Parlamentares e jornalistas não perdoam o “fritador de hambúrguer”. “Esse tipo de comentário reflete o que é essa família”, disse Randolfe. Manuela D´Ávila destacou que, com essa fala, “ele debocha do Brasil e de nossas instituições”
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) debochou da tortura sofrida pela jornalista Miriam Leitão durante a ditadura militar. “Ainda com pena da cobra”, provocou ele, em seu Twitter, no domingo (3), ao responder a um artigo da jornalista intitulado “Única via possível é a democracia”, em que ela constata que a defesa da ditadura feita por Jair Bolsonaro o transformava em um “inimigo confesso da democracia”.
ATAQUES À DEMOCRACIA
O “02”, apelidado de “Dudu bananinha” pelo vice-presidente Hamilton Mourão, achou que devia sair reforçando o golpismo do “papai” e atacou covardemente a jornalista. A cobra em questão, citada pelo deputado, se deve a relatos feitos por Miriam, de que durante a ditadura militar, foi presa, agredida e torturada. Ela relatou que durante as sessões de tortura foi obrigada pelos agentes da repressão a passar horas trancada em uma sala com uma jiboia. À época, ela estava grávida de 1 mês.
O relato em detalhes foi feito em 2014. Miriam Leitão contou que, dois dias depois de ser presa e levada para o quartel do Exército em Vila Velha, no Espírito Santo, ela foi retirada da cela e escoltada para o pátio. Miriam estava grávida. Teve que ficar nua na frente de uma tropa. Seu suplício, iniciado no dia 4 de dezembro de 1972, até ali já incluía tapas, chutes, golpes que abriram a sua cabeça e depois a ameaça com a cobra numa cela fria e estreita.
A fala covarde, bem ao estilo miliciano do “02”, gerou indignação nos meios políticos e vários deputados se solidarizaram com a jornalista. “Esse comentário é nojento, covarde e asqueroso, o que reflete o que é essa família. Está chegando a hora de mandar esses bichos escrotos de volta para o esgoto. Minha solidariedade à Miriam Leitão”, declarou Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado.
LULA PRESTA SOLIDARIEDADE À JORNALISTA
O ex-presidente Lula também criticou as ofensas de Eduardo Bolsonaro à Miriam e se solidarizou com a jornalista. “Minha solidariedade à jornalista Miriam Leitão, vítima de ataques daqueles que defendem o indefensável: as torturas e os assassinatos praticados pela ditadura. Seres humanos não precisam concordar entre si, mas comemorar o sofrimento alheio é perder de vez a humanidade”, escreveu o ex-presidente.
A jornalista respondeu: “Obrigada Lula por essa mensagem de solidariedade, que reforça valores fundamentais na democracia: o respeito entre pessoas, mesmo quando divergem, e a empatia que deve prevalecer entre seres humanos.”. O filho de Miriam, Matheus Leitão, autor de um livro sobre a repressão à sua mãe, também agradeceu. “Presidente, muito obrigado. Como filho, me emociono. Sua voz branda e firme é muito importante para o país nesse momento”, disse.
Alessandro Molon (PSB-RJ) classificou o deputado como um “monstro”. A ex-deputada Manuela D’Ávila afirmou “que ele debocha do Brasil e de nossas instituições”. A professora Dayane Pimentel, deputada federal (União Brasil-BA), escreveu que Miriam Leitão pode ter escolhas políticas diferentes das suas, mas isso é porque temos democracia. “Mas Eduardo Bolsonaro ameaçar, xingar e desrespeitar a mim, a ela ou a qualquer outra mulher só mostra o vil que é. Família Bolsonaro é perseguidora de quem não se curva”, escreveu a parlamentar.
Jornalistas dos mais diferentes veículos e economistas também se pronunciaram a respeito da agressão do filho do presidente. “Durante a ditadura militar, usaram uma cobra para torturar a Miriam Leitão, que estava grávida. Hoje, essa figura nojenta publicou isso”, protestou o economista Sérgio Goldenstein.
EIDTORIAL QUALIFICOU AGRESSÃO COMO REPUGNANTE
Em editorial, O Globo de domingo (3) classificou como “repugnante” o ataque de Eduardo Bolsonaro. “A manifestação do deputado deve ser repudiada com toda a veemência. A postura do parlamentar é incompatível com o cargo, mas sobretudo com a decência e o respeito humanos”, diz o texto.
Deputados acionaram o Conselho de Ética da Câmara contra o filho do presidente. A representação será apresentada por políticos do PSOL, PCdoB e do PT. A bancada do PSOL na Câmara pedirá a cassação de Eduardo Bolsonaro, informou o presidente nacional do partido, Juliano Medeiros.
A fala é típica de um miliciano. O mesmo tipo de fala que ele fez em 2018 quando afirmou que bastaria um cabo e um soldado para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele também já defendeu, no ano de 2019, a volta de um “novo AI-5”, principal instrumento da repressão durante a ditadura. Seu pai e ele até que tentaram dar um golpe, no Sete de Setembro do ano passado, mas acabaram desmoralizados, sendo “socorridos” de última hora por Michel Temer que redigiu uma carta pedindo desculpas em nome do Planalto pela lambança e os ataques aos ministros do STF.
De lá para cá, “bananinha” não fez muita coisa que chamasse a atenção em sua carreira política a não ser tentar atrapalhar as relações do Brasil com a China, agredir ministros do STF, puxar o saco de agentes da CIA que visitaram o Planalto, aparecer segurando armas de grosso calibre – aliás um dos motivos de sua fixação em jiboia – e tentar ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Neste último pleito ele estava munido com seu currículo de fritador de hambúrguer numa lanchonete americana, mas nem essa nomeação ele conseguiu. Foi barrado pelo Congresso. Sua frustração se converteu em ataques e baixarias para todo lado, como esta última contra Miriam Leitão.