será cortado instantaneamente.
TRANSIÇÃO
Haverá um período de transição para o novo mecanismo que vai da segunda quinzena de abril ao início de maio. Na sexta-feira, a Gazprom enviou à União Europeia, Japão e EUA todos os esclarecimentos sobre o novo procedimento.
Inclusive, no caso da Alemanha, atendendo a pedido do primeiro-ministro Olaf Scholz, o próprio gabinete de Putin enviou por escrito os esclarecimentos.
Assim, as maiores economias europeias só irão se estrangular em termos de fornecimento de energia, de sujeitar sua população à carestia e aumento da pobreza e de correr risco de grave recessão por uma decisão de cunho próprio e completo acoelhamento a Washington e sua tentativa de impor à Rússia a anexação da Ucrânia à Otan.
Observe-se ainda que, mesmo com os países amigos, como a Índia e o Irã, a Rússia vem discutindo a implantação de pagamento nas moedas locais de seu intercâmbio comercial, o que inclui o gás e o petróleo.